quarta-feira, 14 de agosto de 2019

garantia

No começo da minha adolescência eu entrava em muitas brigas na escola. Todos os dias eu saía na mão com alguém para me defender das humilhações que sofria. Nunca batia em alguém só por bater, eu simplesmente exigia respeito com os meus punhos.
Mas tinha um detalhe: eu só batia em meninos. Nunca fui capaz de bater em uma mulher na minha vida.
Tinha uma garota em especial que eu não suportava. Tudo nela me irritava profundamente, me fazia sentir inferior, e ela provavelmente sentia meu complexo de inferioridade, pois frequentemente me provocava e me ridicularizava na frente das pessoas. Eu ia para cima dela, o suficiente para ela se calar e sair correndo para se esconder, mas nunca tive coragem de agredi-la. Um dia ela me xingou, e de forma quase automática eu a ameacei, disse que se ela não calasse a boca eu iria quebrar a cara dela. Nesse dia ela não correu, não se escondeu — pelo contrário, ela me olhou com um sorriso na cara e disse, na frente de toda a sala: "Vai nada! Você sempre diz que vai me bater e não bate. Você não tem coragem. Eu não tenho mais medo de você". Eu fiquei mortificada por alguns momentos, depois senti o ódio e a vergonha correndo pelo meu corpo. Eu não era de nada e ela sabia. Ela sabia que podia pisar em mim o quanto quisesse, pois sairia impune.
Toda vez que eu volto para ele depois da humilhação e do adeus, eu lembro dessa garota e daquele misto de ódio e vergonha tomando conta de mim.