Tem dias que o impulso é
Destruir
Lugares
Coisas
Pessoas
As propriedades
Os Proprietários
O que não tem dono
Destruir o Mundo
Da mesma forma que ele me destruiu
Destruir
-
Me
Eu posso jogar as lâminas fora
Cortar minhas unhas bem curtas
Trocar o álcool por água
Não comprar cigarros
Eu posso me achar bonita
Colocar as melhores roupas
Eu posso sorrir
E gargalhar
Posso inventar novos métodos
E as pessoas ainda vão dizer
Seus olhos são vazios
A Destruição está dentro de mim
Nas relações que eu vivo
No meu jeito errado de amar
Na esperança de ser correspondida
Na bagunça do meu quarto
Lágrimas, olhos vermelhos,
A música tocando
A Doença
Não me deixa
Viver
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quinta-feira, 1 de novembro de 2018
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
urbana
Vagando por essa cidade caótica
Eu vejo você
Nos olhares infantis
No vento cheio de poluição que espanca minha pele
No cheiro dos cigarros acesos
No meu próprio caminhar,
Refletido nas portas espelhadas de edifícios instáveis
Parada no ponto de ônibus
Eu
Sinto você
Quando toco as pérolas pendendo do meu pescoço
E te imagino, me puxando
Para muito perto
Violência, necessidade
O colar partindo
As bolinhas marfim rolando
... Para dentro do esgoto.
Eu não ligo.
--
Sentada à janela
Eu ouço você
Enquanto aproveito o balanço
Para...
...
Meu corpo arqueia
Um gemido rebelde se faz ouvir
Me olham
Minhas bochechas não coram
A dor é iminente
Mas eu acho que todo mundo deveria acordar atordoado
Às quatro horas de uma tarde
Ao som de um poema recitado
Todo mundo deveria se perder,
Uma vez ou outra
Eu me perco na constelação do seu corpo.
Eu vejo você
Nos olhares infantis
No vento cheio de poluição que espanca minha pele
No cheiro dos cigarros acesos
No meu próprio caminhar,
Refletido nas portas espelhadas de edifícios instáveis
Parada no ponto de ônibus
Eu
Sinto você
Quando toco as pérolas pendendo do meu pescoço
E te imagino, me puxando
Para muito perto
Violência, necessidade
O colar partindo
As bolinhas marfim rolando
... Para dentro do esgoto.
Eu não ligo.
--
Sentada à janela
Eu ouço você
Enquanto aproveito o balanço
Para...
...
Meu corpo arqueia
Um gemido rebelde se faz ouvir
Me olham
Minhas bochechas não coram
A dor é iminente
Mas eu acho que todo mundo deveria acordar atordoado
Às quatro horas de uma tarde
Ao som de um poema recitado
Todo mundo deveria se perder,
Uma vez ou outra
Eu me perco na constelação do seu corpo.
quinta-feira, 8 de março de 2018
desespero compartilhado
Não tem nada mais triste do que um ser humano quebrado. Um ser humano que perdeu completamente a fé no mundo e em si mesmo. Que não espera nada: nem coisas boas, nem coisas ruins. Só o fim.
Um corpo sem alma, uma casca vazia que trabalha no automático, come no automático, lê no automático, fode no automático, e que não ama, porque o amor não é automático. Amor requer esforços constantes e uma alma inteiramente disposta a compreender e confiar; se entregar sem meios termos.
Todas as coisas passando através destes corpos, como se não houvesse ninguém ali, é triste. O conhecimento não adere, as emoções não adentram. É tudo em vão, um passatempo inútil enquanto a morte não chega.
Às vezes eu fico tão concentrada em salvar pessoas quebradas, que não percebo que eu mesma não funciono. Não existe uma fábrica para mandar ninguém pro conserto. Não existe tutorial na internet. Uma vez quebrado, o ser humano não volta a funcionar como deveria.
Sou egoísta. Tento arrumar estes seres humanos para que eles tenham alguma serventia para mim... para que me lembrem como é sentir. Para que sejam gratos e retribuam o favor. Isso nunca se cumpre. Sigo, também, com olhos e instintos vazios.
Hoje eu percebi que a escrita não serve para nada, e isso me quebrou mais um pouco.
Qualquer um com um pingo de dignidade, sendo impelido a escrever e não podendo evitá-lo, rasgaria as folhas logo em seguida, e as queimaria. Ou, o mais provável, apertaria ctrl + A, del.
Isso porque, quando escrevemos, projetamos uma imagem que deixa de existir em poucas horas. Tudo o que somos agora, evaporará no momento seguinte, porque mesmo no piloto automático, nós não somos estáticos.
Nos contradizemos. Mudamos de ideia. Esquecemos o que dissemos, e principalmente, o que um dia sentimos. E quando alguém pega algo que foi escrito há 2 ou 10 ou 1000 anos atrás, não irá pensar nisso. Esse leitor não vai saber que mudamos, que temos o direito de mudar. Ele vai mentalizar em nós as qualidades e defeitos que uma vez tivemos, e irá nos cobrar um comportamento que não podemos oferecer. Irão esperar consistência, sendo que a natureza humana é inconsistente.
Quando o conheci li todos os seus textos, e ali projetei uma imagem. Parecia uma percepção muito acertada. Hoje, meses depois, lendo novamente tais textos, já não o enxergo naquela imagem. Soa distorcida e plastificada, como um personagem mal escrito. A imagem já se desfez, provavelmente muito antes de eu conhecê-lo.
Ele me perguntou se foi inconsistente, e hoje eu vejo que sim, e que isso não poderia ter sido evitado, porque há registros de todas as coisas que ele nunca mais será. Há palavras e memórias que talvez nem ele lembre de ter vivido.
Eu não sou a mesma de 2 anos atrás, e ainda assim, esperei que ele fosse. E quando leem o que eu escrevi, o que as pessoas esperam que eu seja?
Não sou tão sonhadora quanto já fui. Não sou tão boa e nem tão ingênua. O que eu sou agora? Não importa, porque amanhã já não o serei.
Eu acho que se tivéssemos nos conhecido antes... Quando havia loucura e ingenuidade, e a falta de esperança ainda estava lá na esquina, teríamos nos dado muito bem. Talvez ali tivesse dado certo. Onde você estava, e onde eu estava? Fazíamos coisas similares, mas em lugares diferentes. Mas não nos esbarramos no momento certo. Talvez a pessoa que eu gosto nem sequer existe mais.
Agora nós somos assim, adultos conformados e conscientes de como tudo pode dar errado — e de certa forma esperando que dê, para que as nossas predições se concretizem.
Estamos quebrados demais para funcionar juntos.
Um corpo sem alma, uma casca vazia que trabalha no automático, come no automático, lê no automático, fode no automático, e que não ama, porque o amor não é automático. Amor requer esforços constantes e uma alma inteiramente disposta a compreender e confiar; se entregar sem meios termos.
Todas as coisas passando através destes corpos, como se não houvesse ninguém ali, é triste. O conhecimento não adere, as emoções não adentram. É tudo em vão, um passatempo inútil enquanto a morte não chega.
Às vezes eu fico tão concentrada em salvar pessoas quebradas, que não percebo que eu mesma não funciono. Não existe uma fábrica para mandar ninguém pro conserto. Não existe tutorial na internet. Uma vez quebrado, o ser humano não volta a funcionar como deveria.
Sou egoísta. Tento arrumar estes seres humanos para que eles tenham alguma serventia para mim... para que me lembrem como é sentir. Para que sejam gratos e retribuam o favor. Isso nunca se cumpre. Sigo, também, com olhos e instintos vazios.
Hoje eu percebi que a escrita não serve para nada, e isso me quebrou mais um pouco.
Qualquer um com um pingo de dignidade, sendo impelido a escrever e não podendo evitá-lo, rasgaria as folhas logo em seguida, e as queimaria. Ou, o mais provável, apertaria ctrl + A, del.
Isso porque, quando escrevemos, projetamos uma imagem que deixa de existir em poucas horas. Tudo o que somos agora, evaporará no momento seguinte, porque mesmo no piloto automático, nós não somos estáticos.
Nos contradizemos. Mudamos de ideia. Esquecemos o que dissemos, e principalmente, o que um dia sentimos. E quando alguém pega algo que foi escrito há 2 ou 10 ou 1000 anos atrás, não irá pensar nisso. Esse leitor não vai saber que mudamos, que temos o direito de mudar. Ele vai mentalizar em nós as qualidades e defeitos que uma vez tivemos, e irá nos cobrar um comportamento que não podemos oferecer. Irão esperar consistência, sendo que a natureza humana é inconsistente.
Quando o conheci li todos os seus textos, e ali projetei uma imagem. Parecia uma percepção muito acertada. Hoje, meses depois, lendo novamente tais textos, já não o enxergo naquela imagem. Soa distorcida e plastificada, como um personagem mal escrito. A imagem já se desfez, provavelmente muito antes de eu conhecê-lo.
Ele me perguntou se foi inconsistente, e hoje eu vejo que sim, e que isso não poderia ter sido evitado, porque há registros de todas as coisas que ele nunca mais será. Há palavras e memórias que talvez nem ele lembre de ter vivido.
Eu não sou a mesma de 2 anos atrás, e ainda assim, esperei que ele fosse. E quando leem o que eu escrevi, o que as pessoas esperam que eu seja?
Não sou tão sonhadora quanto já fui. Não sou tão boa e nem tão ingênua. O que eu sou agora? Não importa, porque amanhã já não o serei.
Eu acho que se tivéssemos nos conhecido antes... Quando havia loucura e ingenuidade, e a falta de esperança ainda estava lá na esquina, teríamos nos dado muito bem. Talvez ali tivesse dado certo. Onde você estava, e onde eu estava? Fazíamos coisas similares, mas em lugares diferentes. Mas não nos esbarramos no momento certo. Talvez a pessoa que eu gosto nem sequer existe mais.
Agora nós somos assim, adultos conformados e conscientes de como tudo pode dar errado — e de certa forma esperando que dê, para que as nossas predições se concretizem.
Estamos quebrados demais para funcionar juntos.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
inteira
Quando eu me dou para as pessoas, elas nunca me querem inteira. Me querem fragmentada. Eu sou um ser humano completo, com desejos e sentimentos que por vezes parecem não caminhar juntos, mas que são os mais sinceros que alguém pode oferecer...
E isso é inaceitável para elas. Querem apenas o que fica entre o bom e o sofrível, quando, ao contrário, eu ofereço excelência. O mundo que existe dentro de mim — esse solo nunca explorado. Eu ofereço mais do que o suficiente. Ofereço uma viagem completa e louca.
Mas não. Querem que eu escolha uma só fantasia e nunca me dispa dela. Ser a irmã ou ser a puta. Ser a amiga ou ser a amante. Ser fofa ou ser safada. Eu quero ser tudo, quero ser plena. Nós não precisamos seguir uma linha reta, e por que você está tão assustado?
Eu acordei e estava contente. Mas o contentamento durou pouco e foi engolido pelo buraco negro que habita minha alma. As lágrimas rolaram sobre o travesseiro ao qual eu durmo agarrada, fingindo que é o seu corpo entre meus braços, seu peito sob a minha cabeça...
O desejo era latente no espaço mais íntimo do meu ser; o desejo de te adorar e ser adorada na mesma proporção; tocar todos os espaços que existem em você e ser tocada como nunca antes... E que ilusão é essa! Desejo que nunca alcanço...
Brinquei com a possibilidade de te ligar, eu diria: "te quero! e você? algum pedaço de você me quer?"
Mas eu quero que você me queira por inteiro também...
Se não te ligo, se não te pergunto e permaneço esperando, é porque sei o que ouviria.
Então eu me atiraria em direção a um penhasco ou de outros braços: dá na mesma.
Eu acordei e estava contente. Mas o contentamento durou pouco e foi engolido pelo buraco negro que habita minha alma. As lágrimas rolaram sobre o travesseiro ao qual eu durmo agarrada, fingindo que é o seu corpo entre meus braços, seu peito sob a minha cabeça...
O desejo era latente no espaço mais íntimo do meu ser; o desejo de te adorar e ser adorada na mesma proporção; tocar todos os espaços que existem em você e ser tocada como nunca antes... E que ilusão é essa! Desejo que nunca alcanço...
Brinquei com a possibilidade de te ligar, eu diria: "te quero! e você? algum pedaço de você me quer?"
Mas eu quero que você me queira por inteiro também...
Se não te ligo, se não te pergunto e permaneço esperando, é porque sei o que ouviria.
Então eu me atiraria em direção a um penhasco ou de outros braços: dá na mesma.
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
na volta a gente compra
Às vezes eu preciso me tratar feito criança. Sabe a típica frase, "na volta a gente compra", que todo adulto diz, porém nunca concretiza?
Na volta eles sempre fazem outro caminho, e o objeto de desejo da criança, lá na outra direção, fica fora de alcance.
O meu objeto de desejo está sempre na minha gaveta, ao alcance das minhas mãos, e particularmente de madrugada, ele grita meu nome.
Olho para a lista de contatos do meu Facebook, mas não tem ninguém disponível, nem online e nem emocionalmente. Penso em entrar no Bate Papo Uol e falar putaria para atrair a atenção de alguém e ter com quem conversar. Ouço música e navego por todas as minhas redes sociais: nenhuma notificação. Adulta, tento distrair a criança do que ela quer.
Mas não distraio nem minha cabeça e nem a minha pele do que elas querem. As lâminas, que estão na gaveta, chamam o meu nome.
Enquanto eu finjo distração, vejo flashes da caixinha dentro da gaveta, das lâminas enroladas no papelzinho protetor. Gosto de lâminas novas, de abrir o papelzinho colado e sentir a cola sendo rompida. E gosto do barulho da lâmina sendo partida ao meio, o estralo que faz entre os meus dedos. Como tudo na vida, o ritual é mais prazeroso do que a ação.
Eu digo: "hoje não, Cíntia. Amanhã". E às vezes eu consigo me enganar, sendo ao mesmo tempo a adulta que tenta pregar a peça, e a criança, que, esperançosa, sempre cai na mentira.
Todos os dias eu me digo "amanhã", e assim eu vou levando até que a tortura psicológica chegue ao limite e eu abra a gaveta, tirando-as lá de dentro, colocando o ritual em prática.
Hoje eu só consigo pensar nessa maldita caixinha. Se eu estender o braço, alcanço-a. Amanhã. Amanhã. Eu já ouvi dois álbuns, já vi todas as minhas redes sociais vazias. Na volta. Eu já vi, com um misto de tristeza e raiva, a minha curta lista de contatos. Amanhã. Eu abri algumas janelas e vi mensagens minhas não respondidas, de dias ou até semanas atrás. Amanhã.
O magnetismo insuportável dentro do meu corpo vai ficando mais forte. Eu deixo todas as coisas para amanhã, e quando eu vou dormir, choro e peço ao Universo para não acordar amanhã.
A adulta estava indo muito bem em sua mentira bem-intencionada, mas a criança fica impaciente e começa a gritar e chorar na rua. HOJE.
Eu quase consigo sentir. Já vejo a lâmina deslizando na minha pele, e o sangue escorrendo, quente e lento a princípio e depois muito rápido, pingando no chão. Um corte não é suficiente, eu continuo, outro e outro, e quando acaba, o abismo que existe na minha alma se torna ainda mais profundo.
Limpo o sangue e fico nervosa porque ele não para de escorrer. Já acabou, chega. Mas ele continua, vai manchar meu lençol.
As lâminas cumpriram sua função. A caixinha volta pra gaveta — mas nem a adulta e nem a criança saíram ganhando.
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
sabiás
Você ainda estava aqui, as coisas estavam só começando, mas eu já sabia qual era o gosto do seu descaso. Você se demorava. Eu te esperava, mergulhada em ansiedade.
A espera crescia e se transformava em angústia, a qual acabava sempre em revolta. Algo dentro de mim se contorcia com violência, querendo me rasgar, se expulsar de mim com a urgência de uma criança prematura.
Eu colocava as músicas mais tristes que conheço para tocar, tirava minha camiseta; a pele eriçada e a garganta pulsando loucamente pelo que estava por vir. Então o cabo USB, dobrado em dois, estralava nas minhas costas. Eu me açoitava com a máxima força que um ser humano é capaz de açoitar a si mesmo, uma vez, duas, três, outras tantas, até cair curvada sobre a cama, sobre mim mesma, a dor latente e a respiração ofegante pelo esforço. Carrasca de mim mesma.
Depois permanecia inerte por longos minutos, a respiração ficando suave até quase se extinguir. As costas em chamas e as lágrimas fartas entrando nas minhas narinas e boca. Eu me perguntava o que havia de errado comigo... Como eu podia fazer aquilo? Como eu pude desperdiçar a minha vida inteira ferindo o meu próprio corpo para demonstrar o quanto as pessoas estavam me ferindo por dentro?
Tudo o que eu conheço desse mundo é a dor que ele produz. Respirar me machuca.
Você riu e disse que eu deveria te chamar quando sentisse vontade de me açoitar, que você o faria por mim.
Agora, quando eu penso nas suas palavras vazias, eu penso em toda a violência que existe dentro de mim. Penso em te ferir, te fazer sangrar, em me ferir, em me fazer sangrar. Mas a bagunça seria tão grande, que deixo o tumor da sua existência ferver e crescer dentro de mim... Por enquanto.
São três horas da manhã. Não há nada para me distrair dessa agonia de existir. Eu fumo um cigarro a cada vez que penso em você. São muitos cigarros. Tomo algumas doses de conhaque para acompanhá-los, para passar o tempo, para conseguir dormir.
Os sábias paulistanos também estão acordados.
E você, anda dormindo bem?
O problema são as pessoas. O ser humano só sabe fazer zona no mundo, na cabeça uns dos outros.
Eu queria reunir todos os sabiás dessa cidade e propôr uma fuga em bando. Voaríamos bem alto, para muito longe. Para algum lugar em que nada mais existisse — um lugar onde pudéssemos dormir como os membros sadios de nossas espécies.
sábado, 7 de outubro de 2017
lucky strike
Eu tenho asma, sabe...
Quando eu era criança, enrolava um pedaço de folha de caderno, acendia e tragava, imitando as pessoas que eu via fumando nos filmes — e ao meu redor. Muita gente fumava nos anos 90, não é como hoje em dia que todo mundo se preocupa tanto.
Quando eu não acendia, porque o papel queimava muito rápido e a fumaça era literalmente intragável, eu ficava com o cigarro de mentira entre os dedos. Sentava, levava à boca, imaginava minhas tragadas. Fingia que estava em um restaurante chique, com uma taça de vinho francês e um prato de macarronada à minha frente.
Alguns anos antes, quando eu ainda frequentava a igreja, participei de uma peça de teatro com o Francis, na qual éramos adolescentes rebeldes e sem futuro que fumavam cigarros e falavam palavrões, e outros jovens nos salvavam da perdição com o evangelho. Mas ali, naquela época, fumando cigarros de mentirinha, eu era livre da igreja, era livre da condenação.
Hoje é um desses dias em que eu me perguntei constantemente o que exatamente eu estou fazendo no mundo. Eu fico vivendo um dia de cada vez, esperando que o próximo seja melhor. Fico imaginando cenários, imaginando pessoas, que fora da minha imaginação são completamente ordinárias, mas dentro, como elas são incríveis...
Lavei meus cabelos. Estava chovendo e eu pensava que a energia elétrica iria cair, como é de costume no meu bairro, e eu não teria como secá-los. Afora isso, meus pensamentos estavam povoados com dinheiro; com a quantia que preciso para comprar meus cosméticos e pagar meus óculos, colocar crédito no bilhete, comer alguma besteira para não passar vontade, tomar uma cerveja de vez em quando e agora eu tenho que pagar a geladeira também, e pensava como nunca tem dinheiro suficiente para que eu faça o curso que quero fazer — para dar continuidade à minha vida e ganhar dinheiro de verdade para ter planos maiores do que comprar meus cosméticos e pagar meus óculos e contar os centavos para inteirar a condução e pagar a geladeira que ninguém me consultou ao comprar, e que ficam tirando da posição que eu coloquei — para que a porta não bata no móvel que fica em frente a ela.
Ir embora da casa da minha avó. Levar todos os meus livros, meus DVDS, meus pôsteres (especialmente o do Adrien Brody), meu computador, meus cosméticos, e deixar o resto. Embora a minha atual cama seja muito boa. Ela sustenta o meu peso sem reclamar, e também não reclama quando há companhia somada ao meu peso. Talvez eu levasse a cama. Eu poderia comprar um guarda-roupas sem gavetas. Eu odeio gavetas.
Pois eu estava secando os cabelos, porque a chuva parou e a energia não caiu, ainda bem, e estava pensando que preciso de aproximadamente três potes de creme de pentear por mês e 4 desodorantes, e duas caixas de lenço de papel para limpar meus óculos, e que tenho creme hidratante o suficiente para alguns meses, e que só vou ter dinheiro no fim do mês, e nem sei quanto. Pensava em tudo isso, e numa certa pessoa, quando, para secar uma área específica do cabelo, eu virei minha cabeça, olhei para a minha estante magnificamente abarrotada e vi o maço de lucky strike, que eu guardei embaixo de um livro do Nick Hornby, como souvenir de uns meses atrás, quando eu fumei por algum tempo feito uma chaminé, mesmo tendo asma. Cigarro me deixa tonta, mas a sensação não é das piores.
Eu sempre odiei o cheiro de cigarro aceso, o cheiro de cigarro quando as pessoas estão fumando, mas algo no cheiro de cigarro impregnado nas roupas das pessoas que fumam há muito tempo me causa conforto. Eu gosto de abraçar fumantes. É como... encontrar aquilo que eu posso chamar de lar. Não importa quem seja. Eu posso fechar meus olhos abraçando um fumante e vou me sentir em casa. Se a pessoa estiver usando uma jaqueta jeans, então...
Desliguei o secador. Eu tentei diversas marcas de cigarro quando comecei a fumar, em março desse ano, quando eu não sabia o que fazer comigo mesma. Fumei primeiro o camel, que comprei solto num bar que só tinha homem e eles ficavam olhando com estranhamento enquanto eu bebia minha cerveja, como se eu estivesse invadindo um espaço sagrado.
Em 2009 eu havia tentado fumar derby, que roubei do meu tio e pensei tudo bem eu roubar os cigarros dele, ele roubou minha inocência, e não gostei nada, nada. Minha língua ficou pastosa, eu odiei o gosto, o cheiro e a forma como entrava nos meus pulmões. Acabei apagando-o no meu pulso, e que dor foi aquela!...
Então, após tal experiência, comprei apenas 2 cigarros, 50 centavos cada, e pensei que nem iria fumá-los. Contei para o Danillo e ele me disse que eu sou uma otária, com o que eu fui obrigada a concordar. Mas dessa vez foi diferente. Me senti diferente. Gostei de fumar. Me senti adulta. Mesmo assim, queimei meus braços com a brasa, porque eu sou assim.
Com a nova reação, comprei um maço de White. É um cigarro muito gostosinho de fumar. Leve, macio, entra com sutileza. Só depois de fumar quase o maço inteiro eu notei que ele estava vencido, e perguntei ao Danillo o que aconteceria se uma pessoa fumasse cigarro vencido, ao que ele me respondeu: "o que acontece com quem toma veneno de rato vencido?"... e eu ri, mas pensando bem, acho que depende da sorte de quem toma o veneno.
Acabado este, e não conseguindo achá-lo mais (a bem da verdade, eu só fiquei com preguiça de ir onde havia comprado antes, e fui em outro lugar mais perto), comprei o Minister, que não é um bom cigarro. Ele é forte e fedorento e as tragadas são estranhas. Então eu decidi que não iria mais fumar. Mas numa noite de euforia, agitadíssima e sem saber o que fazer comigo mesma, fumei 5 cigarros, acendendo um no final do outro, até que passei mal, e vale dizer que eu não tenho mais bombinha de salbutamol, então foi um momento delicado.
Quando o Minister acabou, eu comprei o Winston blue, que também é muito bom. Eu estava sempre jurando que não precisava de cigarro, mas quando um maço acabava e eu ficava sem, batia uma certa angústia...
No dia em que eu fui internada, em abril, comprei quatro camel, e senti o quanto são horríveis enquanto os fumava, um atrás do outro, com um coquetel de maracujá enojante para acompanhar, sentada nos degraus do cemitério, me aquecendo para dar início ao show enquanto lia O Lobo da Estepe no escuro e tinha minha cabeça explodida das mais variadas maneiras.
E no hospital, internada, os pacientes podiam fumar — em algumas horas do dia. Depois do almoço e depois do jantar, mas alguns enfermeiros mais legais deixavam a qualquer hora do dia, especialmente quando eles próprios queriam fumar. Era o momento de socialização, quando todos os loucos se reuniam numa área de fumante toda pichada com palavras incompreensíveis e profecias e versículos e desenhos de pintos e bancos quebrados e cinza de cigarro no ar. Quem não tinha cigarro aparecia para implorar um trago, quem não fumava aparecia só pela conversa, que fatalmente acabava com alguém surtando e saindo na porrada com outro alguém, e umas vezes eu tentava apartar. Noutras eu só assistia, tragando meu cigarro.
Dentro do hospital, ao menos na ala psiquiátrica, o cigarro era a base de troca. Quem não fumava, mas tinha cigarros, os dava em troca de comida e outras coisas. Eu sempre conseguia cigarros, mesmo quando não tinha vontade de fumar, pois fiz amizade com muitas pessoas. Entre os loucos eu estava no meu lugar. Estava confortável. E devo dizer, que talvez pela medicação na cabeça, três caras me queriam, e para provar a devoção, me ofereciam cigarros, beijos roubados e chocolates contrabandeados.
Lá nós fumávamos, em geral, eight, que é o cigarro mais nojento e pesado que já fumei na vida. Mas era barato, e os enfermeiros mais legais até levavam um maço para distribuir aos pacientes. Quando recebi alta, eu, que cheguei sem nada além do meu exemplar de O Lobo da Estepe e um desodorante, havia ganhado tantos cigarros, que tinha um maço cheio e outro pela metade; do eight ao winston blue. Deixei para um louco consciente, sob o olhar reprovador da minha avó.
Fora do hospital, eu disse para mim mesma que estava farta de cigarros, mas comprei um maço de lucky strike, porque é a marca que sempre associei ao requinte dos fumantes abastados. E afinal, é a marca que o Thiago Mattos cita no meu poema preferido de sua autoria (não, da autoria do Paco Bernardo). Mas, devo dizer, deixou a desejar. É um cigarro muito forte para o meu gosto asmático, e não conseguia sequer fumar um inteiro, porque ficava de saco cheio na metade.
Pensei em dar para alguém, mas quis guardar porque é o lucky strike e o Thiago Mattos o citou no meu poema preferido.
Até que hoje eu virei a cabeça enquanto secava os cabelos, e sentindo um vazio incontrolável e não sabendo o que fazer comigo mesma, logo quando eu estava tão empolgada, e nas tantas preocupações financeiras, é claro, eu o tirei de sob o livro do Nick Hornby, peguei um e decidi fumar lá no quintal, porque não quero impregnar meu quarto com cheiro de cigarro novamente.
Sentei num dos bancos do quintal, olhando para o abacateiro picotado, com ódio e tristeza ao mesmo tempo, e para a ausência de estrelas e ausência da Lua. Hoje eu fui abandonada por todos. E pensei que é justamente nos dias em que preciso de conforto que as pessoas e as coisas me abandonam. Pensei na ala psiquiátrica enquanto apagava o cigarro, que continua muito forte para o meu gosto, mas que fumei até o fim, com certo prazer pelo estrago.
Subi para o meu quarto. Sentei à minha mesa, respirando alto, pausada e intensamente, sentindo meu rosto ficar vermelho e ardente. Eu fico assim quando me bate uma raiva desmedida. A raiva era das pessoas, mas acima de tudo, de mim mesma. Eu não consigo me libertar! Eu sempre serei o lixo descartado das pessoas! Encarei as cartelas de remédios à minha frente e pensei em tomar todos, especialmente o diazepam. Me imaginei o fazendo. E aquela velha voz interior disse, em alto e bom tom: "a resposta para este pensamento está no seu último post, sua imbecil".
Me contive. Eu não sei o que fazer comigo mesma. Por dentro eu quero gritar e socar tudo e todos até que as minhas juntas sangrem e minha visão fique embaçada pelo suor. Eu quero destruir o meu quarto e depois a minha casa e depois o abacateiro, porque agora ele está arruinado, e quero destruir o mundo e todos que o habitam, porque estão todos mais arruinados ainda! Todas as coisas são inúteis! Eu queria destruir todo e qualquer traço de sentimento que existe dentro de mim!
Mas por fora, eu fiquei paralisada, o olhar fixo no nada, só imaginando como seria destruir todos e depois destruir a mim mesma.
Peguei mais um cigarro, fui para o quintal. Havia passado um tempo, e agora a Lua se mostrava, embora fosse ofuscada por umas nuvens espessas. Um avião passava, lá no alto. Eu odeio aviões, barulho de aviões e sua capacidade de cair em cima das coisas. Mas não liguei. Eu fumei, tragando e olhando para o cigarro queimando, pensando em apagá-lo na minha própria cara. Uma formiga escalou minha perna e eu a joguei para longe. Eu odeio formigas.
Hoje eu odeio todas as coisas e todas as coisas me odeiam. Pensei no conforto de abraçar fumantes, enquanto fumava meu cigarro, e quando terminei, senti o cheiro, o mesmo cheiro que me causa conforto, nos meus cabelos. Eu queria que alguém sentisse conforto em me abraçar e sentir o cheiro dos meus cabelos. Joguei o cigarro, finalizado, no chão.
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quinta-feira, 7 de abril de 2016
falando com as paredes
A noite passada eu sonhei que alguém me amava.
Sono pra mim é uma coisa complicada. Sempre foi. Sempre vi as pessoas virando e começando a roncar em 5 minutos, enquanto eu rolo na cama por horas, perdendo a paciência e a sanidade. Antigamente me diziam que eu não conseguia dormir porque não fazia nada, e assim sendo, não estava cansada. Eu acatei isso por muitos anos... mas hoje vejo que não, pois atualmente tenho um emprego que me cansa física e mentalmente. Quando chega umas sete da noite eu já estou morrendo de cansaço, como se eu fosse partir ao meio. Mas mesmo que eu deite cedo, só consigo dormir após horas, o cérebro ligado no 220.
Tenho tentado não deixar o celular com o wifi ligado, pois apesar dos meus "amigos" me ignorarem por semanas, se alguém me manda mensagem 2 horas da manhã, justamente quando meu cérebro começa a desacelerar, eu fico elétrica novamente e corro para responder. Mesmo com o wifi desligado tenho dificuldade. Mesmo com calmantes tenho dificuldade.
A pior parte é que eu sempre recorri ao sono como fuga da vida. Eu gosto de ficar semi morta por horas, quanto mais melhor: o sono como negação de vida.
Mas nem isso posso ter. Acordo diversas vezes, qualquer barulho me despertar, e nos últimos dois anos outro mal me aflige com frequência - a paralisia do sono. É uma das sensações mais angustiantes. E quando não fico paralisada, sentindo alguém sentado em cima de mim, respirando em cima de mim, sou acometida por terríveis pesadelos que me fazem acordar gritando e correndo, o coração tão acelerado que me faz tremer dos pés a cabeça.
Às vezes tenho um pesadelo dentro de um pesadelo. Sabe? Quando um pesadelo é pior do que um filme de terror, e você acorda, aliviado, mas de repente o pesadelo continua, como se ele tivesse sido trazido para o mundo real com o seu despertar. Algumas noites eu fico nesse loop, acordando dentro de um pesadelo dentro de um pesadelo dentro de um pesadelo, até pensar que aquilo é real. Que eu estou no inferno.
Sonho com estupro, incesto, insetos gigantes me atacando... E mesmo assim, prefiro enfrentar qualquer um desses pesadelos, a sonhar que alguém me ama. Quando sonho que alguém me ama, acordo e começo a chorar desconsoladamente, e essa sensação de ser amada vai se esvaindo aos pouquinhos. A dor da realidade me consome em semanas de pura dor emocional. Como se eu tivesse sido roubada de algo primordial.
Não entendeu o que eu quis dizer? É como a música do Smiths. A noite passada eu sonhei que alguém me amava. "Sem esperança e sem dano, só mais um alarme falso". Mas há dano, sim. Por isso essa é a música mais fodidamente angustiante que existe no mundo.
Geralmente é um homem. Geralmente não tem rosto. Ele me abraça, me beija, eu consigo sentir, consigo praticamente tocar o amor, que é mútuo. A noite passada era um homem em uma cadeira de rodas. Ele me olhava como se eu fosse a melhor pessoa do mundo, e minha insegurança ficava no caminho, mas eu o amava tanto também... Ainda amo, porque o efeito daquele sentimento não passou. É como se eu tivesse vivido aquele amor e por algum motivo fui separada daquela pessoa, que está em algum canto por aí, sofrendo também. No sonho estávamos fugindo, nos escondendo sempre. Havia sangue, havia confusão. Mas havia o maior dos carinhos, uma espécie de reciprocidade que ainda não vivenciei fora de sonhos.
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Eu não quero mais viver.
Há algum tempo eu não quero mais viver. Nos últimos meses me senti melhor, mas essa verdade sempre vai voltar para socar a minha cara: eu não presto. Eu não sirvo pra nada. Eu sou um peso morto no mundo. Eu poderia sumir agora mesmo e não faria diferença alguma para ninguém.
quinta-feira, 31 de março de 2016
desistente
Eu queria, como quase todo mundo quer, poder passar uma borracha na minha vida e começar do zero. Voltar para o útero da minha mãe. Mas isso seria apenas uma questão de atrasar o inevitável, porque a minha vida é uma zona, e eu sou culpada, sim, mas também tem a influência de tantas pessoas, que as coisas só seria diferentes se elas não existissem.
O que tem de errado comigo? Eu sei que já perguntei isso antes, e que não existe ser humano capaz de me dar uma resposta satisfatória. Mas hoje a questão é médica. O que há de errado comigo... na minha cabeça? Por que as coisas não funcionam como deveriam? Onde posso exigir reparação do que está errado?
Eu pego impulso e sou arremessada longe, mas ainda distante do fim das coisas. E quando o efeito do impulso passa, eu sinto tudo desacelerando. Eu desacelero, desacelero, e não estou mais correndo, começo a andar, e os passos vão ficando mais arrastados, até que eu tropeço. Engatinho, vendo meu destino ao longe, mas tão longe, que é um mero borrão. Sinto minhas forças se esvaindo até que finalmente me deixo cair de cara no chão e ali permaneço. Todas as coisas perdem o brilho muito rápido. Tudo que eu almejo não é o suficiente para manter meu interesse em continuar.
Por que eu sou uma pessoa que nunca termina o que começa? Alguns diriam que sou preguiçosa. Não, eles não diriam. Eles dizem. Mas eu tento. Tento tanto, me obrigo, me esforço, me pressiono, e essa pressão esgota minha última gota de vontade.
Eu queria ser diferente. EU QUERO SER DIFERENTE. Mas eu não consigo.
TOP DEZ COISAS QUE EU COMECEI E NÃO TERMINEI
(por ordem de relevância)
1 - FACULDADE DE FOTOGRAFIA (2012)
2 - FACULDADE DE ARTES VISUAIS (2013)
3 - MEU LIVRO (2009)
4 - CURSO DE INGLÊS (2001. 2003. 2007)
5 - CURSO DE ESPANHOL (2007)
6 - CURSO DE HTML (2005)
7 - CURSO DE VIOLÃO (2007)
8 - NATAÇÃO (2000)
9 - BOXE (2014)
10 - AULAS DE DANÇA (2000)
E um dia, quando eu me matar, qual vai ser a surpresa? Eu sempre desisto de tudo.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
supermassive black hole
Sou movida a orgasmos.
Quando deito na minha cama, dia ou noite, preciso me controlar para não me masturbar por puro hábito; quase sempre falho. E quando os prazeres do orgasmo se dissipam, tudo que sinto é a culpa por todos meus pensamentos impuros. Não por religião, recato, ou pudor imposto pelo 'patriarcado', mas por mim mesma, porque sou uma escrava do meu descontrole.
Uma pessoa que se masturba uma ou duas vezes por semana, que consegue deitar na própria cama sem pensar em masturbação, que não precisa se conter quando dorme na casa de outros e que não tem pensamentos obsessivos durante atividades não sexuais, é uma pessoa saudável. A masturbação, em si, não é o problema. O caso é que eu não sei ser sutil, tudo que adoto para a minha vida vem de forma arrebatadora, compulsiva.
E não é o fato de eu gostar de sexo que me leva a essa compulsão. Pelo contrário, eu nem curto sexo. Nunca tive uma experiência realmente prazerosa fodendo com outra pessoa... Pra ser sincera, nem sequer entendo o sexo. Quero dizer... o que as primeiras pessoas do mundo estavam pensando quando simplesmente decidiram lamber, chupar e enfiar partes de si umas nas outras?
Entendo o apelo literário do sexo. As palavras são excitantes. Mas não. Não. Se sou viciada em masturbação é porque sempre senti um vazio que me atordoa, e que o orgasmo preenche por alguns segundos. É uma questão química, como todas as outras questões do comportamento humano. Uma questão que qualquer outra droga resolveria, só cobraria um preço maior do que sentimento de culpa por gostar da sensação que o orgasmo produz.
Não é minha culpa. (tento me convencer)
Sendo mulher, um orgasmo verdadeiro é algo muito forte. Posso comparar à sensação de uma carreira ou duas de cocaína. Muitas pessoas dizem que o amor produz efeito parecido ao do pó, mas nunca senti, amando, um baque quase elétrico percorrendo e desligando meu cérebro por alguns segundos. Com o amor nunca senti meu corpo todo em êxtase, a própria vida correndo por cada célula.
Mas às vezes deito, e enquanto olho pro teto, procurando não pensar em coisas sujas demais, constato que apesar da satisfação momentânea, não é esse tipo de masturbação que eu queria; não é o que tenho entre as pernas que sofre de carência. O que eu queria era uma masturbação na qual pudesse tocar algo mais íntimo, mais profundo, minha ferida invisível, algo que está localizado ao mesmo tempo em diversos lugares; no meu coração, no meu cérebro, no meu estômago — entre minhas entranhas. Eu queria poder masturbar minha alma.
Aos poucos (mas significativamente) o orgasmo vai ficando insuficiente perto do que eu gostaria de sentir.
O vazio passa a exigir mais. Mais. MAIS.
Eu já tentei deus, Jesus, igreja; já tentei bebida, drogas, álcool, sexo de risco e auto-flagelação; já tentei arte, intelecto, amor, masturbação... Tudo preenche a seu jeito, porém tudo vai ficando pequeno diante do vazio, que lentamente vai ocupando mais espaço. Vira um buraco negro. Um Buraco negro supermaciço que destrói absolutamente tudo ao redor.
domingo, 24 de maio de 2015
Hoje eu sou Alice
OK. Quer ler algo estúpido? Se eu pudesse ter qualquer super-poder por apenas um dia, escolheria uma forma de telepatia ampliada que me permitisse obter respostas para quaisquer perguntas que tivesse em mente. E usaria este poder, possivelmente, em uma só pessoa. A pessoa que tirou, por anos a fio, toda minha auto-estima, dignidade e inocência. É estranho pensar que ele tenha feito tudo isso, quando o vi, se muito, 5 vezes nos últimos 10 anos. É claro que estou falando do meu molestador.
À esta altura do campeonato seria apenas uma questão de entendimento; obviamente nada poderia justificar, mas aqui estou, 25 anos, ainda buscando entender. Entender o que se passa na mente dele, como ele se lembra das coisas, como ele pode agir como se nada tivesse acontecido... como ele pode ter me tornado a louca?
Por uma das voltas da vida, a ex-mulher dele voltou ao seio da família, trazendo a filha deles, que agora tem aproximadamente 13 anos. Da última vez que ela reapareceu em nossas vidas foi em 2007 ou 2008, e naquela época temi muito que ele fosse capaz de fazer algo à própria filha. Na época, ainda frequentadora do Orkut, busquei a opinião de outras mulheres que sofreram abuso sexual, e muitas me apontaram a necessidade de fazer uma denúncia. Agora, eis o problema: tenho 3 primas vivendo no mesmo quintal que ele. Primas que o adoram e não acreditam em mim, pois, é claro, não passaram pelo mesmo que eu. Por mais ridiculamente egoísta que isso soe, ao longo dos anos não pude evitar repetidamente me perguntar "por que eu? por que não uma delas ao invés de mim? porque ele não fez com elas também?"
Vejo fotos da filha dele, não consigo deixar de ver a mim mesma nas fotos. Não consigo deixar de pensar em como ele se sentiria se alguém fizesse o mesmo à filha dele. Ou sentir repulsa ao imaginar ele fazendo...
Não há defesa para essa linha de pensamento, eu sei. Mas é preciso entender minha confusão...
...
Minha própria monstruosidade não me escapa.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
I am finished with you
Quando tudo der errado, quando seus planos de diversão forem por água abaixo, você levar um fora, todo mundo estiver indisponível e a programação da TV estiver excepcionalmente ruim, eu sou a pessoa certa a se procurar. Não importa quanto eu esteja puta por perceber isso, não importa se eu estou indo dormir no exato momento que você me chamar/ligar e pedir pra eu largar tudo que estou fazendo e te atender, afinal, você está se sentindo solitário e deprimido, sim, é isso que irá contar. Eu vou me anular, sempre e sempre, e atender seus desejos, estar lá para você, mesmo sabendo que você nunca estará lá para mim.
É. Não mais.
domingo, 15 de dezembro de 2013
quando isso vai acabar?
Já não sinto cheiro de natal. Meu estômago já não se enche de borboletas com a aproximação da data que sempre foi a melhor do meu ano. Não acredito mais em Papai Noel (ou, acredito o suficiente para desconfiar). Não acho que as coisas vão melhorar. Mesmo que eu me esforçasse para tudo ficar bem novamente, seria uma luta em vão, contra um destino já sacramentado. Não tenho mais ambições que prevaleçam, não quero mais encontrar alguém que possa chamar de meu. Sei como as coisas são. Nos conhecemos, nos beijamos e nos fodemos, e então acabou. É vestir-se e seguir adiante, dentro de uma alma imunda, manchada pelo gozo e pelo orgulho. Às vezes, pelo sangue.
Estou morrendo. Estou me apagando, meus olhos já não têm o brilho de antes, minha vista está sempre turva. Nada me emociona, nada me desafia, levo os dias ligada no automático. Quando vejo, já estou onde deveria estar, sem ter a vaga noção de como cheguei ali.
Às vezes penso em suicídio. Penso, porém, na minha família, em alguns de meus amigos. Não que eu tenha receios por eles, porque de uma forma muito dolorida, sei que se sairiam melhor sem um peso morto arrastando-os para a lama. Não me mato porque sou uma covarde, porque perdi as esperanças de que sairei daqui de forma tão "fácil". Sei como sou vista pelas pessoas. Um ser humano fraco, estúpido e egoísta. E estão todos certos. E eu não me importo. Eu não me importo!
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