Tem dias que o impulso é
Destruir
Lugares
Coisas
Pessoas
As propriedades
Os Proprietários
O que não tem dono
Destruir o Mundo
Da mesma forma que ele me destruiu
Destruir
-
Me
Eu posso jogar as lâminas fora
Cortar minhas unhas bem curtas
Trocar o álcool por água
Não comprar cigarros
Eu posso me achar bonita
Colocar as melhores roupas
Eu posso sorrir
E gargalhar
Posso inventar novos métodos
E as pessoas ainda vão dizer
Seus olhos são vazios
A Destruição está dentro de mim
Nas relações que eu vivo
No meu jeito errado de amar
Na esperança de ser correspondida
Na bagunça do meu quarto
Lágrimas, olhos vermelhos,
A música tocando
A Doença
Não me deixa
Viver
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quinta-feira, 1 de novembro de 2018
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
sonho
Os risos do lado de fora pararam. Surpresa, eu engoli o choro.
A escuridão ainda se fazia presente, e por alguns momentos tudo foi silêncio; até que o ranger da porta se abrindo falou mais alto, e seguido a isso veio o som do canto de pássaros ao longe e o murmúrio do vento circulando com suavidade, como ele faz após uma tempestade; então fui tomada por uma luz forte, de ferir os olhos, que preencheu todos os espaços, iluminou todos os recantos do porão. Por instinto, cobri meu rosto molhado com dedos vacilantes e infantis, e entre o vão deles eu pude ver uma mão saindo do meio de toda aquela claridade. Primeiro eu pensei que a mão estava ali para me ferir, mas ela se aproximou lentamente e parou à minha frente, suspensa, a palma para cima; convidativa.
Hesitei por alguns segundos, mas aceitei o toque daquela mão quente e firme, que apertou meus dedos entre os seus de forma reconfortante. A mão me puxava, mas eu não queria sair ainda, não sabia o que me esperava lá fora. Meu corpo parou abruptamente. Os dedos dele acariciaram o meu pulso, como que para dizer que estava tudo bem, eu já podia sair.
Caminhei passos muito lentos, curtos, em direção a luz, e envelheci 21 anos no momento que coloquei meus pés para fora.
O porão sumiu atrás de mim e meus olhos se acostumaram a claridade. Eu estava em um campo aberto que se estendia por muitas milhas, e a despeito de todo aquele espaço me fazendo sentir pequena, eu não tive medo; não estava sozinha. Era um campo de trigo; eles subiam, serpenteando por nossas pernas, fazendo cócegas, batiam mesmo em nossas cinturas. Apesar da claridade, o sol não era ardente, e a brisa secou meu rosto com o cheiro de coisas vivas. Cheiro de maçã, de gengibre, de laranja, de coentro e dama-da-noite, cheiro de amor. A mão dele não soltava a minha, que já não era vacilante nem infantil.
Caminhamos em silêncio, em direção a uma colina muito verde, a qual subimos. No topo, uma árvore que não era frutífera e tinha galhos raros, deixando a luz do sol emitir seus raios entre um e outro. Sem soltar minha mão nós nos deitamos sob a árvore, raios inconstantes refletiam sobre nossos corpos e a brisa contínua trazia, a cada rajada, novos cheiros que pairavam sobre nós — eu com o corpo virado para cima e ele ao meu lado, me olhando atentamente enquanto eu enchia meus pulmões de ar e depois soltava, lenta e calculadamente, querendo absorver tudo aquilo que por tanto tempo esteve fora do meu alcance. Eu via o céu e todas as nuvens que formavam coisas lindas.
Milimetro por milimetro nossos corpos se aproximaram, sem nunca desatarmos nossas mãos, que suavam uma contra a outra. E pousei minha cabeça sobre seu peito, ouvindo seu coração bater ritmado, sem exageros e sem espantos. Eu não queria queria dormir, tinha medo que tudo estivesse acabado quando eu acordasse, que eu seria levada de volta para o porão. Mas, cansada pelo choro de tantos anos, e embalada pelo vento, pelos cheiros, pelo sol e pelo compasso daquele coração, minhas pálpebras pesaram e cederam. Eu dormi e sonhei. Eu sonhei.
terça-feira, 3 de outubro de 2017
Não era esse tipo de conversa que o poetinha tinha, deitado nu com seu amigo, mas acho que ele aprovaria
Estávamos em duas pontas opostas do quarto; eu, escondida atrás de um livro, como de costume, e você eu não sei o que fazia para dizimar o seu nervosismo. Agora, atraídos feito ímãs, estamos no centro, nos encarando. Sou tomada por um impulso ou por seus braços, não sei, mas te beijo e você me beija, primeiro muito lentamente e sem saber o que fazer com as mãos, e depois com mais intensidade e meus braços ao redor de você. Assim começa a conversa. Sua barba por fazer arranhando suavemente o meu rosto, meu batom desmanchando na sua boca, seu lábio inferior entre os meus lábios canibais, duas línguas trabalhando sem premeditação, porque essas coisas acontecem de forma natural, mesmo se pensadas muitas vezes antes. Meus óculos ficam embaçados, marcados pela oleosidade natural da sua pele.
Paramos para respirar. Tento limpar as manchas de batom de mim, em vão. A sua boca e o seu rosto também estão ligeiramente vermelhos, pelo batom, ou não, mas eu não ligo, apenas o admiro através das minhas lentes borradas. O livro, que eu ainda segurava durante o ato, tal qual uma criança com seu cobertor da sorte, jaz atrás de você.
A primeira coisa que você despe do meu corpo são os meus óculos. Os coloca, cuidadosamente — pernas fechadas e lentes para cima —, sobre uma mesinha ou uma estante ou o que estiver disponível, não sei em que quarto tudo se dá, mas eles ficam em segurança.
Eu vou ter que chegar muito, muito perto de você para conseguir te enxergar bem. É a miopia. Analiso seu rosto. Passo meus dedos pelos seus olhos cansados, beijo-os, esperando que sempre tenham esse ar inocente.
Nossos corpos colados, suas mãos se precipitam sob a minha saia azul, subindo por minhas pernas com firmeza, e parando por um momento na cinta-liga preta, mas por fim encontrando seu caminho para a calcinha de renda e o que ela esconde. Você fala comigo através dos seus dedos, me toca, mãos de trabalho escravo, me aperta, mostrando que os anos de peão valeram de alguma coisa. E eu reajo com um olhar tímido ou uma mão entre as suas pernas, provavelmente os dois, encontrando ali, no volume pulsante ou na ausência do mesmo, a resposta para a minha dúvida. A saia cai aos meus pés.
Te guio para a cama, não pisamos no livro — por instinto. Você cai sentado, desajeitadamente, e com menos graça ainda me coloco no seu colo, mãos nos seus ombros, e te beijo, me esfregando em você, já sem pudor. Suas mãos encontram os cadarços das minhas botas novas, tiram-as, e às minhas meias. Você gosta de pés, eu tenho dois.
Arranco sua camiseta, não sem antes sentir o seu cheiro, memorizando-o de forma abstrata, e você tira a minha blusa e meu sutiã e lambe os meus piercings; nossas peles roçando uma na outra iniciam seu próprio diálogo.
Deitamos na cama, conversando através de nossos seis sentidos: Visão, Olfato, Paladar, Audição, Tato e Poética.
A cinta-liga vai pelos ares, a calcinha de renda também. Nos lemos em braile, cegos de tesão. Minhas cicatrizes provocam interesse, você se demora nelas, e com saliva eu rabisco mil poemas que sabem que são efêmeros e insistem em sê-lo, na sua pele quente. Desço os lábios cada vez mais, olhando nos seus olhos vez por outra. Seus dedos agora se enroscam nos meus cachos, que também caem sobre o seu corpo, provocando-lhe cócegas.
Abro o botão da sua calça, desço o zíper. Te liberto de uma só vez dela e da sua cueca. Observo, ajoelhada, com uma de suas pernas entre as minhas. Demoro minha mão direita no seu peito, na sua barriga, desço com as unhas longas e pretas para as suas coxas, suas pernas, e delicadamente me curvo, meu rosto acima de você, respirando mais rápido do que o normal, te provocando um arrepio na espinha, e por fim mergulho, te ouvindo com o meu paladar. Sua respiração perde a calma, sons descontrolados escapam por entre os seus lábios; seu diafragma se contrai e expande, apoiado sobre as suas vísceras, enquanto você pousa uma mão no topo da minha cabeça. A sua porra tem gosto de amora.
Deito ao seu lado e compartilho contigo o gosto, beijando sua boca calculadamente. Seus dedos apertam meu rosto e sua boca devora a minha. Aprendemos novos idiomas no corpo um do outro, e mesmo exaustos não desistimos da preleção.
Eu escalo o seu corpo e te insiro dentro de mim, camisinha não, só pele e mãos e olho no olho e suor e peças de dois corpos se encaixando num vai-e-vem ritmado, como um quebra-cabeças dinâmico que faz circular eletricidade, de mim para você, e o oposto também, culminando em uma explosão violenta que estoura fogos de artifício nos nossos cérebros.
Agora a exaustão é paralisante. Anestesiados, dormimos; não agarrados, mas sinto seu braço tocar o meu. Há conforto.
Acordo, não sei quantas horas ou quantos dias depois, deitada de bruços. Algumas partes de mim ainda estão vibrando. Você paira sobre mim, consigo sentir a concentração enquanto a ponta de uma caneta corre nas minhas costas. Você está nu. Suas ideias chegam em cascata, com clareza e energia. E eu sinto, dentro de mim, cada vírgula da sua genialidade.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Cassandra
Como última jura falar-te-ei do meu amor
Que é tanto e por ser tanto até parece blasfêmia.
Como herança para o mundo, deixo a lembrança
De uma moça, que um dia, nua na beira dum lago, avistei
Com o coração em tamborim e lágrimas sinceras nos olhos.
Como despedida deste inferno de amar sem ser correspondido
Eu demarco nesta pedra o nome de doçura:
Cassandra. Eu talho seu nome no infinito
E me desfaço de amarga vida
Nunca nunca sendo ouvido.
Cassandra. Filha da Natureza,
Deusa da Beleza!
Com meu sangue te glorifico!
Dois de setembro de 2010.
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