é alguns números menor
do que o meu tamanho
Me emprestaram
e eu não devolvi
e eu não devolvi
Ele entra;
Nas fotos parece perfeito
Pessoalmente, não me cai tão bem...
Ele fica repuxando
Me enforca, mesmo;
Quando eu ando ele sobe
É muito apertado
Na barriga
Minhas coxas ficam perigosamente à mostra
Qualquer ventinho mostra minha bunda
Minha avó até perguntou
Cíntia,
Você está sem calcinha?
Eu fico desconfortável no vestido
Como uma pessoa que está dentro
de algo que não é seu
Roubei o vestido, não é meu
Eu posso esticá-lo,
posso cortá-lo
E transformá-lo
Mas não seria a mesma coisa
Eu o estragaria
O desbotaria
Desalinharia suas fibras
Arriscaria perder
A essência
Escolho, então, a indecência
Andando por aí com a bunda de fora
Dia desses, entre juras de amor,
meu bem me disse:
"O pronome possessivo
cai tão bem sobre você!
Veste como aquele seu vestido
vermelho: minha!"
"Muito sua!", respondi
Não disse mentira
É o mais próximo da verdade que se chega
Ainda assim, senti a inquietação
No meu estômago
E um nó na garganta
Me sufocando tal qual o vestido
Esse pronome
Vindo da boca dele
Entra em mim
Mas não me cai bem
Me emprestaram
Esse Homem
E dessa vez eu vou ter que devolver
O que me foi emprestado
Nem eu sou tão indecente!
Ele engatou, numa voz de sono,
Já sumindo
"Para de falar isso...
Nisso eu acredito que sou seu dono,
e as coisas podem ficar mais complicadas"
Reafirmei:
"Você é!"
Ele dormiu
Eu não dormi
Eu posso esticar,
Prolongar,
Posso me enganar
Para manter a ilusão;
Perderíamos a essência.