Uma pancada, Um beijo Quando eu perco o fôlego Ela me segura num abraço Nossos corpos unidos Nossas respirações buscando sincronia
Suas mãos pousam sobre o meu peito Um beijo Uma pancada, Um beijo Em meio à multidão Ele sussurra no meu ouvido "Um dia eu vou te fazer chorar" Sua voz sombria e triste, Sexy Depois me beija Eu lhe beijo Ele não sabe que já me fez chorar Uma pancada Uma pancada, Um beijo Estou aos pés dela A sola de seu sapato Pressiona minha cara contra o chão Eu sinto a pressão Minha mente está em todo lugar Busco o rosto dele. Uma pancada, Um beijo Estendida sobre a cama Dois, três beijos Vinte beijos, cinquenta beijos Se espalhando por todo o meu corpo Que se contorce Minha mente está focada Meu riso exagerado ecoa pelo quarto Uma pancada, Um beijo O toque dela é gentil Uma pancada, Um beijo O toque dele é gentil Uma pancada, Um beijo Olhando nos meus olhos Ele diz que me ama Mas que isso não vai durar Ele diz que me ama Menos do que eu mereço Por alguns momentos eu fico no lugar nenhum Desvio o olhar do dele Meus olhos ardem Uma pancada, Um beijo Estou ao lado dele Ele acaricia meus cabelos Meu rosto Até cair no sono Sinto o calor de sua mão Sobre a minha cabeça Sinto a pressão O assisto dormir Acompanho sua respiração Digo "eu te amo" Ele não ouve Uma pancada, Um beijo Ela diz que me adora Sua voz diz que ela me adora Seu olhar diz que ela me adora Ela me adora Um beijo
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sábado, 17 de abril de 2021
segunda-feira, 28 de outubro de 2019
ruan, bukowski e cigarros
Eu esbarrei num poema do Bukowski. Esbarrei no meu maço de cigarros. Esbarrei em você. É sempre assim, lembra?
"Cíntia, chega de falar de Ruan, Bukowski e Cigarros! Porra!"
Esbarrei numa garrafa de cachaça, ouvindo a playlist que fiz com músicas que contam nossa história, ou ao menos, a minha versão da nossa história.
O poema do velho falava sobre partidas e chegadas e partidas.
Confesso que olho seu perfil de vez em quando, mas não há nada o que ver, ele está trancado. Você é tão misterioso, ui.
Eu havia deletado todas suas fotos e todas nossas conversas do meu celular, apaguei seu e-mail dos meus contatos, mesmo sabendo-o de cor, e pensei que estava livre, sem acesso a você, assim eu poderia fingir que nós nunca acontecemos, que eu nunca te amei; aí meu celular quebrou, e eu voltei a utilizar um aparelho antigo. Abrindo a galeria do mesmo: fotos suas. Prints nossos, de momentos mais doces. Dei de cara com o poema que você me escreveu, que me deixou de pernas bambas. Eu tive que me apoiar numa mesa quando li suas palavras naquele dia, Ruan. Depois fiquei com a calcinha molhada no metrô, roçando minhas coxas disfarçadamente, mordiscando meus lábios para tentar represar todas aquelas sensações; o misto de tesão, preocupação e ternura.
Foi como uma porrada no estômago ver fotos da sua barriga, das suas pintas, dos seus pés calçando coturnos, dos seus pêlos, mas principalmente, do seu pau. Esse pau aí, sobre o qual você se sentia inseguro, e eu endeusei tanto, que você ficou confiante o suficiente para mostrar para outras mulheres, para usar em outras mulheres. Eu até poderia viver com isso, mas o fato de você ter parado de usá-lo para o meu prazer realmente foi demais para mim.
Te odeio! Todo dia acordo e tento me convencer de que te odeio. Mas não, eu ainda amo seu olhar de tormenta e o tom da sua pele. Ainda amo suas mãos e seus dedos, e seus dedos segurando cigarros e sua boca, e sua boca soltando fumaça de forma ensaiada, te fazendo parecer um bad boy de um filme adolescente qualquer, e não o big shot da sua série de motociclistas favorita.
Eu te disse adeus, você me disse adeus, eu voltei. Voltei duas vezes, três... voltei tantas vezes, que perdi as contas! Acho que você também perdeu as contas de quantas vezes disse que nunca mais me aceitaria de volta, e aceitou. Perdemos as contas de quantas vezes agimos feito personagens de um romance decadente, apegados a um amor canalha, ou mero desejo destrutivo. Mas da última vez que te disse adeus, você não retribuiu. Você pensou que eu voltaria. Bem, Ruan, eu não voltei. Meu adeus foi sincero, Ruan. E você não retribuiu ao meu adeus, Ruan! Pro inferno, você e seu maldito pau! Esse pau, que para dificultar mais as coisas, tem veias saltadas e uma pinta, bem do jeito que eu gosto.
sexta-feira, 20 de setembro de 2019
assombrada
— Você deveria me valorizar mais.
— Talvez. Talvez eu já te valorize demais. Não sei. Só sei que nunca vai ser o suficiente.
quarta-feira, 14 de agosto de 2019
garantia
No começo da minha adolescência eu entrava em muitas brigas na escola. Todos os dias eu saía na mão com alguém para me defender das humilhações que sofria. Nunca batia em alguém só por bater, eu simplesmente exigia respeito com os meus punhos.
Mas tinha um detalhe: eu só batia em meninos. Nunca fui capaz de bater em uma mulher na minha vida.
Tinha uma garota em especial que eu não suportava. Tudo nela me irritava profundamente, me fazia sentir inferior, e ela provavelmente sentia meu complexo de inferioridade, pois frequentemente me provocava e me ridicularizava na frente das pessoas. Eu ia para cima dela, o suficiente para ela se calar e sair correndo para se esconder, mas nunca tive coragem de agredi-la. Um dia ela me xingou, e de forma quase automática eu a ameacei, disse que se ela não calasse a boca eu iria quebrar a cara dela. Nesse dia ela não correu, não se escondeu — pelo contrário, ela me olhou com um sorriso na cara e disse, na frente de toda a sala: "Vai nada! Você sempre diz que vai me bater e não bate. Você não tem coragem. Eu não tenho mais medo de você". Eu fiquei mortificada por alguns momentos, depois senti o ódio e a vergonha correndo pelo meu corpo. Eu não era de nada e ela sabia. Ela sabia que podia pisar em mim o quanto quisesse, pois sairia impune.
Toda vez que eu volto para ele depois da humilhação e do adeus, eu lembro dessa garota e daquele misto de ódio e vergonha tomando conta de mim.
terça-feira, 7 de maio de 2019
a solidão da pessoa gorda
Quando se fala em solidão da pessoa gorda, a primeira, e geralmente única coisa que abordam, é a afetividade no sentido romântico. Esse é um aspecto urgente e cruel da nossa solidão, mas não é o único, especialmente para quem foi uma criança e/ou adolescente gorde.
Tudo começa dentro de casa, com a rejeição de pais ou responsáveis que ridicularizam crianças gordas sempre que têm uma chance, fazendo-as sentir culpa ao comer, desencorajando-as em todos os sentidos, mas especialmente, reafirmando a lógica do "você não tem corpo para isso" e "a culpa é sua, que não se esforça para emagrecer", ou ainda, comparando-as a todo momento com outras crianças, seja irmãos, primos ou colegas. Isso não só afeta a auto-estima estética e intelectual dessas crianças e adolescentes, como gera o sentimento de competição e até mesmo rancor em relação a quem está sendo usado como "exemplo", levando a rivalidade permanente entre irmãs/irmãos e primas/os.
É muito triste quando as pessoas que mais deveriam te amar, incentivar e proteger, te negam afeto e só têm coisas ruins para dizer sobre você e o seu corpo. Isso gera uma distância emocional que com o tempo é impossível de transpor, o que causa isolamento familiar e afeta toda a vida desses indivíduos, em particular a forma como se relacionam com as outras pessoas e com o mundo.
Para além disso, uma criança gorda é excluída de brincadeiras e repelida de grupinhos, seja na escola ou em ambientes recreativos. E mesmo crianças sofrem com a falta de acessibilidade. Enquanto criança gorda, muitas vezes me impediram de usar brinquedos de festas ou parques porque "não suportariam meu peso", ou porque de fato meu corpo não se encaixava nos mesmos. Então eu ficava de lado, enquanto as outras crianças brincavam e criavam laços.
Isso sem contar as piadas e agressões físicas. Crianças muitas vezes conseguem ser mais cruéis do que adultos, ainda mais porque têm permissão social para sê-lo. Os adultos veem o comportamento tóxico de crianças, e ao invés de repreender, acham "engraçadinho", "bonitinho", "coisa de criança".
Não sendo ensinadas a respeitar as diferenças, crianças entram na adolescência sem um pingo de empatia.
Adolescente gorda, eu fui rejeitada não apenas por pessoas que eu tinha interesse romântico, mas também pelas pessoas que me criavam, pela minha família estendida, e pelos grupos de meninas. Tive que atravessar todas as mudanças do meu corpo e da minha psique sozinha, tentando descobrir o que era normal e o que não era, e como me portar diante de tais mudanças.
Eu era a única gorda em uma sala cheia de meninas que praticavam a feminilidade padrão, e para piorar, era dois anos mais velha do que elas. Em alguns momentos elas até me permitiam fazer parte do grupo, mas no primeiro desentendimento que tinha (mesmo quando eu não estava envolvida na briga), eu era a primeira a ser excluída, ou obrigada a tomar partido, sob pressão, pois independente de quem eu escolhesse, seria "punida" quando elas voltassem a se falar.
Eu era a pessoa que as ajudava nos deveres de casa, cedia minha casa para elas ficarem com meninos que haviam me rejeitado (e elas sabiam), e até vigiava o portão para garantir que suas mães não as pegasse fazendo isso. Eu era a pessoa que escrevia poemas apaixonados para elas entregarem para os namorados. Eu tirava fotos delas, nunca aparecendo nas mesmas. Era a pessoa que ouvia e nunca era ouvida. Nunca fui a melhor amiga. Nunca era convidada para as festinhas e passeios, nunca era escolhida nas atividades de educação física. Mesmo depois, já no fim da adolescência, ou mesmo nos primeiros anos da vida adulta, eu era a pessoa que garotas usavam para se sentir melhor sobre seus próprios corpos, para silenciar suas inseguranças. As observava se olhando no espelho, erguendo a blusa e apertando gorduras inexistentes, enquanto diziam "nossa, eu estou tão gorda! Olha isso!", e então me olhavam furtivamente. E, inevitavelmente, quando eu as irritava de alguma forma, ouvia que elas nunca gostaram de mim mesmo, e que eu não passava de uma "gordona do caralho". Isso fez com que eu me distanciasse de mulheres.
Ao longo da vida tive vários amigos homens, e vale ressaltar que só tenho irmãos. Me masculinizei para "ser um dos caras", e assim ser aceita. Mas tais amizades também me traziam solidão, pois as vivências divergiam muito. Eles não eram capazes de entender muitas das coisas que eu vivia. Além disso, os via idealizando mulheres magras, padrão, "femininas", tudo que eu não era, sabendo que aquele era o pensamento coletivo, o que reforçava a minha certeza de que eu nunca seria amada, por não ser como essas garotas que eles queriam. Também era excluída de situações que eu não era "masculinizada o suficiente" para participar, e os via frequentemente constrangidos quando alguém achava que tínhamos envolvimento amoroso ou sexual.
Há também a solidão de nunca ver pessoas como nós nos ambientes que frequentamos, ou mesmo na mídia. Não porque existam poucas pessoas gordas no mundo, mas porque somos invisibilizados, expulsos dos ambientes, e dessa forma poucos ousam sequer sair de casa para ocupar tais espaços.
Essa dinâmica nunca muda. Os anos passam, as figuras mudam, mas a forma que a pessoa gorda é tratada por quem a rodeia permanece.
No ambiente de trabalho, quando conseguimos emprego, temos que lidar com superiores hierárquicos e colegas de trabalho que continuam nos usando para se sentir melhor consigo mesmos, e agora, não podendo usar de violência física para nos agredir, abusam de um comportamento passivo-agressivo e criam um meio tóxico, sempre dando dicas de dieta, fazendo "piadas" e recriminando nossos corpos. Se reclamamos, estamos exagerando.
Não encontramos apoio familiar, nem de amigos, e muito menos apoio profissional, já que psicólogos também recriminam nossos corpos.
Uma pessoa gorda tem, por fim, toda espécie de afeto negado, ou no mínimo limitado. A solidão da pessoa gorda é a solidão no sentido mais pleno da palavra. É tão grande, que se torna tangível... fisicamente dolorosa.
domingo, 11 de novembro de 2018
previsão
Minha mãe me disse
Um dia você vai ser como eu
Sozinha
Com um monte de filhos
Vai saber o que é sofrer
Você vai me entender
Eu tinha dez anos
Coisa estranha de se dizer
Passei a vida fugindo
Da sina
Do destino
Da repetição
Eu não queria ser ela
Sempre fui sozinha
Especialmente quando me via acompanhada
Não tive filhos
Mas descobri o que é sofrer
Aos vinte o entendimento veio
De forma súbita
Não justifica.
28. Estou salva.
Sou diferente.
Até que ele apareceu,
Me fez como ela
Me fez ser a outra
Assistindo a intimidade
De fora
Intocada.
Me fez ser a outra
Como minha mãe
Ele me fez cair
Ele completou o meu destino
Um dia você vai ser como eu
Sozinha
Com um monte de filhos
Vai saber o que é sofrer
Você vai me entender
Eu tinha dez anos
Coisa estranha de se dizer
Passei a vida fugindo
Da sina
Do destino
Da repetição
Eu não queria ser ela
Sempre fui sozinha
Especialmente quando me via acompanhada
Não tive filhos
Mas descobri o que é sofrer
Aos vinte o entendimento veio
De forma súbita
Não justifica.
28. Estou salva.
Sou diferente.
Até que ele apareceu,
Me fez como ela
Me fez ser a outra
Assistindo a intimidade
De fora
Intocada.
Me fez ser a outra
Como minha mãe
Ele me fez cair
Ele completou o meu destino
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
auto-conhecimento
Não dormi, mas comecei o dia gargalhando. Seis horas da manhã e minha risada alta preenchia meu quarto, provavelmente se fazendo ouvir fora dele. Ri tanto, que a minha barriga começou a doer, enquanto as lágrimas escorriam pelas minhas bochechas e embaçavam meus óculos. Eu tentava não rir, porque o motivo do riso desenfreado era a desgraça de algumas pessoas que caíram com a freada violenta de um ônibus. Parava por alguns minutos, segurando o riso com a consciência pesada, mas depois não aguentava, e o ritual descontrolado recomeçava.
Ouvi os passos em frente à janela do meu quarto. Ouvi minha avó na cozinha, senti o cheiro do café. Eu não tomo café, mas devo admitir que o cheiro de café, especialmente pela manhã, aguça alguma coisa boa dentro de mim.
Entre o riso e o silêncio culpado, ouvi o barulho das xícaras na cozinha, e o som de pessoas cochichando. Tentei ouvir o que diziam, mas não deu.
Eu ainda estava indecisa se deveria ir à consulta com a psiquiatra ou não, mas pensei: "ainda tenho bastante tempo", e depois me ocorreu que é justamente quando eu tenho tempo de sobra que me atraso. Eu me conheço, estou sempre certa. Me atrasei, depois de colocar uma roupa qualquer e sair correndo, de cara lavada, na chuva que tornava o chão escorregadio sob o meu all star velho demais para ter algum efeito anti-derrapante. Quase escorreguei algumas vezes. Teria sido um belo castigo, ser filmada escorregando para abastecer o riso de alguém depois, na internet.
Mas não caí.
Cheguei ao posto de saúde, tirei os óculos escuros respingados da chuva, e peguei a senha eletrônica. Agora tem isso lá, e eu me sinto de alguma forma traída por esse avanço tecnológico. Tira o aspecto familiar da coisa.
Mais traída ainda me senti quando minha senha foi chamada, e a recepcionista não lembrou meu nome. Ela me olhou, olhou para a tela do computador por uns segundos, e me olhou de novo, soltando um odioso: "esqueci seu nome...". Ela me conhece há dez anos. Eu sei o nome dela e de todas as pessoas no posto de saúde. Aos poucos, eles esquecem o meu.
"Cíntia, prontuário 19-119".
Enquanto esperava, irritadiça pela noite não dormida, observei as pessoas passando. Auxiliares de enfermagem, as moças da limpeza, o pessoal da administração, e as agentes de saúde. Recebi dois abraços genuínos, fortes, e muitos sorrisos amarelos: "você anda sumida!". Eu sempre busco amor nos lugares mais improváveis.
O posto está cheio de enfeites florais feitos de papel crepom; dois tons de rosa e um branco, para a campanha de prevenção de câncer de mama. Fiquei com vontade de roubar alguns dos enfeites, colar na parede do meu quarto. Eu sou assim. Uns anos atrás roubei um dos enfeites da já precária árvore de natal do posto de saúde, porque eu preciso ter esses souvenirs para me lembrar dos momentos. Para tornar as minhas memórias tangíveis. Ou para manter a ilusão ativa.
Pensei em todos os anos esperando por aqueles corredores, vendo as pessoas passando e preocupando-se comigo. Pensei nos meus professores do ensino fundamental. O meu sentimento era o mesmo por ambos os ambientes e seus habitantes. O mesmo amor por pessoas que são pagas para notar a minha existência, e que esquecem do meu nome assim que o meu caso deixa de ser prioridade em suas mesas.
Comecei a andar de um lado para o outro, inquieta com a demora. Apertei o aparelho de álcool gel, mas não saiu nada, como sempre. Tem uma mesa no corredor, ao alcance dos pacientes, e eu sempre me perguntei o que tinha naquelas gavetas, sem coragem de abrir para ver. Olhei para os dois lados do corredor cheio de pacientes cuidando de suas próprias dores. Abri a primeira gaveta, e, adivinha só, não tinha merda nenhuma. Foi o suficiente para acabar com qualquer traço de tesão detetivesco.
Me pus a ler os cartazes de prevenção de câncer de mama, e depois o mural cheio de post-its com mensagens "motivacionais". Cuide-se!, dizia um dos post-its. Ame-se! A vida importa! AUTO-CONHECIMENTO! Eu nunca fiz o auto-exame. Pensei em roubar um ou dois, quem sabe três post-its rosa choque. Mas talvez a mensagem fizesse falta para outras pessoas. Eu sou hipocondríaca. Quando eu penso em fazer o auto-exame, penso na possibilidade de encontrar um nódulo, e começo a surtar. A bem da verdade, se eu procurasse eu provavelmente encontraria mil nódulos, a minha ansiedade os colocaria ali.
Eu me conheço, mas às vezes não quero conhecer demais. Pensei nas minhas seguidoras.
A psiquiatra me chamou. Ela não lembrava exatamente sobre o meu caso, ficou lendo por cima as páginas do meu prontuário, me fazendo as mesmas perguntas mil vezes, e eu as respondia, sentindo a exasperação crescer. É como se ela não ficasse contente com as minhas respostas, então continuasse perguntando para ver se eu as mudava. Você está pensando em suicídio, ou está planejando suicídio? Qual é a merda da diferença? Perdi a calma com ela, e me arrependi em seguida, porque apenas parte da minha exasperação era pela condescendência dela, a outra parte era pela noite não dormida. Eu sou como uma criança que vai ficando rabugenta à medida que o sono chega, e que precisa deitar e pegar no sono assim que esses momentos batem.
Ela continuou fazendo as mesmas perguntas e as mesmas propostas. Eu parei de responder, adotando a tática de simplesmente encará-la. Ela continuou na expectativa de uma resposta, e eu continuei oferecendo silêncio, sabendo que meus olhos estavam tão vazios quanto às vezes me acusam.
Foi uma consulta absurdamente longa, em que nada foi abordado. A minha impaciência crescente, louca para sair dali. Comecei a concordar com ela, era o único passaporte para a saída daquele lugar. Funcionou. Até mais, Cíntia. Obrigada. Tchau.
Peguei meus remédios, não tinha todos. Estava exausta. Passara horas ali, e a consulta com a psiquiatra no fim me deixou pior do que quando eu cheguei. Com os bolsos da jaqueta jeans molhada cheios de remédios, coloquei os óculos escuros e saí. Eu não suporto claridade, especialmente quando não durmo.
Ia chegar em casa, tirar toda a roupa e me jogar na cama ao som de Florence + the Machine. Isso não aconteceu. Enrolei o dia inteiro, cansada, sem fazer nada, sem ter noção de como as horas passaram. Dava tempo de ir pro curso ainda, mas eu simplesmente não teria energia física ou intelectual para acompanhar a aula.
No fim da tarde eu tirei as roupas ainda molhadas, e deitei, cobrindo a cabeça. Meu corpo começou a pesar, minha mente começou a desligar, e o celular apitou. Relutei por alguns momentos, mas descobri a cabeça e estiquei o braço, pegando o aparelho.
Era ele. Meu coração acelerou. Ele gostou da minha foto de 4. Instigada, minha mente acendeu, voltou a funcionar a todo vapor. Minha buceta a acompanhou. Em alguns minutos ele conseguiu me fazer esquecer da mágoa de situações anteriores, do sono, do cansaço, da exasperação, e tudo isso deu lugar a um tesão violento, que provocava ondas de prazer pelo meu corpo sem que eu ao menos me tocasse.
Eu te quero. Você me faz sentir um tesão desmedido. Seu pau está pulsando? Quero me esfregar em você. Imagina, imagina, imagine! Imaginei o coturno dele pressionando meu corpo, me imobilizando contra a parede, deixando as marcas da sola na minha pele. Estava molhada novamente, mas dessa vez não era culpa da chuva, que ainda batia contra a minha janela.
E as mensagens começaram a ficar mais espaçadas...
Ocupado.
Ok...
Abri as pernas, coloquei os dedos para trabalhar, imaginando. AUTO-CONHECIMENTO!
Os dedos deslizando com facilidade. AUTO-CONHECIMENTO!
Me esparramei na cama, me desfazendo entre os lençóis e cobertas. AUTO-CONHECIMENTO!
Soltei gemidos e suspiros... AUTO-CONHECIMENTO!
A atenção dele nunca é só minha. Eu sempre tenho que dividi-la com outras pessoas, com outras coisas.... AME-SE!
É só sobre ele. O prazer dele, o sentimento dele, o momento dele, a vida dele. Ame-se ame-se ame-se ame-se ame-se ame-se ame-se, AME-SE, porra!
Tomada pelo tesão e pela tristeza de uma só vez, comecei a chorar enquanto me tocava, enquanto os dedos entravam em saíam, e o tesão começava a ser vencido pela tristeza. O som do meu choro preencheu meu quarto, talvez se fizesse ouvir lá fora. Chorei tanto, que a minha garganta começou a doer, as lágrimas escorrendo em abundância pelas laterais do meu rosto. Parava por alguns segundos, mas depois não aguentava, e os soluços convulsos recomeçavam. No escuro, no silêncio.
Os dedos desistiram. Fechei as pernas, deitei em posição fetal e cobri a cabeça. Eu sempre busco amor nos lugares mais improváveis. Chorei tanto, que dormi. Por dois dias.
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sexta-feira, 21 de setembro de 2018
você... ou eu
Comprei um maço de cigarro
Fazia sentido...
tirei o lacre
Talvez um dia alguém sinta conforto em mim
no cheiro
das minhas roupas
dos meus cabelos
Talvez algum dia eu encontre conforto.
Ontem pouco me bastou
Enquanto garoava na minha cabeça
E as gotas, junto à fumaça, embaçavam meus óculos.
Hoje, nada.
Mas
Eu vou te encontrar
Na ponta de cada cigarro que eu fumar
Vou sentir seu beijo
Em cada tragada que eu der
Vou ver seu rosto
Em cada massa abstrata de fumaça que eu soltar
Minha voz ficará menos suave
E em cada verso que eu declamar
Eu vou lembrar da sua rouquidão...
"If I never see you again..."
Quando eu me tocar
Os meus dedos terão o cheiro dos seus dedos
Vai se misturar ao aroma do meu sexo
Levarei meus-seus dedos aos lábios
Vou fechar meus olhos...
Fingir que são suas, as digitais adocicadamente ásperas na minha língua
Sua existência vai resistir
Nos meus pulmões
Eu vou ficar sem ar
Toda vez que o seu nome vier à tona
E quando eu estiver quase morta
Será você o meu câncer
De alma
Fazia sentido...
tirei o lacre
Talvez um dia alguém sinta conforto em mim
no cheiro
das minhas roupas
dos meus cabelos
Talvez algum dia eu encontre conforto.
Ontem pouco me bastou
Enquanto garoava na minha cabeça
E as gotas, junto à fumaça, embaçavam meus óculos.
Hoje, nada.
Mas
Eu vou te encontrar
Na ponta de cada cigarro que eu fumar
Vou sentir seu beijo
Em cada tragada que eu der
Vou ver seu rosto
Em cada massa abstrata de fumaça que eu soltar
Minha voz ficará menos suave
E em cada verso que eu declamar
Eu vou lembrar da sua rouquidão...
"If I never see you again..."
Quando eu me tocar
Os meus dedos terão o cheiro dos seus dedos
Vai se misturar ao aroma do meu sexo
Levarei meus-seus dedos aos lábios
Vou fechar meus olhos...
Fingir que são suas, as digitais adocicadamente ásperas na minha língua
Sua existência vai resistir
Nos meus pulmões
Eu vou ficar sem ar
Toda vez que o seu nome vier à tona
E quando eu estiver quase morta
Será você o meu câncer
De alma
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
urbana
Vagando por essa cidade caótica
Eu vejo você
Nos olhares infantis
No vento cheio de poluição que espanca minha pele
No cheiro dos cigarros acesos
No meu próprio caminhar,
Refletido nas portas espelhadas de edifícios instáveis
Parada no ponto de ônibus
Eu
Sinto você
Quando toco as pérolas pendendo do meu pescoço
E te imagino, me puxando
Para muito perto
Violência, necessidade
O colar partindo
As bolinhas marfim rolando
... Para dentro do esgoto.
Eu não ligo.
--
Sentada à janela
Eu ouço você
Enquanto aproveito o balanço
Para...
...
Meu corpo arqueia
Um gemido rebelde se faz ouvir
Me olham
Minhas bochechas não coram
A dor é iminente
Mas eu acho que todo mundo deveria acordar atordoado
Às quatro horas de uma tarde
Ao som de um poema recitado
Todo mundo deveria se perder,
Uma vez ou outra
Eu me perco na constelação do seu corpo.
Eu vejo você
Nos olhares infantis
No vento cheio de poluição que espanca minha pele
No cheiro dos cigarros acesos
No meu próprio caminhar,
Refletido nas portas espelhadas de edifícios instáveis
Parada no ponto de ônibus
Eu
Sinto você
Quando toco as pérolas pendendo do meu pescoço
E te imagino, me puxando
Para muito perto
Violência, necessidade
O colar partindo
As bolinhas marfim rolando
... Para dentro do esgoto.
Eu não ligo.
--
Sentada à janela
Eu ouço você
Enquanto aproveito o balanço
Para...
...
Meu corpo arqueia
Um gemido rebelde se faz ouvir
Me olham
Minhas bochechas não coram
A dor é iminente
Mas eu acho que todo mundo deveria acordar atordoado
Às quatro horas de uma tarde
Ao som de um poema recitado
Todo mundo deveria se perder,
Uma vez ou outra
Eu me perco na constelação do seu corpo.
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
fumaça
As coisas invariavelmente começam como se nada estivesse acontecendo. É simples assim. Você não é ninguém pra mim, e eu não sou ninguém para você. Bate até um desconforto, de tanta mensagem chegando, e do impulso de respondê-las. Te vejo como um todo — um amontoado de características. Um homem como qualquer outro.
Mas aos poucos... O papo passa do morno para o muito quente — a sensação é, ao mesmo tempo, sufocante e deliciosa, como são as melhores coisas. Palavras bem aplicadas, surge a identificação. Você entra na minha cabeça. Forjamos a conexão...
... Talvez seja por hábito, que nós fazemos essas coisas. Continuamos, porque a opção é o vazio. O nada perde espaço, se torna alguma coisa... Dez minutos já não são o suficiente. Eu quero mais, quero todos os seus minutos e todos os seus pensamentos.
Vou isolando suas características, passa a me agradar o que sinto e o que vejo. Pintas, olhos, dedos. Desejo. O jeito que os seus lábios soltam a fumaça...
Sozinha na minha cama, fantasio, ao som de Portishead, sobre o seu cheiro. Sobre sua voz, a textura da sua pele... a temperatura do seu abraço. Fico imaginando o tom do seu gemido. Tudo em você é meio encenado...
Quando noto, você está sob a minha pele. Meu ser anseia por você. A mais inocente lembrança da sua existência eriça todos os meus pelos. O meu coração descompassa, o meu cérebro fica dormente. O seu nome encharca a minha calcinha...
É tudo muito breve, as coisas são intensas. Mas eu descobri, ao longo da vida, que intensidade é algo que não dura...
É brutal, a porrada que atinge o meu estômago. O sentimento é um raio atravessando o meu corpo repetidamente. Meu coração ganha mais um remendo. O buraco no qual venho caindo fica mais profundo.
E de repente, são cinco horas da manhã. Eu fumo meu primeiro cigarro em muitos meses, para me sentir mais perto de você. Olho suas fotos, revivendo as palavras, e penso no absurdo das coisas. Há pouco tempo você nem existia.
O fluido transparente escorre pelas minhas coxas, enquanto você dorme com ela.
Solto a fumaça.
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sábado, 16 de junho de 2018
chegando aos 30
acho que a mulher do meu melhor amigo
o traiu
ele está em negação
e apesar de o meu primeiro instinto ser
quebrá-la
eu tenho que pensar
no feminismo
nos sentimentos
e no clima que fica
nos churrascos de família
ser adulto é pensar em demasia
você está lá, ouvindo Smashing Pumpkins
ou se masturbando
enquanto toma o seu banho
aquele momento de paz
e vem a avalanche de pensamentos
eu preciso comprar
papel higiênico e sabonete e pasta de dentes
a geladeira está completamente vazia
a parede está com um aspecto inchado e bolorento
o ser humano não é bom
e eu provavelmente deveria guardar as roupas que estão sendo jogadas, da cama para a cadeira e da cadeira para a a cama há muitos dias
o tesão até passa
se transforma em algo violento na boca do estômago
dá uma vontade de enfiar o dedo na garganta
e se livrar da sensação...
e depois, deitada na cama, primeiro não consigo dormir
depois
acordo às quatro horas da manhã
e
penso em trocar a água do aquário do Peixe
penso que preciso dar-lhe um novo aquário
só que um aquário adequado custa 200 reais
penso que quando ele morrer, não terei bicho nenhum
porque os seres precisam de muitas coisas
e carinho
eu
não troco o meu próprio lençol há tanto tempo, que nem sei mais há quanto tempo...
mas permaneço deitada no escuro
e penso no fato de que eu nunca tive um emprego de verdade
e como isso impacta sobre a minha imagem
e não se engane
eu ligo pra minha imagem
quando o meu professor
preferido
o único que eu tenho
diz que um dos meus colegas de classe é um sanguessuga porque não colabora com as contas e serviços domésticos em sua casa
e eu, que geralmente tenho muito a dizer, abaixo meus olhos
assim como faço quando não tenho a resposta certa para um dos exercícios
com os olhos baixos
penso em muitas coisas
nunca fui de lavar louça
nem mesmo os pratos e copos que sujo
.......................
enquanto eu ando pela rua
olhando para o céu
acariciando flores e troncos e postes
o coturno pisando forte no chão
como se eu estivesse muito segura
estou ciente de todas as coisas
inclusive do meu rabo rebolando
dentro de uma calcinha que escorrega
eu penso demais
quando finjo inocência
e quando sou inocente
ignorando as pessoas
especialmente os homens
me aproximo dos 30
pisando duro
pensando demais
e no que pensa o meu melhor amigo, que foi traído
(99% de chances)
?
o traiu
ele está em negação
e apesar de o meu primeiro instinto ser
quebrá-la
eu tenho que pensar
no feminismo
nos sentimentos
e no clima que fica
nos churrascos de família
ser adulto é pensar em demasia
você está lá, ouvindo Smashing Pumpkins
ou se masturbando
enquanto toma o seu banho
aquele momento de paz
e vem a avalanche de pensamentos
eu preciso comprar
papel higiênico e sabonete e pasta de dentes
a geladeira está completamente vazia
a parede está com um aspecto inchado e bolorento
o ser humano não é bom
e eu provavelmente deveria guardar as roupas que estão sendo jogadas, da cama para a cadeira e da cadeira para a a cama há muitos dias
o tesão até passa
se transforma em algo violento na boca do estômago
dá uma vontade de enfiar o dedo na garganta
e se livrar da sensação...
e depois, deitada na cama, primeiro não consigo dormir
depois
acordo às quatro horas da manhã
e
penso em trocar a água do aquário do Peixe
penso que preciso dar-lhe um novo aquário
só que um aquário adequado custa 200 reais
penso que quando ele morrer, não terei bicho nenhum
porque os seres precisam de muitas coisas
e carinho
eu
não troco o meu próprio lençol há tanto tempo, que nem sei mais há quanto tempo...
mas permaneço deitada no escuro
e penso no fato de que eu nunca tive um emprego de verdade
e como isso impacta sobre a minha imagem
e não se engane
eu ligo pra minha imagem
quando o meu professor
preferido
o único que eu tenho
diz que um dos meus colegas de classe é um sanguessuga porque não colabora com as contas e serviços domésticos em sua casa
e eu, que geralmente tenho muito a dizer, abaixo meus olhos
assim como faço quando não tenho a resposta certa para um dos exercícios
com os olhos baixos
penso em muitas coisas
nunca fui de lavar louça
nem mesmo os pratos e copos que sujo
.......................
enquanto eu ando pela rua
olhando para o céu
acariciando flores e troncos e postes
o coturno pisando forte no chão
como se eu estivesse muito segura
estou ciente de todas as coisas
inclusive do meu rabo rebolando
dentro de uma calcinha que escorrega
eu penso demais
quando finjo inocência
e quando sou inocente
ignorando as pessoas
especialmente os homens
me aproximo dos 30
pisando duro
pensando demais
e no que pensa o meu melhor amigo, que foi traído
(99% de chances)
?
sexta-feira, 1 de junho de 2018
adoração
você só me chama
quando
bate
o tesão
e eu vou deixar você
me
usar
mas é só porque eu quero
ser adorada
esse seu entusiasmo
quando você me mostra que o seu pau está duro
feito um pedaço de madeira
por minha causa
vermelho
latejante
as veias saltadas
bem do jeito que eu gosto
(visualmente,
sabe?)
o seu descontrole
animalesco
e você diz coisas como
meu deus! o seu rabo é a minha morte
&
você não sabe o quanto eu quero te foder
o meu corpo se torna
a 8ª Maravilha
... do mundo
adorada
adorada
adorada
mesmo que seja entre
o beijo e
o
(seu)
orgasmo
adorada
quando a porra bate quase no teto
você também está sendo usado.
quando
bate
o tesão
e eu vou deixar você
me
usar
mas é só porque eu quero
ser adorada
esse seu entusiasmo
quando você me mostra que o seu pau está duro
feito um pedaço de madeira
por minha causa
vermelho
latejante
as veias saltadas
bem do jeito que eu gosto
(visualmente,
sabe?)
o seu descontrole
animalesco
e você diz coisas como
meu deus! o seu rabo é a minha morte
&
você não sabe o quanto eu quero te foder
o meu corpo se torna
a 8ª Maravilha
... do mundo
adorada
adorada
adorada
mesmo que seja entre
o beijo e
o
(seu)
orgasmo
adorada
quando a porra bate quase no teto
você também está sendo usado.
segunda-feira, 5 de março de 2018
oi sumido
Lembra como era?
Era horrível. A gente não se encaixava. O seu pênis ficava escapando.
Eu não gostava do seu cheiro e nem do seu gosto, mas te chupava mesmo assim. Mesmo quando você teve aquela infecção urinária.
Eu nunca gozei. Você teve uns bons momentos. Às vezes, nada.
Lembra? Era bem estranho. Estávamos competindo o tempo todo...
... Qual de nós era o mais talentoso, o mais inteligente, o mais porra louca; quem lia mais e quem bebia mais antes de cair...
Whiskey de dez conto descendo sem gelo. Deitávamos no colchão do seu quarto ao som de Depeche Mode e você me depreciava.
Você gostava de morte (e eu também — mas de formas diferentes).
Quando saíamos rachávamos a conta. Meus irmãos te odiavam ainda mais por isso. Tem toda a moral patriarcal. E você os desafiava
Saindo do meio dos meus lençóis e passando em frente ao local de trabalho deles, numa declaração descarada: "acabei de foder sua irmã".
Isso também demonstrava a minha falta de moral, na visão deles.
Mas eu tinha pudor até demais.
Quando você queria, eu não queria; quando eu queria, você não queria. Não tínhamos sincronia.
Te fiz um belo almoço vegetariano (minha sina), mas você não apareceu.
E teve aquele dia, na Praça do Forró...
Você chegou, moicano e maquiagem, a pele mais canela e aveludada do que nunca, como numa foto em alta resolução; uma camisa social vinho sobre uma camiseta toda suja de tinta. Um jeans surrado, igualmente manchado. Te achei tão sexy. Quis pegar no seu pau e te beijar ali mesmo. Mas apenas disse, a voz quase sumindo: "você é tão sexy". Seu olhar alcançou o meu, cheio de delineador e impaciência, e você não disse nada.
Bebemos a cerveja barata e ficamos sem dinheiro para a condução... andamos até a sua casa. Ao chegarmos eu estava toda suada e descabelada, mas me sentia estranhamente fêmea.
Você comeu brócolis e me deu presunto, me censurando de forma passivo-agressiva por comer bicho.
E tinha uma menina, eu acho que se chamava Carol ou Ana ou Beatriz, um desses nomes de moça de família. Eu não sentia nada por você além de ciúmes. Era a mais pura definição de terror. E acabou.
Mas hoje eu estou sozinha e entediada. Meio angustiada. Estava acompanhando os ultrajes do Big Brother Brasil, veja a decadência! Ouvi Jeff Buckley pensando em uma pessoa . E depois você surgiu no meu pensamento. Nem sei de onde veio.
Eu poderia te mandar uma mensagem... Eu sei que faz uns 6 anos. Eu não te suporto. E nunca foi muito bom.
Oi sumido
Não. Não sou tão sutil.
E aí, quer foder?
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
inteira
Quando eu me dou para as pessoas, elas nunca me querem inteira. Me querem fragmentada. Eu sou um ser humano completo, com desejos e sentimentos que por vezes parecem não caminhar juntos, mas que são os mais sinceros que alguém pode oferecer...
E isso é inaceitável para elas. Querem apenas o que fica entre o bom e o sofrível, quando, ao contrário, eu ofereço excelência. O mundo que existe dentro de mim — esse solo nunca explorado. Eu ofereço mais do que o suficiente. Ofereço uma viagem completa e louca.
Mas não. Querem que eu escolha uma só fantasia e nunca me dispa dela. Ser a irmã ou ser a puta. Ser a amiga ou ser a amante. Ser fofa ou ser safada. Eu quero ser tudo, quero ser plena. Nós não precisamos seguir uma linha reta, e por que você está tão assustado?
Eu acordei e estava contente. Mas o contentamento durou pouco e foi engolido pelo buraco negro que habita minha alma. As lágrimas rolaram sobre o travesseiro ao qual eu durmo agarrada, fingindo que é o seu corpo entre meus braços, seu peito sob a minha cabeça...
O desejo era latente no espaço mais íntimo do meu ser; o desejo de te adorar e ser adorada na mesma proporção; tocar todos os espaços que existem em você e ser tocada como nunca antes... E que ilusão é essa! Desejo que nunca alcanço...
Brinquei com a possibilidade de te ligar, eu diria: "te quero! e você? algum pedaço de você me quer?"
Mas eu quero que você me queira por inteiro também...
Se não te ligo, se não te pergunto e permaneço esperando, é porque sei o que ouviria.
Então eu me atiraria em direção a um penhasco ou de outros braços: dá na mesma.
Eu acordei e estava contente. Mas o contentamento durou pouco e foi engolido pelo buraco negro que habita minha alma. As lágrimas rolaram sobre o travesseiro ao qual eu durmo agarrada, fingindo que é o seu corpo entre meus braços, seu peito sob a minha cabeça...
O desejo era latente no espaço mais íntimo do meu ser; o desejo de te adorar e ser adorada na mesma proporção; tocar todos os espaços que existem em você e ser tocada como nunca antes... E que ilusão é essa! Desejo que nunca alcanço...
Brinquei com a possibilidade de te ligar, eu diria: "te quero! e você? algum pedaço de você me quer?"
Mas eu quero que você me queira por inteiro também...
Se não te ligo, se não te pergunto e permaneço esperando, é porque sei o que ouviria.
Então eu me atiraria em direção a um penhasco ou de outros braços: dá na mesma.
domingo, 31 de dezembro de 2017
Quando acaba
Tem algumas coisas que não importa quantas vezes nos digam, nós não iremos entender, a menos que estejamos dentro da situação. Esse ano eu consegui compreender uma coisa que sempre me disseram, e que se eu tivesse assimilado antes, não teria sofrido tanto quanto sofri: homens gostam do que não podem ter. É a chamada "cultura do estupro".
Quando eu transei pela primeira vez, aos 21 anos, eu não estava pronta. Era de se esperar que eu estivesse, na época em que vivemos. Mas eu não estava, e tampouco estava o meu parceiro apto a entender minhas necessidades e personalidade esquiva.
O Alexandre não foi o pior cara com quem fiquei. Em retrospecto, ele provavelmente foi o melhor (ou o menos pior?).
Na época, porém, eu não sabia lidar com os meus desejos nem com os desejos do outro; não sabia lidar com o meu corpo, com a minha imagem perante um homem, mesmo um cujo desejo se mostrava de forma inegável. Se na primeira vez ele foi fofo, justamente por saber que era a primeira vez, o resto do que tivemos foi um jogo que eu não sabia jogar.
Ele queria que eu me soltasse, queria que eu fosse safada, queria me dominar... Mas eu não conseguia ser dominada, tanto por orgulho quanto por não levar um cara de um metro e sessenta e cinco tão a sério.
Eu ia à casa dele e ficávamos ali, um diante do outro, ele esperando que eu dissesse o que eu queria dele, esperando que eu agisse. Eu queria e ele queria, ambos sabíamos, mas essa era a regra dele, a iniciativa teria que ser minha dali em diante.
As palavras "me fode" nunca sairiam da minha boca, então não havia foda nenhuma na maioria das vezes. Ele era capaz de abdicar dos próprios desejos para continuar seu jogo.
Ele achava, e me disse, que eu não era louca o suficiente, e essa afirmação foi pior para o meu ego do que ele me chamar de gorda, palavra até então pejorativa.
Tem essa trava em mim. Eu posso dizer qualquer coisa através de palavras escritas, mas quando elas saem em forma de som, um abismo se abre abaixo de mim e eu caio de forma violenta e contínua.
Era questão de tempo, entretanto, até ele se cansar do nosso jogo de gato e rato, e um dia ele encontrou uma nova jogadora, provavelmente uma que sabia como jogar o jogo da maneira certa. Foi simples, ele foi direto ao ponto e me disse com todas as letras: "o tesão acabou". Foi isso. Engoli seco. Por um tempo sofri, confesso. Não por gostar dele, não porque ele fosse bom de cama, mas porque a minha substituta era tudo que eu queria ser e não era.
No começo desse ano eu estava me sentindo diferente. Minha vaidade estava voltando, depois de longos anos. A confiança na minha auto-imagem estava sendo reconstruída. E a necessidade de um corpo colado no meu era latente. Eu estava no meio do deserto, sedenta por paixão... e conheci o Emanuel.
Um cara inteligente e carismático, que sempre sabia o que dizer e que priorizava a minha inteligência acima da minha aparência. Um cara que dizia sentir tesão pelo meu cérebro. Era o meu intelecto que o deixava de pau duro, ele afirmava.
E muito rapidamente, deslumbrada, eu acreditei em sua sinceridade. Tão rápido quanto, nós saímos dos papos intelectuais e caímos em papos meramente sexuais. Nesse ponto eu recuei com todas as forças que tive. Eu era, novamente, um ratinho assustado diante de suas palavras ardentes. Um misto de tesão e medo tomava conta de mim e o meu cérebro exigia que eu me afastasse imediatamente. O meu coração queria que eu ficasse.
O cérebro a princípio ganhou e eu lhe disse que não poderíamos continuar conversando. Ele se recusou a aceitar isso. Não queria — não iria —, me disse, abrir mão de uma mulher como eu.
Tudo era demais e assustador para mim, mas a minha mente, certamente entorpecida pelo meu coração, me garantia que se eu fosse adiante e o bloqueasse, coisa que fiz (e depois desfiz), eu iria me arrepender futuramente. Infelizmente muitas vezes me falta sensatez.
Na dança inicial, ele evadindo e eu recuando, muitas vezes chocada e arrebatada pela lascividade de sua abordagem, eu era, ainda assim, ingênua e moldável. E ele um escultor talentoso. Eu dizia não, e quanto mais o dizia, mais ele queria o meu sim. Com sagacidade ele foi conquistando sim após sim, tudo muito rápido.
O Emanuel é um homem que sabe o que quer e como conseguir. Ele é o dominador que o Alexandre nunca conseguirá ser. Seus jogos mentais são muito efetivos. Ele nunca forçou um "me fode", os tirou de forma graciosa da minha boca... não, do meu corpo inteiro.
E então eu era completamente dele, e o queria completamente. Descobri que aquele jogo era prazeroso e que eu era boa nele. Ledo engano: estávamos jogando jogos similares, mas com regras ligeiramente diferentes.
Eu sabia que não iria durar pra sempre. Sabia que era questão de tempo, mas imaginei que fosse durar mais. Eu era tudo o que ele queria que eu fosse, sempre havia sido, mas até então me faltara a pessoa certa para trazer tudo isso à tona... Mas homens querem apenas aquilo que não podem ter. Quando conseguem o que querem, o brinquedo deixa de ser interessante.
Eu o coloquei em um altar e não escondi nem dele e nem de ninguém. Todo mundo me dizia: "Cíntia, isso não se faz... ele vai pisar em você". Mas eu queria acreditar na palavra dele de que ele "não era um babaca". Eu queria acreditar em alguma coisa, em alguém...
As coisas logo começaram a escapar entre os meus dedos. A atenção que ele me dispensava começou a ser dosada. Eu sabia que estávamos em um novo nível do jogo, e aquele não me agradava em nada. Não era um jogo que proporcionava prazer, era um jogo mental e doentio, que também me deixava doentia.
Então ficou óbvio que as coisas estavam caminhando para o fim porque eu alimentei demais o ego dele. E eu pensava nas palavras do Alexandre: "o tesão acabou", e imaginava o que o Emanuel me diria quando estivesse definitivamente farto. O que eu não esperava era o que veio.
Eu posso ter jogado a parte sexual muito bem, mas falhei miseravelmente em aderir aos métodos sociais, os quais sempre repudiei. Nós vivemos em uma sociedade na qual você não pode expressar seus sentimentos verdadeiros. É necessário sempre fingir que gostamos menos do que realmente gostamos, senão corremos o risco de ficar sem nada. Excesso de querer causa repulsa.
Com rejeição eu consigo lidar. A vida inteira eu fui rejeitada: pela minha família, por meus amigos, por colegas de escola, pela sociedade inteira e por mim mesma. O que eu não consigo encarar é o silêncio, a ausência, a omissão, ainda mais partindo de uma pessoa que tem total domínio sobre as palavras e que poderia, se quisesse, aliviar meu sofrimento. Não sei me frear diante de incertezas, eu vou indo até ouvir um não definitivo.
O Emanuel nunca me disse não. Ele nunca disse que o tesão acabou. Ele me deu "talvez" e "um dia"... nunca colocou um ponto final. Pelo contrário, ele alimentou as minhas esperanças até o fim, me deixando de joelhos calejados diante de si, servindo o objetivo único de satisfazer seu ego e mostrar que no jogo, ele é o mestre. Já eu, nunca tive muita sorte no jogo. Eu sempre perco.
Quando acaba, ouvir que o tesão se esgotou faz sentido. Negar um "não" é pura crueldade.
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
e os namoradinhos?
Devo admitir que diferente da maioria de vocês, eu não tenho parentaiada para me perguntar "e os namoradinhos?" no natal e no ano novo, porque não comemoro tais datas com parentes.
Mas logo na curva, em março, tem o aniversário da minha avó, o que sempre gera um churrasco com direito a parentes de até quinto grau que eu nem lembro que tenho no resto do ano (e que muitas vezes só sei que é parente porque alguém me conta durante o churrasco).
Sendo minha vó, minha mãe de consideração, eu não tenho escapatória. Fico no meio do evento fervilhando de Liras e Oliveiras e Marcianos e Nascimentos, a maioria com caras, vozes e hábitos muito semelhantes, e vizinhos que se convidam ou vão mesmo entrando sem aviso nenhum.
Muitos deles, conhecendo meu gênio ruim, evitam, sabiamente, qualquer tipo de aproximação e se limitam a um cumprimento de longe com um aceno de cabeça, ou fingem que não me viram, favor que retribuo.
Mas tem sempre alguém para forçar amizade. Geralmente pessoas que eu nem sei o nome, mas eles sabem o meu: "Cíntia, como você está bonita. E os namoradinhos?".
Porque a minha vó tem punho de ferro, procuro não ser rude além do limite e muitas vezes apenas sorrio e espero a pessoa prosseguir com seus assuntos vazios até que eu possa arrumar uma desculpa para me desvencilhar de sua presença.
Mas essa noite eu tive um flash genial.
Eu poderia contratar dois caras e deixá-los conversando a um canto. O primeiro que me perguntasse "e os namoradinhos?", e eu abriria o meu sorriso mais forçado e diria "ah, está ali. Vou te apresentar!" e chamaria, em direção aos dois: "Amor..." e eles viriam até nós. Eu me colocaria entre eles e faria as apresentações: "fulano, sicrano e beltrano" etc. E o parente perguntaria: "ah, e qual dos dois é o seu namorado?", ao que responderia: "os dois!", e daríamos um beijo triplo cheio de língua e saliva e mãos bobas bem no meio do quintal.
Haveria silêncio, pratos caindo, crianças chorando, o olhar da minha vó e fim.
Contrata-se namorado de aluguel
Pagamento em beijos, cervejas e lágrimas da família tradicional brasileira (plus: todos os meus parentes são evangélicos)
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
traição
Somos traidores de nós mesmos. Nossas cabeças nos trai constantemente, nossos corações mais ainda... Porém nada em nossos corpos ou essência jamais nos trairá mais do que nossos olhos.
Chamem de clichê se quiserem, mas é a mais pura verdade: os olhos são as janelas para as nossas almas. Bom, ou ao menos para nossos sentimentos e intenções mais genuínas - e o que é alma?
Posso atestar isso, e acho que qualquer pessoa que foi criada por uma figura feminina (seja mãe, tia, vó, irmã etc) também pode, se puxar um pouco na memória: mulheres têm esse dom ainda mais aguçado, o de dizer as coisas com o olhar. E isso se estende para relacionamentos amorosos, porque quando uma mulher ama um homem, ela instintivamente assume o papel de "mãe". Se você já se relacionou com uma mulher, você conhece o olhar. Você já recebeu o olhar.
Não era minha mãe, mas seus olhos, que me viravam do avesso quando eu fazia algo de errado. A antecipação. Eram seus olhos, também, que indicavam ao meu irmão, quando ele aprontava na igreja, que ele deveria se dirigir ao banheiro para apanhar por sua desobediência. Não que ele entendesse sempre, porque garotos são lerdos, mas eu via bem nitidamente aqueles olhos dizendo "ou você vai, ou eu vou te arrastar na frente de todo mundo".
Muitas vezes a boca diz uma coisa e os olhos dizem outra. Já ouvi, ao mesmo tempo, da mesma pessoa, um "eu te amo" e um "você sabe que não é verdade". As pessoas são transparentes assim, se você souber o que analisar.
A vida inteira senti a reprimenda no olhar das pessoas. A decepção nos olhos do meu professor ao me pegar colando foi o maior castigo que ele poderia me dar. O olhar de um amigo diante de uma fala minha me fez sentir mais estúpida do que se ele tivesse dito qualquer coisa. Nos olhos do meu pai eu me sinto órfã. Quando um dos meus irmãos me olha, às vezes eu vejo que ele me acha verdadeiramente linda.
E também já recebi uma séria acusação: "eu vi nos seus olhos que você me achou repulsiva". ...
Sábado eu coloquei um dos meus vestidos novos e decidi tentar sair sem sutiã — tenho tentado me livrar deles, com sucesso em casa, porém fracasso na hora de sair em público. Peguei a deixa nas alças ciganinhas do vestido e não coloquei o dito cujo. Por baixo da peça, uma calcinha cavada que marcava o vestido; a faixa de renda nas coxas que ficava a mostra quando o vestido subia, nos lábios um batom vermelho berrante, mais destacado ainda pelos meus cabelos negros, e blush cor de rosa no rosto. As botas de salto nos pés. Me olhei no espelho. Me senti vulgar — tão viva —, e vi em meus próprios olhos a aprovação. Eu consigo. É só um sutiã. São só seios. Bolsas de gordura. Foda-se.
Muitas vezes a boca diz uma coisa e os olhos dizem outra. Já ouvi, ao mesmo tempo, da mesma pessoa, um "eu te amo" e um "você sabe que não é verdade". As pessoas são transparentes assim, se você souber o que analisar.
A vida inteira senti a reprimenda no olhar das pessoas. A decepção nos olhos do meu professor ao me pegar colando foi o maior castigo que ele poderia me dar. O olhar de um amigo diante de uma fala minha me fez sentir mais estúpida do que se ele tivesse dito qualquer coisa. Nos olhos do meu pai eu me sinto órfã. Quando um dos meus irmãos me olha, às vezes eu vejo que ele me acha verdadeiramente linda.
E também já recebi uma séria acusação: "eu vi nos seus olhos que você me achou repulsiva". ...
Sábado eu coloquei um dos meus vestidos novos e decidi tentar sair sem sutiã — tenho tentado me livrar deles, com sucesso em casa, porém fracasso na hora de sair em público. Peguei a deixa nas alças ciganinhas do vestido e não coloquei o dito cujo. Por baixo da peça, uma calcinha cavada que marcava o vestido; a faixa de renda nas coxas que ficava a mostra quando o vestido subia, nos lábios um batom vermelho berrante, mais destacado ainda pelos meus cabelos negros, e blush cor de rosa no rosto. As botas de salto nos pés. Me olhei no espelho. Me senti vulgar — tão viva —, e vi em meus próprios olhos a aprovação. Eu consigo. É só um sutiã. São só seios. Bolsas de gordura. Foda-se.
Mas quando eu desci as escadas e saí para o quintal, onde a minha vó estava, em companhia de outras pessoas, ela me olhou dos pés à cabeça e seus olhos revelaram total desgosto. A minha vó é submissa e "educada", porque é de uma época em que mulheres deveriam ser assim em todos os aspectos da vida. Então ela raramente expressa seus pensamentos através da fala, muito menos na frente de outras pessoas. Mas seu olhar sempre diz exatamente o que ela está pensando, e para mim, raramente há elogios.
Ali, sem nenhuma palavra, ela me deu um sermão completo sobre moral e bons costumes, que eu não sou uma mulher correta, e que vestidos me deixam mais gorda. E você realmente está sem sutiã?
Desviei os olhos, me despedi e saí rua afora. Andei em direção ao ponto de ônibus.
Estava no meio do caminho, e todos que me olhavam pareciam concordar com a minha avó - e não era suas próprias opiniões o que estava me incomodando, mas o lembrete constante da opinião da minha avó e seus olhos severos. Parei, olhei o relógio. Estava atrasada, mas dei meia volta, caminhando rumo à minha casa o mais depressa e naturalmente possível.
Passei, pela segunda vez, pelo grupinho de garotos que lagarteava na calçada em frente à minha casa, só que dessa vez, subindo, não consegui ignorar seus olhares, e vi em alguns a zombaria e em outros um certo desejo. Abri o portão e me enfiei dentro do quintal novamente. "Esqueci o bilhete", disse, e subi para o meu quarto. Fechei a porta, tirei o vestido, tirei a calcinha, tirei as botas, liguei o ventilador e fiquei na frente dele.
Então, recomposta, coloquei uma calcinha que não marca, coloquei o sutiã, suavizei a maquiagem, calcei o all star, me olhei no espelho e meus olhos disseram: "covarde". Tomei meu rumo. Os meninos não estavam mais na calçada.
Eu geralmente evito os olhos das pessoas. Não pelo que poderei ler neles, mas porque me sinto vulnerável, exposta. Quando converso com as pessoas, eu olho para suas bocas, como se quisesse me apegar ao que elas querem que eu acredite. Às vezes me pergunto se elas notam.
Tenho, porém, um amigo, que com um magnetismo inexplicável agarra os meus olhos e os cola nos seus. Enquanto conversamos, geralmente sentados frente a frente, eu não consigo desprender meus olhos dos dele, por mais que eu tente. Me sinto intimidada. O desconforto me atinge de tal forma, que eu fico subitamente ciente de tudo que compõe meu corpo e minha vida. Não consigo ouvir muito do que ele diz com a voz, apenas o que seus olhos deixam escapar. Ele é provavelmente a pessoa mais sincera que conheço.
E eu, que me exponho tanto na internet, que me acho tão sincera e encho a boca para falar da minha rebeldia, gostaria de fechar meus olhos para que eles não entregassem nada a meu respeito. Vejo meus próprios olhos refletidos nos olhos dele; neles, algo devastador. Às vezes me pergunto se as pessoas notam.
Ali, sem nenhuma palavra, ela me deu um sermão completo sobre moral e bons costumes, que eu não sou uma mulher correta, e que vestidos me deixam mais gorda. E você realmente está sem sutiã?
Desviei os olhos, me despedi e saí rua afora. Andei em direção ao ponto de ônibus.
Estava no meio do caminho, e todos que me olhavam pareciam concordar com a minha avó - e não era suas próprias opiniões o que estava me incomodando, mas o lembrete constante da opinião da minha avó e seus olhos severos. Parei, olhei o relógio. Estava atrasada, mas dei meia volta, caminhando rumo à minha casa o mais depressa e naturalmente possível.
Passei, pela segunda vez, pelo grupinho de garotos que lagarteava na calçada em frente à minha casa, só que dessa vez, subindo, não consegui ignorar seus olhares, e vi em alguns a zombaria e em outros um certo desejo. Abri o portão e me enfiei dentro do quintal novamente. "Esqueci o bilhete", disse, e subi para o meu quarto. Fechei a porta, tirei o vestido, tirei a calcinha, tirei as botas, liguei o ventilador e fiquei na frente dele.
Então, recomposta, coloquei uma calcinha que não marca, coloquei o sutiã, suavizei a maquiagem, calcei o all star, me olhei no espelho e meus olhos disseram: "covarde". Tomei meu rumo. Os meninos não estavam mais na calçada.
Eu geralmente evito os olhos das pessoas. Não pelo que poderei ler neles, mas porque me sinto vulnerável, exposta. Quando converso com as pessoas, eu olho para suas bocas, como se quisesse me apegar ao que elas querem que eu acredite. Às vezes me pergunto se elas notam.
Tenho, porém, um amigo, que com um magnetismo inexplicável agarra os meus olhos e os cola nos seus. Enquanto conversamos, geralmente sentados frente a frente, eu não consigo desprender meus olhos dos dele, por mais que eu tente. Me sinto intimidada. O desconforto me atinge de tal forma, que eu fico subitamente ciente de tudo que compõe meu corpo e minha vida. Não consigo ouvir muito do que ele diz com a voz, apenas o que seus olhos deixam escapar. Ele é provavelmente a pessoa mais sincera que conheço.
E eu, que me exponho tanto na internet, que me acho tão sincera e encho a boca para falar da minha rebeldia, gostaria de fechar meus olhos para que eles não entregassem nada a meu respeito. Vejo meus próprios olhos refletidos nos olhos dele; neles, algo devastador. Às vezes me pergunto se as pessoas notam.
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