sábado, 9 de março de 2019

viver

Penso em suicídio quase todos os dias.
Eu não deveria dizer isso, né? Não é isso que vocês querem que eu diga. Querem que eu diga que sou feliz, querem que eu dê a certeza de que tudo vai ficar bem.
A maioria dos profissionais de saúde mental que passou pela minha cabeça tentou me fazer emagrecer. Estavam sempre conectando minha depressão ao meu corpo, sempre forçando a ideia de que um corpo magro consertaria o problema dentro de mim. E por mais que eu tenha, sim, desejado, por muitos anos, um corpo magro, mesmo naquela época eu já sabia que esse não era o remédio para o que me sufoca.
Meu maior problema, a origem dos meus transtornos, nunca foi meu corpo.
Nunca disse que sou feliz, inclusive, no princípio, rebati tal percepção. Até que desisti de contrariar meus seguidores. As pessoas me dizem "queria ser feliz como você". Eu, que nem acredito em felicidade. O conceito de felicidade da sociedade é uma coisa estática, tão artificial quanto flores de plástico. As pessoas querem SER felizes, independente do que aconteça. Ninguém É feliz. FICAMOS felizes às vezes, dadas as oportunidades. E são tão poucas, numa sociedade doente, opressora, escravizadora...! Eu fico contente às vezes. Sorrio às vezes, gargalho às vezes, gozo sempre, em breves momentos. A alegria, diferente do estado permanente de felicidade que se busca, é efêmera, mas é real.
Eu amo meu corpo. Amá-lo mudou minha relação comigo mesma e com outras pessoas; me dá mais energia e vontade de lutar pela minha vida e pelo mundo. Mas amar meu corpo não mudou a sociedade. Não mudou a forma que sou tratada por ela. O mundo continua girando, e hoje sou mais humana do que antes. Eu sinto as coisas como sempre senti, e mais um pouco, porque agora eu sei quais são os meus direitos: e eles continuam sendo negados.
Eu luto contra meu lado auto-destrutivo, contra os meus impulsos. Luto contra a violência da sociedade, enquanto dizem que eu devo me matar. Sinto a força brutal dessa luta na minha mente, no meu corpo!
Penso em suicídio toda noite que me contorço de solidão, e nos dias que eu não consigo emprego. Penso em suicídio quando lembro todas as coisas sádicas que me fizeram. Penso em suicídio quando acordo de um pesadelo no qual meu corpo é violentado, o coração acelerado e o pânico se espalhando pelo meu sangue. Penso em suicídio entre as paredes mofadas do meu quarto, sentindo o mofo me adoecer. Penso em suicídio quando não tenho o que comer, e nem dinheiro para sair. Penso em suicídio quando olho para as pessoas e vejo que elas não querem mudar, que estão conformadas com o sistema que as aprisiona. Penso em suicídio quando sinto toda a dor que existe no mundo.
A vida é luta. Resistência. Cansaço!
Eu penso em suicídio mas não quero morrer! Penso em suicídio porque não me deixam viver!