sábado, 25 de março de 2023

esperança

Há algum tempo, todo meu ser tem pedido por um recomeço. Tantas coisas mudaram na minha vida de uns 2 anos pra cá. Minhas opiniões, minhas vontades, o que eu gosto ou não gosto. Com quem eu caminho. Vários ciclos se encerraram recentemente, mas posso dizer que eles mataram pedaços importantes de mim no processo. Agora eu me vejo um tanto perdida até sobre quem eu sou. Tenho sido inundada por tristeza e auto-dúvida. Sempre tive tristeza em mim, mas no último ano eu cheguei num lugar muito ruim. Num lugar escuro, sufocante e miserável. Sem esperanças. É um tipo de desgaste que ultrapassa o psicológico e afeta o físico. Quem me acompanha sabe que além da depressão, eu estou  fisicamente doente.  Vivo meus dias com dores físicas, enjoo, fraqueza. Meus cabelos caíram. Tenho me sentido derrotada e pouco interessante ou atraente.
Mas no meu pior momento, como se fosse uma janela se abrindo no meio da escuridão, surgiram oportunidades. O universo me trouxe, através do auxílio de algumas pessoas, a chance de realizar coisas que sempre quis realizar e por algum motivo não pude.
Uma dessas coisas foi a Libras, outra é a natação, que comecei hoje graças aos meus irmãos. Como já falei antes, eu fiz natação na minha infância e sempre foi algo que gostei muito, mas era inacessível pra mim! Ter a possibilidade de voltar a nadar nesse momento, me encheu de esperança. Não só essa atividade pode me distrair da tristeza dos meus dias, ela certamente vai me ajudar muito em relação às dores físicas que sinto e até na minha reconstrução de autoconfiança e autoestima.
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Acho impossível fazer natação hoje e não pensar na Cíntia de 10, 11 anos fazendo natação. Foi como dois universos convergindo. Somos a mesma pessoa, mas ao mesmo tempo somos completamente diferentes. Eu e ela estivemos juntas o tempo todo, e nesse reinício, mais do que nunca. Hoje eu não olhei para aquela Cíntia com rancor, mesmo com as muitas lembranças negativas. Eu senti muito orgulho da nossa evolução, apesar das ruínas por onde temos caminhado.
A Cíntia de 10 anos foi colocada na natação para emagrecer. Ela chegava na academia vomitando puro óleo após mais um episódio secreto de compulsão alimentar. Ela tinha vergonha de usar maiô e de se movimentar na frente das pessoas. Ela tomava banho usando maiô e depois se escondia numa cabine para passar o "gel redutor de gordura" que sua mãe lhe deu e depois se vestir. Ela sentia seu corpo queimar, mas aguentava, porque diziam que ela tinha que sofrer para ser "magra e bonita".
A Cíntia de 11 anos olhava para uma moça mais gorda do que ela na turma de natação e morria de medo de ser "tão gorda assim"...!
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A Cíntia de 33 anos é a gorda que a Cíntia de 11 anos tinha medo de se tornar. Ainda assim, ela não voltou para a natação para emagrecer. Essa Cíntia usa maiô e se sente gostosa com ele. A Cíntia de 33 anos curte cada segundo dentro da água, se movimenta sem se preocupar com os olhares dos outros, ela impõe seus limites. Ela tem voz para tirar dúvidas e ter um melhor aproveitamento, ela toma banho nua e se seca na frente de outras mulheres. Ela não se sente mal por ser vista sem roupa.
Talvez a Cíntia de 33 seja a figura adulta que a Cíntia de 11 um dia precisou e não teve...
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Hoje foi incrível, apesar do cansaço. Depois de muitos meses parada numa cama, hoje fiz duas aulas de natação seguidas. Movimentei meu corpo fazendo algo que eu amo. Me senti viva, me senti gente. O movimento do meu corpo junto com o movimento da água me revigorou! Nesse momento eu sinto mais esperança do que tristeza.

E isso é alguma coisa ❤️