quinta-feira, 15 de novembro de 2018

domingo, 11 de novembro de 2018

previsão

Minha mãe me disse
Um dia você vai ser como eu
Sozinha
Com um monte de filhos
Vai saber o que é sofrer
Você vai me entender

Eu tinha dez anos
Coisa estranha de se dizer

Passei a vida fugindo
Da sina
Do destino
Da repetição

Eu não queria ser ela

Sempre fui sozinha
Especialmente quando me via acompanhada

Não tive filhos
Mas descobri o que é sofrer

Aos vinte o entendimento veio
De forma súbita

Não justifica.

28. Estou salva.
Sou diferente.

Até que ele apareceu,
Me fez como ela

Me fez ser a outra
Assistindo a intimidade
De fora

Intocada.

Me fez ser a outra
Como minha mãe

Ele me fez cair
Ele completou o meu destino

terça-feira, 6 de novembro de 2018

quando eu lembro do seu pau

Você esteve aqui, faz tanto tempo
... Quase 730 dias se passaram

Eu mudei de quarto duas vezes
Comprei novos lençóis
Troquei meu perfume,
Minhas roupas mudaram.

Minha voz saiu
Meus olhos se tornaram menos duros

Outras pessoas surgiram

Mas você...

Você nunca se foi realmente
Nunca saiu 

de dentro

Você mudou também?

Sei que você jogou todos os seus cachos fora

Mas e a sua voz, continua solta? Continua safada? Continua iludindo?
Será que os mesmos tênis ainda calçam seus pés?
Será que o seu pau continua macio?

Minha boca saliva

Eu penso nessas coisas
Quando as pessoas chegam e vão
E
Às vezes me dizem adeus, 
Mas na maioria das vezes não...

É na ausência do adeus que a lembrança de você mora
A sua ausência
Mesmo antes do adeus que nunca me deu

Se você tivesse me dado um adeus
Talvez eu não pensasse

Se

Você trocou de sabonete
Você ainda pensa no meu nome
Ou no meu cheiro de sorvete de morango
De vez em quando
Assim, distraidamente

Se você se arrepende

Será que você sente falta de me foder ao som de Freak, seu filho da puta?

sábado, 3 de novembro de 2018

a bunda

   Muito da imagem que nós, mulheres, temos de nós mesmas, é distorcida. São tantos comentários maldosos, tantas pessoas apontando o que consideram "errado" no nosso corpo, jogando na nossa cara ideais de COMO um corpo feminino DEVE ser, que a nossa visão fica focada em detalhes irrelevantes. Nos torturamos de tal maneira, que fica muito difícil conhecermos a nós mesmas, nos vermos como REALMENTE somos. 
   Nós ficamos nesse círculo vicioso porque somos ensinadas não apenas a odiar nossos próprios corpos, mas os corpos umas das outras, seja por medo ou por desejo de SER IGUAL. Nos ensinam que somos rivais. Até irmãs, ou mãe e filha. 
   Eu cresci com uma visão distorcida de mim mesma, a ponto de não me me reconhecer no espelho, porque fui ensinada a me ver de forma negativa por pessoas igualmente inseguras. 
Minha mãe nunca poupou críticas ao meu corpo, nem quando eu era pré-adolescente, e nem agora. Não faz muito tempo que ela me disse: "você é uma gorda *estranha*. Geralmente gordas têm quadril largo, bundão, peitão. Você não tem peito nem bunda, só barriga". Por muito tempo o meu pensamento foi esse: "sou uma mulher errada, uma gorda errada!". Ela repete este comentário com frequência e naturalidade, e se gaba de ter uma bunda maior do que a minha.
   Quando elogiam minha bunda eu penso no que a minha mãe diz, é inevitável. Me sinto como se estivesse fazendo propaganda enganosa e me vejo reafirmando, automaticamente, que não é tão grande quanto parece. Que é diferente em diferentes ângulos. Que tem marcas, tanto de celulite quanto da cadeira, que tem manchas. 
   Já chega! Nós temos que assimilar o fato de que isso é normal. Ter manchas e celulite é normal. O corpo tem diferentes formas em diferentes ângulos! ISSO é normal! O que não é normal é deixar de transar por medo de alguém ver seu corpo, ou não se olhar no espelho por desprezar a si mesma. O que não é normal é deixar de ir à praia, deixar de se divertir, por medo de ser julgada por características DO CORPO HUMANO. O que não é normal é tentar forçar em si mesma ou em outra mulher a ideia de que só existe felicidade na ponta de um bisturi. 
   Não!
   COM minhas manchas e marcas, eu sou PERFEITA. E você também é!

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

a doença

Tem dias que o impulso é
Destruir

Lugares
Coisas
Pessoas

As propriedades
Os Proprietários
O que não tem dono

Destruir o Mundo
Da mesma forma que ele me destruiu

Destruir
-
Me

Eu posso jogar as lâminas fora
Cortar minhas unhas bem curtas
Trocar o álcool por água
Não comprar cigarros
Eu posso me achar bonita
Colocar as melhores roupas

Eu posso sorrir
E gargalhar

Posso inventar novos métodos

E as pessoas ainda vão dizer
Seus olhos são vazios

A Destruição está dentro de mim

Nas relações que eu vivo
No meu jeito errado de amar
Na esperança de ser correspondida
Na bagunça do meu quarto

Lágrimas, olhos vermelhos,
A música tocando

A Doença
Não me deixa
Viver