Vagando por essa cidade caótica
Eu vejo você
Nos olhares infantis
No vento cheio de poluição que espanca minha pele
No cheiro dos cigarros acesos
No meu próprio caminhar,
Refletido nas portas espelhadas de edifícios instáveis
Parada no ponto de ônibus
Eu
Sinto você
Quando toco as pérolas pendendo do meu pescoço
E te imagino, me puxando
Para muito perto
Violência, necessidade
O colar partindo
As bolinhas marfim rolando
... Para dentro do esgoto.
Eu não ligo.
--
Sentada à janela
Eu ouço você
Enquanto aproveito o balanço
Para...
...
Meu corpo arqueia
Um gemido rebelde se faz ouvir
Me olham
Minhas bochechas não coram
A dor é iminente
Mas eu acho que todo mundo deveria acordar atordoado
Às quatro horas de uma tarde
Ao som de um poema recitado
Todo mundo deveria se perder,
Uma vez ou outra
Eu me perco na constelação do seu corpo.
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quarta-feira, 12 de setembro de 2018
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
fumaça
As coisas invariavelmente começam como se nada estivesse acontecendo. É simples assim. Você não é ninguém pra mim, e eu não sou ninguém para você. Bate até um desconforto, de tanta mensagem chegando, e do impulso de respondê-las. Te vejo como um todo — um amontoado de características. Um homem como qualquer outro.
Mas aos poucos... O papo passa do morno para o muito quente — a sensação é, ao mesmo tempo, sufocante e deliciosa, como são as melhores coisas. Palavras bem aplicadas, surge a identificação. Você entra na minha cabeça. Forjamos a conexão...
... Talvez seja por hábito, que nós fazemos essas coisas. Continuamos, porque a opção é o vazio. O nada perde espaço, se torna alguma coisa... Dez minutos já não são o suficiente. Eu quero mais, quero todos os seus minutos e todos os seus pensamentos.
Vou isolando suas características, passa a me agradar o que sinto e o que vejo. Pintas, olhos, dedos. Desejo. O jeito que os seus lábios soltam a fumaça...
Sozinha na minha cama, fantasio, ao som de Portishead, sobre o seu cheiro. Sobre sua voz, a textura da sua pele... a temperatura do seu abraço. Fico imaginando o tom do seu gemido. Tudo em você é meio encenado...
Quando noto, você está sob a minha pele. Meu ser anseia por você. A mais inocente lembrança da sua existência eriça todos os meus pelos. O meu coração descompassa, o meu cérebro fica dormente. O seu nome encharca a minha calcinha...
É tudo muito breve, as coisas são intensas. Mas eu descobri, ao longo da vida, que intensidade é algo que não dura...
É brutal, a porrada que atinge o meu estômago. O sentimento é um raio atravessando o meu corpo repetidamente. Meu coração ganha mais um remendo. O buraco no qual venho caindo fica mais profundo.
E de repente, são cinco horas da manhã. Eu fumo meu primeiro cigarro em muitos meses, para me sentir mais perto de você. Olho suas fotos, revivendo as palavras, e penso no absurdo das coisas. Há pouco tempo você nem existia.
O fluido transparente escorre pelas minhas coxas, enquanto você dorme com ela.
Solto a fumaça.
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quinta-feira, 8 de março de 2018
desespero compartilhado
Não tem nada mais triste do que um ser humano quebrado. Um ser humano que perdeu completamente a fé no mundo e em si mesmo. Que não espera nada: nem coisas boas, nem coisas ruins. Só o fim.
Um corpo sem alma, uma casca vazia que trabalha no automático, come no automático, lê no automático, fode no automático, e que não ama, porque o amor não é automático. Amor requer esforços constantes e uma alma inteiramente disposta a compreender e confiar; se entregar sem meios termos.
Todas as coisas passando através destes corpos, como se não houvesse ninguém ali, é triste. O conhecimento não adere, as emoções não adentram. É tudo em vão, um passatempo inútil enquanto a morte não chega.
Às vezes eu fico tão concentrada em salvar pessoas quebradas, que não percebo que eu mesma não funciono. Não existe uma fábrica para mandar ninguém pro conserto. Não existe tutorial na internet. Uma vez quebrado, o ser humano não volta a funcionar como deveria.
Sou egoísta. Tento arrumar estes seres humanos para que eles tenham alguma serventia para mim... para que me lembrem como é sentir. Para que sejam gratos e retribuam o favor. Isso nunca se cumpre. Sigo, também, com olhos e instintos vazios.
Hoje eu percebi que a escrita não serve para nada, e isso me quebrou mais um pouco.
Qualquer um com um pingo de dignidade, sendo impelido a escrever e não podendo evitá-lo, rasgaria as folhas logo em seguida, e as queimaria. Ou, o mais provável, apertaria ctrl + A, del.
Isso porque, quando escrevemos, projetamos uma imagem que deixa de existir em poucas horas. Tudo o que somos agora, evaporará no momento seguinte, porque mesmo no piloto automático, nós não somos estáticos.
Nos contradizemos. Mudamos de ideia. Esquecemos o que dissemos, e principalmente, o que um dia sentimos. E quando alguém pega algo que foi escrito há 2 ou 10 ou 1000 anos atrás, não irá pensar nisso. Esse leitor não vai saber que mudamos, que temos o direito de mudar. Ele vai mentalizar em nós as qualidades e defeitos que uma vez tivemos, e irá nos cobrar um comportamento que não podemos oferecer. Irão esperar consistência, sendo que a natureza humana é inconsistente.
Quando o conheci li todos os seus textos, e ali projetei uma imagem. Parecia uma percepção muito acertada. Hoje, meses depois, lendo novamente tais textos, já não o enxergo naquela imagem. Soa distorcida e plastificada, como um personagem mal escrito. A imagem já se desfez, provavelmente muito antes de eu conhecê-lo.
Ele me perguntou se foi inconsistente, e hoje eu vejo que sim, e que isso não poderia ter sido evitado, porque há registros de todas as coisas que ele nunca mais será. Há palavras e memórias que talvez nem ele lembre de ter vivido.
Eu não sou a mesma de 2 anos atrás, e ainda assim, esperei que ele fosse. E quando leem o que eu escrevi, o que as pessoas esperam que eu seja?
Não sou tão sonhadora quanto já fui. Não sou tão boa e nem tão ingênua. O que eu sou agora? Não importa, porque amanhã já não o serei.
Eu acho que se tivéssemos nos conhecido antes... Quando havia loucura e ingenuidade, e a falta de esperança ainda estava lá na esquina, teríamos nos dado muito bem. Talvez ali tivesse dado certo. Onde você estava, e onde eu estava? Fazíamos coisas similares, mas em lugares diferentes. Mas não nos esbarramos no momento certo. Talvez a pessoa que eu gosto nem sequer existe mais.
Agora nós somos assim, adultos conformados e conscientes de como tudo pode dar errado — e de certa forma esperando que dê, para que as nossas predições se concretizem.
Estamos quebrados demais para funcionar juntos.
Um corpo sem alma, uma casca vazia que trabalha no automático, come no automático, lê no automático, fode no automático, e que não ama, porque o amor não é automático. Amor requer esforços constantes e uma alma inteiramente disposta a compreender e confiar; se entregar sem meios termos.
Todas as coisas passando através destes corpos, como se não houvesse ninguém ali, é triste. O conhecimento não adere, as emoções não adentram. É tudo em vão, um passatempo inútil enquanto a morte não chega.
Às vezes eu fico tão concentrada em salvar pessoas quebradas, que não percebo que eu mesma não funciono. Não existe uma fábrica para mandar ninguém pro conserto. Não existe tutorial na internet. Uma vez quebrado, o ser humano não volta a funcionar como deveria.
Sou egoísta. Tento arrumar estes seres humanos para que eles tenham alguma serventia para mim... para que me lembrem como é sentir. Para que sejam gratos e retribuam o favor. Isso nunca se cumpre. Sigo, também, com olhos e instintos vazios.
Hoje eu percebi que a escrita não serve para nada, e isso me quebrou mais um pouco.
Qualquer um com um pingo de dignidade, sendo impelido a escrever e não podendo evitá-lo, rasgaria as folhas logo em seguida, e as queimaria. Ou, o mais provável, apertaria ctrl + A, del.
Isso porque, quando escrevemos, projetamos uma imagem que deixa de existir em poucas horas. Tudo o que somos agora, evaporará no momento seguinte, porque mesmo no piloto automático, nós não somos estáticos.
Nos contradizemos. Mudamos de ideia. Esquecemos o que dissemos, e principalmente, o que um dia sentimos. E quando alguém pega algo que foi escrito há 2 ou 10 ou 1000 anos atrás, não irá pensar nisso. Esse leitor não vai saber que mudamos, que temos o direito de mudar. Ele vai mentalizar em nós as qualidades e defeitos que uma vez tivemos, e irá nos cobrar um comportamento que não podemos oferecer. Irão esperar consistência, sendo que a natureza humana é inconsistente.
Quando o conheci li todos os seus textos, e ali projetei uma imagem. Parecia uma percepção muito acertada. Hoje, meses depois, lendo novamente tais textos, já não o enxergo naquela imagem. Soa distorcida e plastificada, como um personagem mal escrito. A imagem já se desfez, provavelmente muito antes de eu conhecê-lo.
Ele me perguntou se foi inconsistente, e hoje eu vejo que sim, e que isso não poderia ter sido evitado, porque há registros de todas as coisas que ele nunca mais será. Há palavras e memórias que talvez nem ele lembre de ter vivido.
Eu não sou a mesma de 2 anos atrás, e ainda assim, esperei que ele fosse. E quando leem o que eu escrevi, o que as pessoas esperam que eu seja?
Não sou tão sonhadora quanto já fui. Não sou tão boa e nem tão ingênua. O que eu sou agora? Não importa, porque amanhã já não o serei.
Eu acho que se tivéssemos nos conhecido antes... Quando havia loucura e ingenuidade, e a falta de esperança ainda estava lá na esquina, teríamos nos dado muito bem. Talvez ali tivesse dado certo. Onde você estava, e onde eu estava? Fazíamos coisas similares, mas em lugares diferentes. Mas não nos esbarramos no momento certo. Talvez a pessoa que eu gosto nem sequer existe mais.
Agora nós somos assim, adultos conformados e conscientes de como tudo pode dar errado — e de certa forma esperando que dê, para que as nossas predições se concretizem.
Estamos quebrados demais para funcionar juntos.
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
sonho
Os risos do lado de fora pararam. Surpresa, eu engoli o choro.
A escuridão ainda se fazia presente, e por alguns momentos tudo foi silêncio; até que o ranger da porta se abrindo falou mais alto, e seguido a isso veio o som do canto de pássaros ao longe e o murmúrio do vento circulando com suavidade, como ele faz após uma tempestade; então fui tomada por uma luz forte, de ferir os olhos, que preencheu todos os espaços, iluminou todos os recantos do porão. Por instinto, cobri meu rosto molhado com dedos vacilantes e infantis, e entre o vão deles eu pude ver uma mão saindo do meio de toda aquela claridade. Primeiro eu pensei que a mão estava ali para me ferir, mas ela se aproximou lentamente e parou à minha frente, suspensa, a palma para cima; convidativa.
Hesitei por alguns segundos, mas aceitei o toque daquela mão quente e firme, que apertou meus dedos entre os seus de forma reconfortante. A mão me puxava, mas eu não queria sair ainda, não sabia o que me esperava lá fora. Meu corpo parou abruptamente. Os dedos dele acariciaram o meu pulso, como que para dizer que estava tudo bem, eu já podia sair.
Caminhei passos muito lentos, curtos, em direção a luz, e envelheci 21 anos no momento que coloquei meus pés para fora.
O porão sumiu atrás de mim e meus olhos se acostumaram a claridade. Eu estava em um campo aberto que se estendia por muitas milhas, e a despeito de todo aquele espaço me fazendo sentir pequena, eu não tive medo; não estava sozinha. Era um campo de trigo; eles subiam, serpenteando por nossas pernas, fazendo cócegas, batiam mesmo em nossas cinturas. Apesar da claridade, o sol não era ardente, e a brisa secou meu rosto com o cheiro de coisas vivas. Cheiro de maçã, de gengibre, de laranja, de coentro e dama-da-noite, cheiro de amor. A mão dele não soltava a minha, que já não era vacilante nem infantil.
Caminhamos em silêncio, em direção a uma colina muito verde, a qual subimos. No topo, uma árvore que não era frutífera e tinha galhos raros, deixando a luz do sol emitir seus raios entre um e outro. Sem soltar minha mão nós nos deitamos sob a árvore, raios inconstantes refletiam sobre nossos corpos e a brisa contínua trazia, a cada rajada, novos cheiros que pairavam sobre nós — eu com o corpo virado para cima e ele ao meu lado, me olhando atentamente enquanto eu enchia meus pulmões de ar e depois soltava, lenta e calculadamente, querendo absorver tudo aquilo que por tanto tempo esteve fora do meu alcance. Eu via o céu e todas as nuvens que formavam coisas lindas.
Milimetro por milimetro nossos corpos se aproximaram, sem nunca desatarmos nossas mãos, que suavam uma contra a outra. E pousei minha cabeça sobre seu peito, ouvindo seu coração bater ritmado, sem exageros e sem espantos. Eu não queria queria dormir, tinha medo que tudo estivesse acabado quando eu acordasse, que eu seria levada de volta para o porão. Mas, cansada pelo choro de tantos anos, e embalada pelo vento, pelos cheiros, pelo sol e pelo compasso daquele coração, minhas pálpebras pesaram e cederam. Eu dormi e sonhei. Eu sonhei.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
Salina
Você está certo em tudo o que diz.
Suas palavras não são novas,
Mas fazem todo sentido
Se vomitadas por outra pessoa,
Fariam sentido nenhum
Até me permito chorar diante de tanta coerência
Só que eu choro por tantas palavras,
Com tanta frequência, que fico descreditada
Choro quase sempre, mesmo sem motivos
Às vezes o choro vem numa torrente de palavras
Que saem ao mesmo tempo da minha cabeça
E do meu músculo cardíaco
Às vezes é como um vulcão em erupção,
Mas as lavas são vermelhas, seis litros delas
Tem vezes que vem de forma tão estranha;
Um líquido viscoso e translúcido
Escorrendo pelas minhas pernas
E às vezes é a receita tradicional;
Água, sais minerais, proteínas e gordura.
Fluidos lacrimais.
Essas lágrimas que eu sempre imagino meio amareladas
Mas são mesmo transparentes
(não o suficiente)
Eu queria que você visse as minhas lágrimas
E fizesse algum sentido delas.
Eu tenho esse desejo latente
De que alguém se aproxime de mim
E beije o meu rosto molhado-salgado,
Sorvendo toda a tristeza que escapa pelos meus olhos.
Suas palavras não são novas,
Mas fazem todo sentido
Se vomitadas por outra pessoa,
Fariam sentido nenhum
Até me permito chorar diante de tanta coerência
Só que eu choro por tantas palavras,
Com tanta frequência, que fico descreditada
Choro quase sempre, mesmo sem motivos
Às vezes o choro vem numa torrente de palavras
Que saem ao mesmo tempo da minha cabeça
E do meu músculo cardíaco
Às vezes é como um vulcão em erupção,
Mas as lavas são vermelhas, seis litros delas
Tem vezes que vem de forma tão estranha;
Um líquido viscoso e translúcido
Escorrendo pelas minhas pernas
E às vezes é a receita tradicional;
Água, sais minerais, proteínas e gordura.
Fluidos lacrimais.
Essas lágrimas que eu sempre imagino meio amareladas
Mas são mesmo transparentes
(não o suficiente)
Eu queria que você visse as minhas lágrimas
E fizesse algum sentido delas.
Eu tenho esse desejo latente
De que alguém se aproxime de mim
E beije o meu rosto molhado-salgado,
Sorvendo toda a tristeza que escapa pelos meus olhos.
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