domingo, 6 de janeiro de 2019

esquerdomacho II

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Camisa xadrez, como a dele
Fala aveludada, como a dele
Discursos mais furados do que roteiros de filmes de baixo orçamento sobre viagem no tempo, como os dele
A barba mais cuidada do que um bebê recém-nascido, como a dele
O olhar cheio de malícia e vazio de sentimentos, como o dele
A mente transbordando fetiches, a dele

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Pretensamente experiente, como ele
Amante de todas as mulheres, como ele
Adorador de gatinhos, como ele
Poeta marginal, como ele
Doido pra dar pro Lula... como ele

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Cheio de lembranças de ex-namoradas loucas, ele
Agarrado à saia da mãe, ele
Numa relação quase incestuosa
Ele, procurando resolver o Complexo Materno
Nas mulheres que conhece

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Ele que me queria louca
Ele que me queria livre dentro de um cativeiro
Ele que me queria comendo na palma de sua mão
Ele que me queria sangrando
Ele que me queria chorando
Ele que me queria como se eu fosse um brinquedo

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Eu lembro como é se sentir fraca
Frágil
Doente
Impossível de ser amada

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Eu lembro que o odeio
Lembro que ainda o amo

Toda vez que eu vejo alguém como ele

Eu penso em destruição.