terça-feira, 24 de julho de 2018

o papel da pessoa gorda na indústria do entretenimento


Uma das coisas que eu mais curto na vida são séries de TV. Elas de certa forma me salvaram. Cresci assistindo séries, vendo os personagens como parte da minha família e do meu círculo de amigos, e discutindo as maratonas da vida com meus poucos amigos fora do universo fictício. Uma das minhas séries preferidas é "Tal Mãe, Tal Filha" (Gilmore Girls). Foi uma das primeiras séries que eu assisti , graças ao SBT. Foi uma das séries que estabeleceu o meu prazer por séries.   Ao longo dos anos, assisti essa série em diversos estados mentais, e sempre gostei muito do clima "doce" que compreendia na mesma. Por causa da vibezinha de cidade pequena, onde "todo mundo se ajuda", eu sempre idealizei a coisa, ignorando certos absurdos, como as tiradas machistas, homofóbicas e gordofóbicas, o bullying constante contra alguns personagens estereotipados, e também a forma egoísta que as duas protagonistas tratam suas melhores amigas (uma sendo a personagem da Melissa McCarthy, até então gorda, que servia de boba da corte).   Foi um choque rever essa série e pegar tantos momentos repreensíveis que sempre passaram batido, ou que eu mesma encarei como algo engraçado num passado não tão distante.   Por um lado significa que eu cresci. Mas e a indústria do entretenimento, por que nunca cresce? Gilmore Girls ganhou um revival dois anos atrás, e se na época das temporadas originais "podia" se esconder atrás da "ignorância", já que até então não se falava muito de determinados assuntos como GORDOFOBIA, agora não pode mais. Ainda assim, as tiradas gordofóbicas surgiram, e de forma até mais descarada e intensa, com um personagem sendo alvo de zombaria direta das duas personagens principais. O personagem gordo aparece sempre sem rosto. O corpo do ator é usado simplesmente para esculhambação!    Muitas séries de TV são carregadas de comentários e situações gordofóbicas. É algo tão enraizado que não se limita às séries "cômicas". Em todo gênero usam, de forma consistente, o corpo gordo para alívio cômico. Das clássicas "Um Maluco no Pedaço" e "Eu, a Patroa e As Crianças", à novíssima "Insatiable" - cujo trailer me despertou fúria - esses momentos não são raros.    "Bones", por exemplo, que também é uma série que gosto muito, já me fez chorar em momentos que eu estava mais fragilizada. Nunca vou esquecer de uma cena em que o Booth e a Brennan estão interrogando uma suspeita gorda e fazem piadas diretas sobre a mulher, falando basicamente que gordos fedem. Ela é uma assassina, mas O QUE REALMENTE importa para eles é que "gordos fedem"! E claro, são personagens. Mas tem pessoas de verdade interpretando esses personagens. Como esses atores conseguem não se abalar sendo depreciados? Na minha visão, não se pode falar esse tipo de coisa na cara de alguém, mesmo que ela esteja interpretando, sem escancarar como a sociedade enxerga a pessoa gorda. Quando vejo cenas assim, me sinto humilhada pela atriz (ou ator). Quem escreveu essa cena realmente acredita que gordos fedem, e estava se referindo tanto à personagem quanto à atriz, E à cada telespectador que acompanha(va) a série. Sei que EU me senti uma merda, e tive que pausar, chorar, engolir, e por algum motivo, despausar e continuar.   Se é para criar representatividade, não basta colocar pessoas gordas para interpretar personagens (o que raramente fazem, de qualquer forma! Quantos atores gordos têm notoriedade atualmente? Quantos atores gordos EMAGRECERAM recentemente POR PRESSÃO? Não por saúde, não por vontade própria: simplesmente porque cansaram de não conseguir papéis e/ou ser saco de pancada do público e dos tabloides?) - é preciso criar personagens complexos. Modificar essa dinâmica que sempre coloca a pessoa gorda como a "pateta" que está ali para elevar a auto-estima dx protagonista magrx, ou que nos coloca para baixo. Estou de saco cheio de ver enredos, no cinema e na TV, que exploram a infelicidade da pessoa gorda. Que as coloca como frustradas e miseráveis. Que odeiam suas vidas. A mensagem de que as únicas soluções possíveis são emagrecer ou se matar. E estou bem puta com a aceitação social que essas merdas recebem. Com os magros (e não-gordos) que se matam de rir de tais piadas, e TAMBÉM com os gordos que aceitam isso porque acham que merecem, ou porque acreditam que independente do conteúdo, se tem gordo no meio, está sendo criada representatividade. Nós não podemos aceitar migalhas pra sempre!   Eu quero ver gordos interpretando papéis de poder, ou mesmo gordos cujos corpos não são mencionados nem uma vez sequer; que só exercem uma função, e que são colocados da forma mais natural do mundo, nos mais diversos tipos de papéis, como deveria ser na sociedade.   Enquanto outras minorias lutam por essa inclusão - com papéis que explorem além do óbvio, além do estereótipo -, o gordo aceita calado, e muitas vezes até ri de si mesmo. E por que? Porque gordos pensam que precisam ser engraçadinhos para "compensar" algo. Porque a sociedade nos despiu de auto-respeito em cada cena de gordofobia naturalizada e aprovada por todos.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

puta na sociedade e puta na cama (mais puta na sociedade do que na cama)

Aprendi a amar nos cantos / rapidinho pela rua / nem tirava toda a roupa / quase nem ficava nua 🎶


   Sou politicamente vadia. Mesmo antes de aderir a princípios feministas, eu já sabia disso.
   E para mim, ser puta nesse contexto, é fazer exatamente o que eu quero. Ser imune a morais patriarcais e cristãs numa sociedade patriarcal e cristã. 
   A vida inteira eu fiz o que me deu na telha, e sempre fui considerada errada por isso. Não planejei ser assim, só não sei existir de outra forma.
   Sexualmente, eu sou provocadora, mas careta. Eu quero dar muito, e nas mais variadas posições, mas eu quero paixão, quiçá, amor. 
   Faz muito tempo que prometi a mim mesma que nunca mais faria sexo com pessoas que me fizessem sentir vazia e suja. Me senti assim todas as vezes que transei, exceto duas. É algo devastador de se sentir. E não senti isso porque sexo é inevitavelmente sujo e vazio, e sim porque me precipitei com pessoas que nem sequer tentaram entender como eu funciono. Nunca gozei com ninguém (não à toa, não estou sozinha nessa!). Nunca me senti completamente confortável.
   Agora aparece gente achando que só porque eu exponho meu corpo e minha alma, e especialmente, porque sou gorda, eu tenho que ser “consistente” e dar para qualquer um que me queira. Acham que eu tenho que aceitar todo tipo de fetiche, toda espécie de degradação para validar meu "discurso". Passei os últimos dias remoendo isso, inquieta porque querem me tratar feito puta de esquina e ainda rachar a conta do motel. Até que me ocorreu que putas de esquina também têm o direito de dizer NÃO. Que putas de esquina não merecem ser tratadas como a sociedade acha que putas de esquina devem ser tratadas!
   A sociedade quer degradar a mulher para o prazer masculino.
   E eu quero ser puta na cama como sou na sociedade: fazendo exatamente o que eu quero. Sentindo uma parcela de satisfação. QUERO ser puta de UMA só pessoa! Experimentar meu corpo no de outra pessoa, descobrir e ser descoberta, gozar. Amar!
   O meu corpo não é bagunça. Vestida ou pelada, o meu corpo gordo não é um convite para humilhação.
   Não vou aceitar essa lavagem cerebral de que mereço coisas ruins por ser quem eu sou. Nunca mais!