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domingo, 15 de maio de 2022

Anderson

Você morreu.
Acabou. Você acabou.
Era para eu estar feliz? Aliviada? Me sentindo vingada? Eu não estou sentindo nada de bom. O que sinto é a raiva crescendo em mim, se espalhando dentro de mim, tomando conta dos meus movimentos. Meus músculos se contraindo, meus punhos cerrando, meu coração acelerando mais e mais e mais, ... Sinto o nojo e o ódio exercendo sua força violenta na minha alma, me estraçalhando um pouco mais, me tornando menos humana. Lágrimas grossas inundam meu rosto.
Nunca pensei muito na sua morte. Você esteve perto dela algumas vezes ao longo dos anos, mas o pensamento de você morrer nunca me foi realmente reconfortante. A morte sempre pareceu tão pouco — mesmo as formas mais brutais de morte! Parecia mais justo você continuar vivo, sujo, fraco, chafurdando em decadência e dor. Vivendo um reflexo do que me fez, do que me tornou.
Eu te odeio, Andy.
Houve um tempo que eu te amei. Te amei com a pureza de uma criança, com a devoção de uma sobrinha para o seu tio preferido, mas você destruiu o amor, você me destruiu. Você profanou meu corpo, marcou minha alma, matou minhas possibilidades. Mudou o rumo da minha vida inteira. Tudo que eu tenho, tudo que eu sou, tudo que eu amo, está manchado pelo que você me fez. Tudo que eu não tenho, foi você que me roubou. Você roubou uma criança de 6 anos de ter uma vida saudável e plena. Você esvaziou minha alma de tudo que era bom e no lugar colocou apenas podridão. Você me roubou minha família, que preferiu ficar ao seu lado e acreditar que eu sou mentirosa e torpe. Você me roubou a possibilidade de construir uma nova família, longe de você, porque me deixou louca, sem nada para oferecer para uma criança, para alguém. Você, com a sua imundície, nunca está realmente longe de mim.
Nunca pensei muito sobre sua morte, mas muitas vezes pensei em te ferir. Parada e muito quieta, por anos tenho perdido meu tempo mergulhada no mesmo devaneio. Nele eu vou atrás de você com um pedaço de pau, e, aproveitando do seu estado físico lastimável, te acerto repetidamente e sem piedade, fazendo a madeira subir e descer com vigor, atingindo seu corpo, dilacerando sua pele, quebrando seus ossos enquanto te ouço implorando que eu pare e sinto o seu sangue jorrar e espirrar em mim. Mas eu ignoro suas súplicas e continuo até você apagar. A energia desse devaneio é tão forte, que quando volto a mim, sinto cansaço pelo esforço físico de te agredir.
Eu sempre pensei em tornar esse devaneio uma realidade.
Agora você me roubou até essa possibilidade.
Morrer engasgado com um pedaço de pizza é pouco. É aleatório e misericordioso. Saber da sua morte é pouco. Eu queria ter causado sua morte, eu queria ter te assistido morrer. 
Você morrer não é suficiente. Nada seria suficiente.
Hoje, como tantas vezes, eu estou chorando sozinha. As pessoas choram por você. Minha mãe chora por você, meus avós choram por você. Choram sobre o seu corpo. Ninguém chora por mim. Não tem ninguém para me abraçar e me aquecer. 
Não estou chorando por você. Estou chorando por mim. Pela Cíntia de 6 anos, sendo manipulada e violada por você. Pela Cíntia de 15 anos, sendo desacreditada por sua própria mãe após tentar se matar. Pela Cíntia de 21 anos... suja como você, entorpecida de álcool e cocaína como você. Pela Cíntia de 32 anos, que te odeia, que tem te odiado uma vida inteira, mas sente esse vínculo eterno com você.
Eu te odeio. Te odeio, mas meu ódio vai te manter vivo. Quem te ama vai morrer. As pessoas vão te esquecer. Essa é a verdadeira morte, ser enterrado e esquecido! Exceto que eu não vou te esquecer. Você vai permanecer em mim da forma mais vil. Nos meus pesadelos, nos meus pensamentos, nas lembranças que me tomam de súbito e corrompem meus melhores momentos... na minha auto-destruição, no meu fracasso!
Você não vai morrer de fato, até que eu morra e seja esquecida por todos. Porque você roubou minha vida, e mesmo quando eu morrer, você vai continuar vivo na minha história. Quando pensarem em mim, sua existência vai estar atada à minha.
Não existe justiça possível.
Você não morreu.
Você não acabou. Você acabou comigo antes mesmo de eu começar.





segunda-feira, 28 de outubro de 2019

ruan, bukowski e cigarros

   Eu esbarrei num poema do Bukowski. Esbarrei no meu maço de cigarros. Esbarrei em você. É sempre assim, lembra?
   "Cíntia, chega de falar de Ruan, Bukowski e Cigarros! Porra!"
   Esbarrei numa garrafa de cachaça, ouvindo a playlist que fiz com músicas que contam nossa história, ou ao menos, a minha versão da nossa história.
   O poema do velho falava sobre partidas e chegadas e partidas. 
   Confesso que olho seu perfil de vez em quando, mas não há nada o que ver, ele está trancado. Você é tão misterioso, ui.
   Eu havia deletado todas suas fotos e todas nossas conversas do meu celular, apaguei seu e-mail dos meus contatos, mesmo sabendo-o de cor, e pensei que estava livre, sem acesso a você, assim eu poderia fingir que nós nunca acontecemos, que eu nunca te amei; aí meu celular quebrou, e eu voltei a utilizar um aparelho antigo. Abrindo a galeria do mesmo: fotos suas. Prints nossos, de momentos mais doces. Dei de cara com o poema que você me escreveu, que me deixou de pernas bambas. Eu tive que me apoiar numa mesa quando li suas palavras naquele dia, Ruan. Depois fiquei com a calcinha molhada no metrô, roçando minhas coxas disfarçadamente, mordiscando meus lábios para tentar represar todas aquelas sensações; o misto de tesão, preocupação e ternura.
   Foi como uma porrada no estômago ver fotos da sua barriga, das suas pintas, dos seus pés calçando coturnos, dos seus pêlos, mas principalmente, do seu pau. Esse pau aí, sobre o qual você se sentia inseguro, e eu endeusei tanto, que você ficou confiante o suficiente para mostrar para outras mulheres, para usar em outras mulheres. Eu até poderia viver com isso, mas o fato de você ter parado de usá-lo para o meu prazer realmente foi demais para mim.
   Te odeio! Todo dia acordo e tento me convencer de que te odeio. Mas não, eu ainda amo seu olhar de tormenta e o tom da sua pele. Ainda amo suas mãos e seus dedos, e seus dedos segurando cigarros e sua boca, e sua boca soltando fumaça de forma ensaiada, te fazendo parecer um bad boy de um filme adolescente qualquer, e não o big shot da sua série de motociclistas favorita.
   Eu te disse adeus, você me disse adeus, eu voltei. Voltei duas vezes, três... voltei tantas vezes, que perdi as contas! Acho que você também perdeu as contas de quantas vezes disse que nunca mais me aceitaria de volta, e aceitou. Perdemos as contas de quantas vezes agimos feito personagens de um romance decadente, apegados a um amor canalha, ou mero desejo destrutivo. Mas da última vez que te disse adeus, você não retribuiu. Você pensou que eu voltaria. Bem, Ruan, eu não voltei. Meu adeus foi sincero, Ruan. E você não retribuiu ao meu adeus, Ruan! Pro inferno, você e seu maldito pau! Esse pau, que para dificultar mais as coisas, tem veias saltadas e uma pinta, bem do jeito que eu gosto.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

humana

   Eu sei que você não deve mais pensar em mim, mas eu penso em você todos os dias que estou acordada. Fico parada no escuro, no silêncio, a pele eriçada pelo pensamento do abraço que você me prometeu. E nos dias que escolho não despertar, eu sonho com você. Nós dois juntos na cama, lendo poemas entre um beijo e outro. Lábios explorando pintas.
   Ainda fico tentando imaginar seu cheiro e a textura da sua pele. A imagino quente e macia, e chego a sentir, de um jeito muito abstrato, o conforto do seu corpo no meu.

   Ouço músicas que me fazem pensar em você, mesmo sabendo que você não gostaria delas, e penso em todas as coisas que poderiam ter sido e nunca serão...
   Vejo você surgindo um dia, mesmo que leve muitos anos, e dizendo que agora é diferente. Eu sei que é bobo, e eu sei que você nunca vai surgir dizendo isso, mesmo que as coisas sejam diferentes! Imagino você racionalizando e escolhendo me ignorar.
   Toda vez que acendo um cigarro eu lembro da sua voz e dos seus lábios se movendo, ... e agora foram muitos cigarros.
   Às vezes eu estou na rua, na fila do ônibus ou numa livraria e vejo mãos parecidas com as suas... Minhas pernas fraquejam. Sinto um nó na garganta. Lembro dos seus dedos segurando cigarros e os tragando, daquele jeito encenado que me cativou. As lágrimas surgem e ficam presas nos meus olhos até que eu inevitavelmente pisque, então elas escorrem, um filete de cada lado, inundando meu rosto e indo parar no meu peito. 
   E às vezes eu lembro da sua risada, ao lado da sua namorada, e novamente sinto aquela sensação. Minha pele sendo arrancada do meu corpo.
   Eu só queria que você soubesse.


segunda-feira, 5 de março de 2018

oi sumido

   Lembra como era? 
   Era horrível. A gente não se encaixava. O seu pênis ficava escapando. 
   Eu não gostava do seu cheiro e nem do seu gosto, mas te chupava mesmo assim. Mesmo quando você teve aquela infecção urinária.
   Eu nunca gozei. Você teve uns bons momentos. Às vezes, nada. 
   Lembra? Era bem estranho. Estávamos competindo o tempo todo...
   ... Qual de nós era o mais talentoso, o mais inteligente, o mais porra louca; quem lia mais e quem bebia mais antes de cair...
   Whiskey de dez conto descendo sem gelo. Deitávamos no colchão do seu quarto ao som de Depeche Mode e você me depreciava.
   Você gostava de morte (e eu também — mas de formas diferentes).
   Quando saíamos rachávamos a conta. Meus irmãos te odiavam ainda mais por isso. Tem toda a moral patriarcal. E você os desafiava
   Saindo do meio dos meus lençóis e passando em frente ao local de trabalho deles, numa declaração descarada: "acabei de foder sua irmã".
   Isso também demonstrava a minha falta de moral, na visão deles.
   Mas eu tinha pudor até demais.
   Quando você queria, eu não queria; quando eu queria, você não queria. Não tínhamos sincronia.
   Te fiz um belo almoço vegetariano (minha sina), mas você não apareceu.
   E teve aquele dia, na Praça do Forró...
   Você chegou, moicano e maquiagem, a pele mais canela e aveludada do que nunca, como numa foto em alta resolução; uma camisa social vinho sobre uma camiseta toda suja de tinta. Um jeans surrado, igualmente manchado. Te achei tão sexy. Quis pegar no seu pau e te beijar ali mesmo. Mas apenas disse, a voz quase sumindo: "você é tão sexy". Seu olhar alcançou o meu, cheio de delineador e impaciência, e você não disse nada.
   Bebemos a cerveja barata e ficamos sem dinheiro para a condução... andamos até a sua casa. Ao chegarmos eu estava toda suada e descabelada, mas me sentia estranhamente fêmea.
   Você comeu brócolis e me deu presunto, me censurando de forma passivo-agressiva por comer bicho.
   E tinha uma menina, eu acho que se chamava Carol ou Ana ou Beatriz, um desses nomes de moça de família. Eu não sentia nada por você além de ciúmes. Era a mais pura definição de terror. E acabou.
   Mas hoje eu estou sozinha e entediada. Meio angustiada. Estava acompanhando os ultrajes do Big Brother Brasil, veja a decadência! Ouvi Jeff Buckley pensando em uma pessoa . E depois você surgiu no meu pensamento. Nem sei de onde veio.
   Eu poderia te mandar uma mensagem... Eu sei que faz uns 6 anos. Eu não te suporto. E nunca foi muito bom.

Oi sumido

Não. Não sou tão sutil.
E aí, quer foder?

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

inteira

   Quando eu me dou para as pessoas, elas nunca me querem inteira. Me querem fragmentada. Eu sou um ser humano completo, com desejos e sentimentos que por vezes  parecem não caminhar juntos, mas que são os mais sinceros que alguém pode oferecer...
   E isso é inaceitável para elas. Querem apenas o que fica entre o bom e o sofrível, quando, ao contrário, eu ofereço excelência. O mundo que existe dentro de mim — esse solo nunca explorado. Eu ofereço mais do que o suficiente. Ofereço uma viagem completa e louca.
   Mas não. Querem que eu escolha uma só fantasia e nunca me dispa dela. Ser a irmã ou ser a puta. Ser a amiga ou ser a amante. Ser fofa ou ser safada. Eu quero ser tudo, quero ser plena. Nós não precisamos seguir uma linha reta, e por que você está tão assustado?
   Eu acordei e estava contente. Mas o contentamento durou pouco e foi engolido pelo buraco negro que habita minha alma. As lágrimas rolaram sobre o travesseiro ao qual eu durmo agarrada, fingindo que é o seu corpo entre meus braços, seu peito sob a minha cabeça...
   O desejo era latente no espaço mais íntimo do meu ser; o desejo de te adorar e ser adorada na mesma proporção; tocar todos os espaços que existem em você e ser tocada como nunca antes... E que ilusão é essa! Desejo que nunca alcanço...
   Brinquei com a possibilidade de te ligar, eu diria: "te quero! e você? algum pedaço de você me quer?"
   Mas eu quero que você me queira por inteiro também...
   Se não te ligo, se não te pergunto e permaneço esperando, é porque sei o que ouviria.
   Então eu me atiraria em direção a um penhasco ou de outros braços: dá na mesma.



quarta-feira, 18 de outubro de 2017

ciclo

   Even though you've got a million best friends 
I don't want the label I just want your presence
I see you as a brother just as much as a best friend 
So I will fight the deeper urge to say "come home" 
'Cause I know you have to go, I know you have to go ♫

   Um ano atrás eu fui lá, montagem fofinha com nossas fotos e as coisas que gostamos, textão professando meu amor por você — e você, em contrapartida, me dizendo que estava chorando com a mensagem, que, veja bem, era sincera.
   Eu lembro da primeira vez que te vi. Eu imediatamente notei que a sua aura é azul. Suas mãos eram como sempre foram: mãos de artista. Seu jeans era apertado e tinha uma mancha de tinta. Você conversava com os seus amigos, um pouco acelerado, toda uma expressão corporal, e eu o observei e pensei que um cara como você nunca iria notar uma pessoa como eu.
   E com surpresa recebi a sua solicitação de amizade. Você diz que desde a primeira vez que me viu quis ser meu amigo. Me enfiei no seu grupo só para tê-lo por perto, mas você, relapso, mal ficava entre eles, sempre atrasado, sempre correndo. 
   Mas às vezes você ia fumar e me chamava para ir com você, e mesmo asmática eu ia, porque gostava de te ver fumando e falando suavemente naqueles momentos, com tanta classe. Como um personagem de filme dos anos 50; com trejeitos felinos.
neverland 42
   E no ano passado nós rimos, nos lembrando daquela vez que marcamos de nos encontrar na sua casa, logo no início de tudo, e eu, na pressa de te ver, sempre ansiosa e deslumbrada, cheguei uma hora antes, dando de cara com a porta, pois você não estava em casa ainda. Eu tenho uma foto da porta fechada, o número 42 pendurado. Tirei enquanto estava sentada nos degraus, onde fiquei te esperando, lendo um livro, nem lembro qual. 
   Nós mal nos conhecíamos naquela época. Quando você chegou compartilhamos um abraço breve e frouxo. Mas você esteve lá de forma constante e firme. Por um tempo. Como naquela vez, entre as muitas em que eu bebi muito e vomitei sobre mim mesma; mas naquela vez eu não me limitei a beber e vomitar e capotar, acordando duas horas depois enjoada. Naquela noite eu entrei em um quarto, tranquei a porta e tentei me jogar da janela do seu apartamento. Você, que nem me conhecia, arrombou a porta e me puxou, expulsou as pessoas assustadas e curiosas, despiu minha camiseta e colocou em mim a sua camisa azul. Eu ainda tenho a camisa. Eu ainda lembro do que te disse, os meus motivos, e ainda lembro que você tentou me consolar. Eu fiquei mortificada no dia seguinte, mas você entendeu sem me julgar.
   E assim seguimos, nos conhecendo, construindo confiança, rindo, bebendo até cair, quase chorando às vezes, ouvindo um ao outro; e com o passar do tempo, melhores amigos, desafiando um ao outro, ora artisticamente, ora com comentários passivo-agressivos. Você sempre atrasado e eu sempre adiantada. Eu querendo te abraçar forte, e você se desvencilhando dos meus braços muito rápido. Isso nunca mudou, nem com os anos de amizade. E toda vez que nos abraçamos eu me pergunto, com mágoa, por que você se afasta tão rápido. Eu te olho abraçar outras pessoas e são abraços demorados. Abraços como abraços devem ser.
   Vieram outras amizades — para você, e eu me tornei figurante. Eu não sei mais o que acontece na sua vida. Você também não sabe o que acontece na minha.
   Em algum momento nós desconstruímos a confiança e o riso ficou mais fraco e paramos de beber juntos. Só eu caía, você ficava em pé a noite inteira. Eu chorei, você eu não sei. Nossos desafios deixaram de ser ligeiramente agressivos e se tornaram abertamente tóxicos. Nós não sabemos porque continuamos. Você me pergunta o que eu quero de você, porque não o deleto como faço com todos, e eu não sei responder. É que eu te amo. Às vezes.
   Mas não consigo deixar de sentir que não pertenço ao seu mundo de pessoas inteligentes e interessantes e bonitas; atores, modelos, artistas plásticos, fotógrafos e músicos.... e gin e tônica e coisas sofisticadas. Eu não consigo deixar de sentir as coisas deslizando para bem longe do meu alcance. Eu não consigo sua atenção, uma resposta, reciprocidade. Quando nos encontramos eu não te sinto empolgado por me ver. Como se não importasse. Às vezes eu te amo muito, e às vezes te amo quase nada.
   Você cresceu, e eu permaneci pequena. Você foi a lugares, eu continuei parada. O número 42 não está mais lá, nem mesmo com a porta fechada para que eu fique apenas olhando. Eu nem sei onde você mora mais. 
   Então esse ano eu não fiz montagem engraçadinha e nem textão. Eu te mandei uma mensagem breve, disse que te amo. Você não respondeu. Você quase nunca responde. Sempre correndo.
   Mas tudo bem, não é por isso que você vai ter um aniversário menos emotivo. Outras pessoas te mandaram montagens e textões, seus novos melhores amigos e os antigos que você, de alguma forma, conseguiu tempo para manter.
    Feliz aniversário. Eu te amo?

sábado, 23 de setembro de 2017

o livro

   Sabe aquele livro que você me recomendou? Eu o comprei. Não foi barato, não. E tem a crise. Mas comprei, e comecei a ler assim que chegou...  até os Correios colaborou, chegou em 2 dias! 
   Eu sei que você já sabe disso, mas não consegui pensar em melhor forma de começar a escrever isso aqui (vamos fingir que você não sabia).
  Alguns diriam que só comprei para te impressionar, mas a verdade é que o seu intelecto (ou curiosidade ou esforço ou como você queira chamar) me instiga. Eu ainda vou lamber o seu cérebro. ...
   Você fala algumas coisas extraordinárias e referencia clássicos que não li (por preguiça ideológica) e filósofos que não conheço (estava ocupada durante as aulas, escrevendo poesia ruim) — mas até que te acompanho bem, não acha? Talvez um dia eu chegue lá.
   O livro me incomoda em alguns pontos, você já sabe. Mas notei que às vezes o que me incomoda é justamente o que tenho em comum com o autor. Quando eu o odeio, estou odiando meu próprio comportamento. Você estava certo quando disse que esse livro tem a ver com aquela crônica sobre minhas "aventuras amorosas". Por outro lado, devo admitir que apesar das torcidas de nariz ocasionais diante das muitas colocações altamente machistas, que eu concordei em contextualizar, me pego rindo de verdade em algumas partes, e sentindo um nó no estômago em outras. Ele sabia dar umas porretadas bem dadas. O filho da puta era bom no que fazia.
   Fiz orelhas bem pequenininhas — tenho essa mania — nas beiradas dos meus poemas preferidos, para comentar com você depois, um dia, de preferência pessoalmente. Te imagino sentado, analisando as páginas marcadas, e eu espiando sobre o seu ombro, para ver em qual página você está. Você os leria, por indulgência, e poderíamos comentar algo sobre esse e aquele poema. Você poderia me perguntar por quê gostei desse e não daquele. Poderia me mostrar os seus preferidos.
   Sei que se eu for ali na nossa janelinha, que por sinal acabou de apitar, e te disser o nome dos meus preferidos, você não lembrará deles, não de cor, e poderá até procurar no google, como numa missão de reconhecimento, mas não seria a mesma coisa. Deve ser essa minha fase, em que o virtual anda alterando o sabor (ou a cor?) das coisas.
   Esse livro tem tanto do que nós já conversamos, e algumas coisas que não conversamos ainda, mas que soa como coisas que diríamos — diremos. Esse tipo de sincronicidade me atordoa!
   Por que começamos a falar desse velho safado, mesmo?... Seja pelo que for, agora eu fico aqui lendo e te vendo, também, em muitos dos poemas. Os que têm mais humor do que safadeza. Tiago, sinto te informar, mas eu acho que ele não gostaria de você. Você ouve Bob Dylan alto.
   Eu sempre fui mais Baez do que Dylan, para ser sincera. Afora o machismo (você deve estar cansado das minhas acusações de machismo nas artes, mas podemos concordar com a inevitabilidade de tal hábito?), uma vez meu avô, que tem uma coleção extensa de VINIS, me prometeu a discografia do Dylan, o que me empolgou muito. Me imaginei com vários discos de vinil, e estava pronta para comprar um toca disco. E no fim, o que recebi? Não, ele não me deu discos de vinil, e sim um CD pirata com músicas do Dylan! Que afronta! Que broxante! Desde então eu não quis mais ouvir Bob fucking Dylan. Isso faz uns 4 anos.
   E agora estou aqui, com o livro que você recomendou na minha frente, escrevendo para você, e ouvindo Bob Dylan. One More Cup of Coffee. Eu não tomo café. Você não toma cerveja. Eu acho que quando nos encontrarmos, teremos que nos contentar com chá. Você gosta de chá, Tiago?
  ... Você fica me perguntando se gostei ou não do livro, como quem teme ter feito uma recomendação que não agradou. E eu digo que quero terminar de ler antes de opinar.
   É que hoje em dia eu leio mais devagar. O tempo é curto, e além de ler, eu tenho que dividi-lo entre ouvir as mesmas músicas repetidamente, reassistir seriados velhos que ainda me causam sensações oportunas, e lavar meus cabelos.
   Aliás, eu também deveria usar um pouco do meu tempo para ir ao mercado e riscar os itens da minha lista de compras. Só que a lista está me servindo de marca-página sempre que eu sou forçada a deixar o livro de lado.
   E talvez esse tipo de livro seja melhor apreciado em pequenas doses, de qualquer forma.
   Se você quer tanto saber: sim, eu gostei do livro! Gostei, porque às vezes não gostei. Gostei porque às vezes ele foi completamente indigesto e grotesco. Gostei porque ele socou minha cara e espremeu meu coração entre suas pequenas páginas. Essas reações adversas são a prova de que algo presta. Por alguns momentos a indignação e repulsa nos balançam e nutrem dentro de nós essa coisinha chamada vida.
   

   Eu sempre tenho perguntas para te fazer, então aqui vai mais uma, para encerrar: você acha que eu me excedo no uso dos travessões?

quarta-feira, 27 de maio de 2009

desperdício


Eu estou realmente contente por mim! Por minhas evoluções como ser humano e por não ser mais a garotinha chata que eu era anos atrás. Mas, não atingi meu melhor.
Amar demais ainda é meu problema. Não, é o termo errado. Não existe "Amor demais". Há, sim, ilusão demais.
Mas, tudo bem, porque quando meu coração se parte as palavras surgem com mais facilidade. Inspiração.
Não serei mentirosa (assim como nunca o fui), estou sofrendo. Como se estivesse no inferno! Mas, já estive no fim do abismo e desta vez não estou nem perto dele. Vou superar.
Só descobri o quanto odeio covardia. Sim, querida, você foi covarde... é imperdoável. Porque dói muito saber que há AMOR, e que ELE está sendo desprezado. Sobretudo, a amizade está sendo desprezada aqui. A gente joga algumas coisas fora e percebe de forma tardia que jogamos fora algo que era essencial. Algo que nos tornava uma pessoa melhor. Algo que fazia com que gostássemos de nós mesmos. E que nos respeitássemos. Se não há amor, acho que pelo menos o respeito TEM que existir.

"Eu olho. Não, pior, eu vejo!"