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sábado, 9 de março de 2019

viver

Penso em suicídio quase todos os dias.
Eu não deveria dizer isso, né? Não é isso que vocês querem que eu diga. Querem que eu diga que sou feliz, querem que eu dê a certeza de que tudo vai ficar bem.
A maioria dos profissionais de saúde mental que passou pela minha cabeça tentou me fazer emagrecer. Estavam sempre conectando minha depressão ao meu corpo, sempre forçando a ideia de que um corpo magro consertaria o problema dentro de mim. E por mais que eu tenha, sim, desejado, por muitos anos, um corpo magro, mesmo naquela época eu já sabia que esse não era o remédio para o que me sufoca.
Meu maior problema, a origem dos meus transtornos, nunca foi meu corpo.
Nunca disse que sou feliz, inclusive, no princípio, rebati tal percepção. Até que desisti de contrariar meus seguidores. As pessoas me dizem "queria ser feliz como você". Eu, que nem acredito em felicidade. O conceito de felicidade da sociedade é uma coisa estática, tão artificial quanto flores de plástico. As pessoas querem SER felizes, independente do que aconteça. Ninguém É feliz. FICAMOS felizes às vezes, dadas as oportunidades. E são tão poucas, numa sociedade doente, opressora, escravizadora...! Eu fico contente às vezes. Sorrio às vezes, gargalho às vezes, gozo sempre, em breves momentos. A alegria, diferente do estado permanente de felicidade que se busca, é efêmera, mas é real.
Eu amo meu corpo. Amá-lo mudou minha relação comigo mesma e com outras pessoas; me dá mais energia e vontade de lutar pela minha vida e pelo mundo. Mas amar meu corpo não mudou a sociedade. Não mudou a forma que sou tratada por ela. O mundo continua girando, e hoje sou mais humana do que antes. Eu sinto as coisas como sempre senti, e mais um pouco, porque agora eu sei quais são os meus direitos: e eles continuam sendo negados.
Eu luto contra meu lado auto-destrutivo, contra os meus impulsos. Luto contra a violência da sociedade, enquanto dizem que eu devo me matar. Sinto a força brutal dessa luta na minha mente, no meu corpo!
Penso em suicídio toda noite que me contorço de solidão, e nos dias que eu não consigo emprego. Penso em suicídio quando lembro todas as coisas sádicas que me fizeram. Penso em suicídio quando acordo de um pesadelo no qual meu corpo é violentado, o coração acelerado e o pânico se espalhando pelo meu sangue. Penso em suicídio entre as paredes mofadas do meu quarto, sentindo o mofo me adoecer. Penso em suicídio quando não tenho o que comer, e nem dinheiro para sair. Penso em suicídio quando olho para as pessoas e vejo que elas não querem mudar, que estão conformadas com o sistema que as aprisiona. Penso em suicídio quando sinto toda a dor que existe no mundo.
A vida é luta. Resistência. Cansaço!
Eu penso em suicídio mas não quero morrer! Penso em suicídio porque não me deixam viver!

domingo, 6 de janeiro de 2019

esquerdomacho II

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Camisa xadrez, como a dele
Fala aveludada, como a dele
Discursos mais furados do que roteiros de filmes de baixo orçamento sobre viagem no tempo, como os dele
A barba mais cuidada do que um bebê recém-nascido, como a dele
O olhar cheio de malícia e vazio de sentimentos, como o dele
A mente transbordando fetiches, a dele

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Pretensamente experiente, como ele
Amante de todas as mulheres, como ele
Adorador de gatinhos, como ele
Poeta marginal, como ele
Doido pra dar pro Lula... como ele

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Cheio de lembranças de ex-namoradas loucas, ele
Agarrado à saia da mãe, ele
Numa relação quase incestuosa
Ele, procurando resolver o Complexo Materno
Nas mulheres que conhece

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Ele que me queria louca
Ele que me queria livre dentro de um cativeiro
Ele que me queria comendo na palma de sua mão
Ele que me queria sangrando
Ele que me queria chorando
Ele que me queria como se eu fosse um brinquedo

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Eu lembro como é se sentir fraca
Frágil
Doente
Impossível de ser amada

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Eu lembro que o odeio
Lembro que ainda o amo

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Eu penso em destruição.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

a doença

Tem dias que o impulso é
Destruir

Lugares
Coisas
Pessoas

As propriedades
Os Proprietários
O que não tem dono

Destruir o Mundo
Da mesma forma que ele me destruiu

Destruir
-
Me

Eu posso jogar as lâminas fora
Cortar minhas unhas bem curtas
Trocar o álcool por água
Não comprar cigarros
Eu posso me achar bonita
Colocar as melhores roupas

Eu posso sorrir
E gargalhar

Posso inventar novos métodos

E as pessoas ainda vão dizer
Seus olhos são vazios

A Destruição está dentro de mim

Nas relações que eu vivo
No meu jeito errado de amar
Na esperança de ser correspondida
Na bagunça do meu quarto

Lágrimas, olhos vermelhos,
A música tocando

A Doença
Não me deixa
Viver

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

auto-conhecimento

   Não dormi, mas comecei o dia gargalhando. Seis horas da manhã e minha risada alta preenchia meu quarto, provavelmente se fazendo ouvir fora dele. Ri tanto, que a minha barriga começou a doer, enquanto as lágrimas escorriam pelas minhas bochechas e embaçavam meus óculos. Eu tentava não rir, porque o motivo do riso desenfreado era a desgraça de algumas pessoas que caíram com a freada violenta de um ônibus. Parava por alguns minutos, segurando o riso com a consciência pesada, mas depois não aguentava, e o ritual descontrolado recomeçava.
   Ouvi os passos em frente à janela do meu quarto. Ouvi minha avó na cozinha, senti o cheiro do café. Eu não tomo café, mas devo admitir que o cheiro de café, especialmente pela manhã, aguça alguma coisa boa dentro de mim.
   Entre o riso e o silêncio culpado, ouvi o barulho das xícaras na cozinha, e o som de pessoas cochichando. Tentei ouvir o que diziam, mas não deu.
   Eu ainda estava indecisa se deveria ir à consulta com a psiquiatra ou não, mas pensei: "ainda tenho bastante tempo", e depois me ocorreu que é justamente quando eu tenho tempo de sobra que me atraso. Eu me conheço, estou sempre certa. Me atrasei, depois de colocar uma roupa qualquer e sair correndo, de cara lavada, na chuva que tornava o chão escorregadio sob o meu all star velho demais para ter algum efeito anti-derrapante. Quase escorreguei algumas vezes. Teria sido um belo castigo, ser filmada escorregando para abastecer o riso de alguém depois, na internet.
   Mas não caí. 
   Cheguei ao posto de saúde, tirei os óculos escuros respingados da chuva, e peguei a senha eletrônica. Agora tem isso lá, e eu me sinto de alguma forma traída por esse avanço tecnológico. Tira o aspecto familiar da coisa. 
   Mais traída ainda me senti quando minha senha foi chamada, e a recepcionista não lembrou meu nome. Ela me olhou, olhou para a tela do computador por uns segundos, e me olhou de novo, soltando um odioso: "esqueci seu nome...". Ela me conhece há dez anos. Eu sei o nome dela e de todas as pessoas no posto de saúde. Aos poucos, eles esquecem o meu. 
   "Cíntia, prontuário 19-119".
   Enquanto esperava, irritadiça pela noite não dormida, observei as pessoas passando. Auxiliares de enfermagem, as moças da limpeza, o pessoal da administração, e as agentes de saúde. Recebi dois abraços genuínos, fortes, e muitos sorrisos amarelos: "você anda sumida!". Eu sempre busco amor nos lugares mais improváveis.
   O posto está cheio de enfeites florais feitos de papel crepom; dois tons de rosa e um branco, para a campanha de prevenção de câncer de mama. Fiquei com vontade de roubar alguns dos enfeites, colar na parede do meu quarto. Eu sou assim. Uns anos atrás roubei um dos enfeites da já precária árvore de natal do posto de saúde, porque eu preciso ter esses souvenirs para me lembrar dos momentos. Para tornar as minhas memórias tangíveis. Ou para manter a ilusão ativa.
   Pensei em todos os anos esperando por aqueles corredores, vendo as pessoas passando e preocupando-se comigo. Pensei nos meus professores do ensino fundamental. O meu sentimento era o mesmo por ambos os ambientes e seus habitantes. O mesmo amor por pessoas que são pagas para notar a minha existência, e que esquecem do meu nome assim que o meu caso deixa de ser prioridade em suas mesas.
   Comecei a andar de um lado para o outro, inquieta com a demora. Apertei o aparelho de álcool gel, mas não saiu nada, como sempre. Tem uma mesa no corredor, ao alcance dos pacientes, e eu sempre me perguntei o que tinha naquelas gavetas, sem coragem de abrir para ver. Olhei para os dois lados do corredor cheio de pacientes cuidando de suas próprias dores. Abri a primeira gaveta, e, adivinha só, não tinha merda nenhuma. Foi o suficiente para acabar com qualquer traço de tesão detetivesco.
   Me pus a ler os cartazes de prevenção de câncer de mama, e depois o mural cheio de post-its com mensagens "motivacionais". Cuide-se!, dizia um dos post-its. Ame-se! A vida importa! AUTO-CONHECIMENTO! Eu nunca fiz o auto-exame. Pensei em roubar um ou dois, quem sabe três post-its rosa choque. Mas talvez a mensagem fizesse falta para outras pessoas. Eu sou hipocondríaca. Quando eu penso em fazer o auto-exame, penso na possibilidade de encontrar um nódulo, e começo a surtar. A bem da verdade, se eu procurasse eu provavelmente encontraria mil nódulos, a minha ansiedade os colocaria ali.
   Eu me conheço, mas às vezes não quero conhecer demais. Pensei nas minhas seguidoras.
   A psiquiatra me chamou. Ela não lembrava exatamente sobre o meu caso, ficou lendo por cima as páginas do meu prontuário, me fazendo as mesmas perguntas mil vezes, e eu as respondia, sentindo a exasperação crescer. É como se ela não ficasse contente com as minhas respostas, então continuasse perguntando para ver se eu as mudava. Você está pensando em suicídio, ou está planejando suicídio? Qual é a merda da diferença? Perdi a calma com ela, e me arrependi em seguida, porque apenas parte da minha exasperação era pela condescendência dela, a outra parte era pela noite não dormida. Eu sou como uma criança que vai ficando rabugenta à medida que o sono chega, e que precisa deitar e pegar no sono assim que esses momentos batem.
   Ela continuou fazendo as mesmas perguntas e as mesmas propostas. Eu parei de responder, adotando a tática de simplesmente encará-la. Ela continuou na expectativa de uma resposta, e eu continuei oferecendo silêncio, sabendo que meus olhos estavam tão vazios quanto às vezes me acusam.
   Foi uma consulta absurdamente longa, em que nada foi abordado. A minha impaciência crescente, louca para sair dali. Comecei a concordar com ela, era o único passaporte para a saída daquele lugar. Funcionou. Até mais, Cíntia. Obrigada. Tchau.
   Peguei meus remédios, não tinha todos. Estava exausta. Passara horas ali, e a consulta com a psiquiatra no fim me deixou pior do que quando eu cheguei. Com os bolsos da jaqueta jeans molhada cheios de remédios, coloquei os óculos escuros e saí. Eu não suporto claridade, especialmente quando não durmo.
   Ia chegar em casa, tirar toda a roupa e me jogar na cama ao som de Florence + the Machine. Isso não aconteceu. Enrolei o dia inteiro, cansada, sem fazer nada, sem ter noção de como as horas passaram. Dava tempo de ir pro curso ainda, mas eu simplesmente não teria energia física ou intelectual para acompanhar a aula.
   No fim da tarde eu tirei as roupas ainda molhadas, e deitei, cobrindo a cabeça. Meu corpo começou a pesar, minha mente começou a desligar, e o celular apitou. Relutei por alguns momentos, mas descobri a cabeça e estiquei o braço, pegando o aparelho.
   Era ele. Meu coração acelerou. Ele gostou da minha foto de 4. Instigada, minha mente acendeu, voltou a funcionar a todo vapor. Minha buceta a acompanhou. Em alguns minutos ele conseguiu me fazer esquecer da mágoa de situações anteriores, do sono, do cansaço, da exasperação, e tudo isso deu lugar a um tesão violento, que provocava ondas de prazer pelo meu corpo sem que eu ao menos me tocasse. 
   Eu te quero. Você me faz sentir um tesão desmedido. Seu pau está pulsando? Quero me esfregar em você. Imagina, imagina, imagine! Imaginei o coturno dele pressionando meu corpo, me imobilizando contra a parede, deixando as marcas da sola na minha pele. Estava molhada novamente, mas dessa vez não era culpa da chuva, que ainda batia  contra a minha janela.
   E as mensagens começaram a ficar mais espaçadas... 
   Ocupado.
   Ok...
   Abri as pernas, coloquei os dedos para trabalhar, imaginando. AUTO-CONHECIMENTO!
    Os dedos deslizando com facilidade. AUTO-CONHECIMENTO!
   Me esparramei na cama, me desfazendo entre os lençóis e cobertas. AUTO-CONHECIMENTO!
   Soltei gemidos e suspiros... AUTO-CONHECIMENTO!
   A atenção dele nunca é só minha. Eu sempre tenho que dividi-la com outras pessoas, com outras coisas.... AME-SE!
   É só sobre ele. O prazer dele, o sentimento dele, o momento dele, a vida dele. Ame-se ame-se ame-se ame-se ame-se ame-se ame-se, AME-SE, porra!
   Tomada pelo tesão e pela tristeza de uma só vez, comecei a chorar enquanto me tocava, enquanto os dedos entravam em saíam, e o tesão começava a ser vencido pela tristeza. O som do meu choro preencheu meu quarto, talvez se fizesse ouvir lá fora. Chorei tanto, que a minha garganta começou a doer, as lágrimas escorrendo em abundância pelas laterais do meu rosto. Parava por alguns segundos, mas depois não aguentava, e os soluços convulsos recomeçavam. No escuro, no silêncio.
   Os dedos desistiram. Fechei as pernas, deitei em posição fetal e cobri a cabeçaEu sempre busco amor nos lugares mais improváveis. Chorei tanto, que dormi. Por dois dias.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

fumaça

   As coisas invariavelmente começam como se nada estivesse acontecendo. É simples assim. Você não é ninguém pra mim, e eu não sou ninguém para você. Bate até um desconforto, de tanta mensagem chegando, e do impulso de respondê-las. Te vejo como um todo — um amontoado de características. Um homem como qualquer outro. 
    Mas aos poucos... O papo passa do morno para o muito quente — a sensação é, ao mesmo tempo, sufocante e deliciosa, como são as melhores coisas. Palavras bem aplicadas, surge a identificação. Você entra na minha cabeça. Forjamos a conexão... 
   ... Talvez seja por hábito, que nós fazemos essas coisas. Continuamos, porque a opção é o vazio. O nada perde espaço, se torna alguma coisa... Dez minutos já não são o suficiente. Eu quero mais, quero todos os seus minutos e todos os seus pensamentos. 
   Vou isolando suas características, passa a me agradar o que sinto e o que vejo. Pintas, olhos, dedos. Desejo. O jeito que os seus lábios soltam a fumaça... 
   Sozinha na minha cama, fantasio, ao som de Portishead, sobre o seu cheiro. Sobre sua voz, a textura da sua pele... a temperatura do seu abraço. Fico imaginando o tom do seu gemido. Tudo em você é meio encenado...
   Quando noto, você está sob a minha pele. Meu ser anseia por você. A mais inocente lembrança da sua existência eriça todos os meus pelos. O meu coração descompassa, o meu cérebro fica dormente. O seu nome encharca a minha calcinha...
   É tudo muito breve, as coisas são intensas. Mas eu descobri, ao longo da vida, que intensidade é algo que não dura...
    É brutal, a porrada que atinge o meu estômago. O sentimento é um raio atravessando o meu corpo repetidamente. Meu coração ganha mais um remendo. O buraco no qual venho caindo fica mais profundo.
   E de repente, são cinco horas da manhã. Eu fumo meu primeiro cigarro em muitos meses, para me sentir mais perto de você. Olho suas fotos, revivendo as palavras, e penso no absurdo das coisas. Há pouco tempo você nem existia. 
   O fluido transparente escorre pelas minhas coxas, enquanto você dorme com ela.
   Solto a fumaça.



   

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

inteira

   Quando eu me dou para as pessoas, elas nunca me querem inteira. Me querem fragmentada. Eu sou um ser humano completo, com desejos e sentimentos que por vezes  parecem não caminhar juntos, mas que são os mais sinceros que alguém pode oferecer...
   E isso é inaceitável para elas. Querem apenas o que fica entre o bom e o sofrível, quando, ao contrário, eu ofereço excelência. O mundo que existe dentro de mim — esse solo nunca explorado. Eu ofereço mais do que o suficiente. Ofereço uma viagem completa e louca.
   Mas não. Querem que eu escolha uma só fantasia e nunca me dispa dela. Ser a irmã ou ser a puta. Ser a amiga ou ser a amante. Ser fofa ou ser safada. Eu quero ser tudo, quero ser plena. Nós não precisamos seguir uma linha reta, e por que você está tão assustado?
   Eu acordei e estava contente. Mas o contentamento durou pouco e foi engolido pelo buraco negro que habita minha alma. As lágrimas rolaram sobre o travesseiro ao qual eu durmo agarrada, fingindo que é o seu corpo entre meus braços, seu peito sob a minha cabeça...
   O desejo era latente no espaço mais íntimo do meu ser; o desejo de te adorar e ser adorada na mesma proporção; tocar todos os espaços que existem em você e ser tocada como nunca antes... E que ilusão é essa! Desejo que nunca alcanço...
   Brinquei com a possibilidade de te ligar, eu diria: "te quero! e você? algum pedaço de você me quer?"
   Mas eu quero que você me queira por inteiro também...
   Se não te ligo, se não te pergunto e permaneço esperando, é porque sei o que ouviria.
   Então eu me atiraria em direção a um penhasco ou de outros braços: dá na mesma.



terça-feira, 26 de dezembro de 2017

na volta a gente compra

   Às vezes eu preciso me tratar feito criança. Sabe a típica frase, "na volta a gente compra", que todo adulto diz, porém nunca concretiza? 
   Na volta eles sempre fazem outro caminho, e o objeto de desejo da criança, lá na outra direção, fica fora de alcance.
   O meu objeto de desejo está sempre na minha gaveta, ao alcance das minhas mãos, e particularmente de madrugada, ele grita meu nome. 
   Olho para a lista de contatos do meu Facebook, mas não tem ninguém disponível, nem online e nem emocionalmente. Penso em entrar no Bate Papo Uol e falar putaria para atrair a atenção de alguém e ter com quem conversar. Ouço música e navego por todas as minhas redes sociais: nenhuma notificação. Adulta, tento distrair a criança do que ela quer.
   Mas não distraio nem minha cabeça e nem a minha pele do que elas querem. As lâminas, que estão na gaveta, chamam o meu nome.
   Enquanto eu finjo distração, vejo flashes da caixinha dentro da gaveta, das lâminas enroladas no papelzinho protetor. Gosto de lâminas novas, de abrir o papelzinho colado e sentir a cola sendo rompida. E gosto do barulho da lâmina sendo partida ao meio, o estralo que faz entre os meus dedos. Como tudo na vida, o ritual é mais prazeroso do que a ação. 
   Eu digo: "hoje não, Cíntia. Amanhã". E às vezes eu consigo me enganar, sendo ao mesmo tempo a adulta que tenta pregar a peça, e a criança, que, esperançosa, sempre cai na mentira.
   Todos os dias eu me digo "amanhã", e assim eu vou levando até que a tortura psicológica chegue ao limite e eu abra a gaveta, tirando-as lá de dentro, colocando o ritual em prática.
   Hoje eu só consigo pensar nessa maldita caixinha. Se eu estender o braço, alcanço-a. Amanhã. Amanhã. Eu já ouvi dois álbuns, já vi todas as minhas redes sociais vazias. Na volta. Eu já vi, com um misto de tristeza e raiva, a minha curta lista de contatos. Amanhã. Eu abri algumas janelas e vi mensagens minhas não respondidas, de dias ou até semanas atrás. Amanhã. 
   O magnetismo insuportável dentro do meu corpo vai ficando mais forte. Eu deixo todas as coisas para amanhã, e quando eu vou dormir, choro e peço ao Universo para não acordar amanhã.
   A adulta estava indo muito bem em sua mentira bem-intencionada, mas a criança fica impaciente e começa a gritar e chorar na rua. HOJE.
   Eu quase consigo sentir. Já vejo a lâmina deslizando na minha pele, e o sangue escorrendo, quente e lento a princípio e depois muito rápido, pingando no chão. Um corte não é suficiente, eu continuo, outro e outro, e quando acaba, o abismo que existe na minha alma se torna ainda mais profundo.
   Limpo o sangue e fico nervosa porque ele não para de escorrer. Já acabou, chega. Mas ele continua, vai manchar meu lençol.
   As lâminas cumpriram sua função. A caixinha volta pra gaveta — mas nem a adulta e nem a criança saíram ganhando.
   

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

sabiás

   Você ainda estava aqui, as coisas estavam só começando, mas eu já sabia qual era o gosto do seu descaso. Você se demorava. Eu te esperava, mergulhada em ansiedade. 
   A espera crescia e se transformava em angústia, a qual acabava sempre em revolta. Algo dentro de mim se contorcia com violência, querendo me rasgar, se expulsar de mim com a urgência de uma criança prematura. 
   Eu colocava as músicas mais tristes que conheço para tocar, tirava minha camiseta; a pele eriçada e a garganta pulsando loucamente pelo que estava por vir. Então o cabo USB, dobrado em dois, estralava nas minhas costas. Eu me açoitava com a máxima força que um ser humano é capaz de açoitar a si mesmo, uma vez, duas, três, outras tantas, até cair curvada sobre a cama, sobre mim mesma, a dor latente e a respiração ofegante pelo esforço. Carrasca de mim mesma. 
  Depois permanecia inerte por longos minutos, a respiração ficando suave até quase se extinguir. As costas em chamas e as lágrimas fartas entrando nas minhas narinas e boca. Eu me perguntava o que havia de errado comigo... Como eu podia fazer aquilo? Como eu pude desperdiçar a minha vida inteira ferindo o meu próprio corpo para demonstrar o quanto as pessoas estavam me ferindo por dentro?
   Tudo o que eu conheço desse mundo é a dor que ele produz. Respirar me machuca.
   Você riu e disse que eu deveria te chamar quando sentisse vontade de me açoitar, que você o faria por mim.
   Agora, quando eu penso nas suas palavras vazias, eu penso em toda a violência que existe dentro de mim. Penso em te ferir, te fazer sangrar, em me ferir, em me fazer sangrar. Mas a bagunça seria tão grande, que deixo o tumor da sua existência ferver e crescer dentro de mim... Por enquanto. 
   São três horas da manhã. Não há nada para me distrair dessa agonia de existir. Eu fumo um cigarro a cada vez que penso em você. São muitos cigarros. Tomo algumas doses de conhaque para acompanhá-los, para passar o tempo, para conseguir dormir.
   Os sábias paulistanos também estão acordados.
   E você, anda dormindo bem?
   O problema são as pessoas. O ser humano só sabe fazer zona no mundo, na cabeça uns dos outros.
   Eu queria reunir todos os sabiás dessa cidade e propôr uma fuga em bando. Voaríamos bem alto, para muito longe. Para algum lugar em que nada mais existisse — um lugar onde pudéssemos dormir como os membros sadios de nossas espécies.

sábado, 7 de outubro de 2017

lucky strike

   Eu tenho asma, sabe...
   Quando eu era criança, enrolava um pedaço de folha de caderno, acendia e tragava, imitando as pessoas que eu via fumando nos filmes — e ao meu redor. Muita gente fumava nos anos 90, não é como hoje em dia que todo mundo se preocupa tanto.
  Quando eu não acendia, porque o papel queimava muito rápido e a fumaça era literalmente intragável, eu ficava com o cigarro de mentira entre os dedos. Sentava, levava à boca, imaginava minhas tragadas. Fingia que estava em um restaurante chique, com uma taça de vinho francês e um prato de macarronada à minha frente.
   Alguns anos antes, quando eu ainda frequentava a igreja, participei de uma peça de teatro com o Francis, na qual éramos adolescentes rebeldes e sem futuro que fumavam cigarros e falavam palavrões, e outros jovens nos salvavam da perdição com o evangelho. Mas ali, naquela época, fumando cigarros de mentirinha, eu era livre da igreja, era livre da condenação.
   Hoje é um desses dias em que eu me perguntei constantemente o que exatamente eu estou fazendo no mundo. Eu fico vivendo um dia de cada vez, esperando que o próximo seja melhor. Fico imaginando cenários, imaginando pessoas, que fora da minha imaginação são completamente ordinárias, mas dentro, como elas são incríveis...
   Lavei meus cabelos. Estava chovendo e eu pensava que a energia elétrica iria cair, como é de costume no meu bairro, e eu não teria como secá-los. Afora isso, meus pensamentos estavam povoados com dinheiro; com a quantia que preciso para comprar meus cosméticos e pagar meus óculos, colocar crédito no bilhete, comer alguma besteira para não passar vontade, tomar uma cerveja de vez em quando e agora eu tenho que pagar a geladeira também, e pensava como nunca tem dinheiro suficiente para que eu faça o curso que quero fazer — para dar continuidade à minha vida e ganhar dinheiro de verdade para ter planos maiores do que comprar meus cosméticos e pagar meus óculos e contar os centavos para inteirar a condução e pagar a geladeira que ninguém me consultou ao comprar, e que ficam tirando da posição que eu coloquei — para que a porta não bata no móvel que fica em frente a ela. 
   Ir embora da casa da minha avó. Levar todos os meus livros, meus DVDS, meus pôsteres (especialmente o do Adrien Brody), meu computador, meus cosméticos, e deixar o resto. Embora a minha atual cama seja muito boa. Ela sustenta o meu peso sem reclamar, e também não reclama quando há companhia somada ao meu peso. Talvez eu levasse a cama. Eu poderia comprar um guarda-roupas sem gavetas. Eu odeio gavetas. 
   Pois eu estava secando os cabelos, porque a chuva parou e a energia não caiu, ainda bem, e estava  pensando que preciso de aproximadamente três potes de creme de pentear por mês e 4 desodorantes, e duas caixas de lenço de papel para limpar meus óculos, e que tenho creme hidratante o suficiente para alguns meses, e que só vou ter dinheiro no fim do mês, e nem sei quanto. Pensava em tudo isso, e numa certa pessoa, quando, para secar uma área específica do cabelo, eu virei minha cabeça, olhei para a minha estante magnificamente abarrotada e vi o maço de lucky strike, que eu guardei embaixo de um livro do Nick Hornby, como souvenir de uns meses atrás, quando eu fumei por algum tempo feito uma chaminé, mesmo tendo asma. Cigarro me deixa tonta, mas a sensação não é das piores. 
   Eu sempre odiei o cheiro de cigarro aceso, o cheiro de cigarro quando as pessoas estão fumando, mas algo no cheiro de cigarro impregnado nas roupas das pessoas que fumam há muito tempo me causa conforto. Eu gosto de abraçar fumantes. É como... encontrar aquilo que eu posso chamar de lar. Não importa quem seja. Eu posso fechar meus olhos abraçando um fumante e vou me sentir em casa. Se a pessoa estiver usando uma jaqueta jeans, então...
   Desliguei o secador. Eu tentei diversas marcas de cigarro quando comecei a fumar, em março desse ano, quando eu não sabia o que fazer comigo mesma. Fumei primeiro o camel, que comprei solto num bar que só tinha homem e eles ficavam olhando com estranhamento enquanto eu bebia minha cerveja, como se eu estivesse invadindo um espaço sagrado. 
   Em 2009 eu havia tentado fumar derby, que roubei do meu tio e pensei tudo bem eu roubar os cigarros dele, ele roubou minha inocência, e não gostei nada, nada. Minha língua ficou pastosa, eu odiei o gosto, o cheiro e a forma como entrava nos meus pulmões. Acabei apagando-o no meu pulso, e que dor foi aquela!... 
   Então, após tal experiência, comprei apenas 2 cigarros, 50 centavos cada, e pensei que nem iria fumá-los. Contei para o Danillo e ele me disse que eu sou uma otária, com o que eu fui obrigada a concordar. Mas dessa vez foi diferente. Me senti diferente. Gostei de fumar. Me senti adulta. Mesmo assim, queimei meus braços com a brasa, porque eu sou assim. 
   Com a nova reação, comprei um maço de White. É um cigarro muito gostosinho de fumar. Leve, macio, entra com sutileza. Só depois de fumar quase o maço inteiro eu notei que ele estava vencido, e perguntei ao Danillo o que aconteceria se uma pessoa fumasse cigarro vencido, ao que ele me respondeu: "o que acontece com quem toma veneno de rato vencido?"... e eu ri, mas pensando bem, acho que depende da sorte de quem toma o veneno. 
   Acabado este, e não conseguindo achá-lo mais (a bem da verdade, eu só fiquei com preguiça de ir onde havia comprado antes, e fui em outro lugar mais perto), comprei o Minister, que não é um bom cigarro. Ele é forte e fedorento e as tragadas são estranhas. Então eu decidi que não iria mais fumar. Mas numa noite de euforia, agitadíssima e sem saber o que fazer comigo mesma, fumei 5 cigarros, acendendo um no final do outro, até que passei mal, e vale dizer que eu não tenho mais bombinha de salbutamol, então foi um momento delicado.
   Quando o Minister acabou, eu comprei o Winston blue, que também é muito bom. Eu estava sempre jurando que não precisava de cigarro, mas quando um maço acabava e eu ficava sem, batia uma certa angústia... 
   No dia em que eu fui internada, em abril, comprei quatro camel, e senti o quanto são horríveis enquanto os fumava, um atrás do outro, com um coquetel de maracujá enojante para acompanhar, sentada nos degraus do cemitério, me aquecendo para dar início ao show enquanto lia O Lobo da Estepe no escuro e tinha minha cabeça explodida das mais variadas maneiras.
   E no hospital, internada, os pacientes podiam fumar — em algumas horas do dia. Depois do almoço e depois do jantar, mas alguns enfermeiros mais legais deixavam a qualquer hora do dia, especialmente quando eles próprios queriam fumar. Era o momento de socialização, quando todos os loucos se reuniam numa área de fumante toda pichada com palavras incompreensíveis e profecias e versículos e desenhos de pintos e bancos quebrados e cinza de cigarro no ar. Quem não tinha cigarro aparecia para implorar um trago, quem não fumava aparecia só pela conversa, que fatalmente acabava com alguém surtando e saindo na porrada com outro alguém, e umas vezes eu tentava apartar. Noutras eu só assistia, tragando meu cigarro.
   Dentro do hospital, ao menos na ala psiquiátrica, o cigarro era a base de troca. Quem não fumava, mas tinha cigarros, os dava em troca de comida e outras coisas. Eu sempre conseguia cigarros, mesmo quando não tinha vontade de fumar, pois fiz amizade com muitas pessoas. Entre os loucos eu estava no meu lugar. Estava confortável. E devo dizer, que talvez pela medicação na cabeça, três caras me queriam, e para provar a devoção, me ofereciam cigarros, beijos roubados e chocolates contrabandeados.
   Lá nós fumávamos, em geral, eight, que é o cigarro mais nojento e pesado que já fumei na vida. Mas era barato, e os enfermeiros mais legais até levavam um maço para distribuir aos pacientes. Quando recebi alta, eu, que cheguei sem nada além do meu exemplar de O Lobo da Estepe e um desodorante, havia ganhado tantos cigarros, que tinha um maço cheio e outro pela metade; do eight ao winston blue. Deixei para um louco consciente, sob o olhar reprovador da minha avó.
   Fora do hospital, eu disse para mim mesma que estava farta de cigarros, mas comprei um maço de lucky strike, porque é a marca que sempre associei ao requinte dos fumantes abastados. E afinal, é a marca que o Thiago Mattos cita no meu poema preferido de sua autoria (não, da autoria do Paco Bernardo). Mas, devo dizer, deixou a desejar. É um cigarro muito forte para o meu gosto asmático, e não conseguia sequer fumar um inteiro, porque ficava de saco cheio na metade.
   Pensei em dar para alguém, mas quis guardar porque é o lucky strike e o Thiago Mattos o citou no meu poema preferido. 
  Até que hoje eu virei a cabeça enquanto secava os cabelos, e sentindo um vazio incontrolável e não sabendo o que fazer comigo mesma, logo quando eu estava tão empolgada, e nas tantas preocupações financeiras, é claro, eu o tirei de sob o livro do Nick Hornby, peguei um e decidi fumar lá no quintal, porque não quero impregnar meu quarto com cheiro de cigarro novamente.
   Sentei num dos bancos do quintal, olhando para o abacateiro picotado, com ódio e tristeza ao mesmo tempo, e para a ausência de estrelas e ausência da Lua. Hoje eu fui abandonada por todos. E pensei que é justamente nos dias em que preciso de conforto que as pessoas e as coisas me abandonam. Pensei na ala psiquiátrica enquanto apagava o cigarro, que continua muito forte para o meu gosto, mas que fumei até o fim, com certo prazer pelo estrago.
   Subi para o meu quarto. Sentei à minha mesa, respirando alto, pausada e intensamente, sentindo meu rosto ficar vermelho e ardente. Eu fico assim quando me bate uma raiva desmedida. A raiva era das pessoas, mas acima de tudo, de mim mesma. Eu não consigo me libertar! Eu sempre serei o lixo descartado das pessoas! Encarei as cartelas de remédios à minha frente e pensei em tomar todos, especialmente o diazepam. Me imaginei o fazendo. E aquela velha voz interior disse, em alto e bom tom: "a resposta para este pensamento está no seu último post, sua imbecil".
   Me contive. Eu não sei o que fazer comigo mesma. Por dentro eu quero gritar e socar tudo e todos até que as minhas juntas sangrem e minha visão fique embaçada pelo suor. Eu quero destruir o meu quarto e depois a minha casa e depois o abacateiro, porque agora ele está arruinado, e quero destruir o mundo e todos que o habitam, porque estão todos mais arruinados ainda! Todas as coisas são inúteis! Eu queria destruir todo e qualquer traço de sentimento que existe dentro de mim!
   Mas por fora, eu fiquei paralisada, o olhar fixo no nada, só imaginando como seria destruir todos e depois destruir a mim mesma.
   Peguei mais um cigarro, fui para o quintal. Havia passado um tempo, e agora a Lua se mostrava, embora fosse ofuscada por umas nuvens espessas. Um avião passava, lá no alto. Eu odeio aviões, barulho de aviões e sua capacidade de cair em cima das coisas. Mas não liguei. Eu fumei, tragando e olhando para o cigarro queimando, pensando em apagá-lo na minha própria cara. Uma formiga escalou minha perna e eu a joguei para longe. Eu odeio formigas.
  Hoje eu odeio todas as coisas e todas as coisas me odeiam. Pensei no conforto de abraçar fumantes, enquanto fumava meu cigarro, e quando terminei, senti o cheiro, o mesmo cheiro que me causa conforto, nos meus cabelos. Eu queria que alguém sentisse conforto em me abraçar e sentir o cheiro dos meus cabelos. Joguei o cigarro, finalizado, no chão.

sábado, 5 de junho de 2010

descontrolada

FODA-SE! EU QUERO QUE A SOCIEDADE SE FODA!
Ah, se eu falasse tudo o que penso, como seria maravilhoso! Como eu evitaria toda essa dor, todo esse ódio reprimido por pelo menos 5 anos!
Como eu estaria sozinha, sozinha, sozinha e FELIZ! Sem esse peso maldito do mundo sobre meus ombros! Sem essas pessoas medíocres, sem esses seres passivos, ordinários, mesquinhos, otários, trouxas!
E eu, por que sou tão trouxa? Eu pago pra ser trouxa! EU sou a maior otária da face da Terra!
Ficando sempre calada, sempre quieta, engolindo os sapos, o meu orgulho, sem um pingo de vergonha na cara, sem um vestígio de fibra moral nesse corpo obeso!
Ah, mas eu não relei ainda nem um dedo em você! Em nenhum de vocês! Com essa moral baixa, fico me encolhendo quando deveria mesmo gritar e mandar todos vocês irem comer merda!
Dizer que eu não acredito em vocês!
Ou que vocês não merecem nem um pingo da minha alegria, quando essa existe, porque sempre lutaram arduamente para que tudo desse errado na minha vida! E agora eu fico quieta enquanto passo fome? Não! Eu cobro na lata o que é meu por direito!
Vão todos, absolutamente todos às favas! Seus filhos da puta sádicos!
Eu não preciso dar satisfação daquilo que faço, porque faço, como faço, se faço, se não faço, porque sou ou deixo de ser! Eu não preciso me justificar pra ninguém, essa porra de cabeça acima do meu pescoço é meu guia! Essa porra defasada, todo esse cinismo me pertence e eu enfio no meu cu se eu quiser e sumo no mundo sem deixar nem bilhete de despedida!
Vão discutir política numa sala de aula e me deixem em paz! E vocês, cristãos de merda, peguem esse deus inútil e soquem no meio do rabo! Papai Noel é mais eficiente, ele ao menos dá uma justificativa quando não aparece! Suas mulas sem vontade própria!
Vão converter o capeta, porra!


FODAM-SE, MORRAM, SUMAM DA MINHA FRENTE, SUMAM DO PLANETA, SE EXPLODAM POR INTEIRO, VOCÊS TODOS, SEIS BILHÕES E MEIO, VALEM MENOS DO QUE UM MICRÓBIO À BEIRA DA MORTE!