sábado, 3 de novembro de 2018

a bunda

   Muito da imagem que nós, mulheres, temos de nós mesmas, é distorcida. São tantos comentários maldosos, tantas pessoas apontando o que consideram "errado" no nosso corpo, jogando na nossa cara ideais de COMO um corpo feminino DEVE ser, que a nossa visão fica focada em detalhes irrelevantes. Nos torturamos de tal maneira, que fica muito difícil conhecermos a nós mesmas, nos vermos como REALMENTE somos. 
   Nós ficamos nesse círculo vicioso porque somos ensinadas não apenas a odiar nossos próprios corpos, mas os corpos umas das outras, seja por medo ou por desejo de SER IGUAL. Nos ensinam que somos rivais. Até irmãs, ou mãe e filha. 
   Eu cresci com uma visão distorcida de mim mesma, a ponto de não me me reconhecer no espelho, porque fui ensinada a me ver de forma negativa por pessoas igualmente inseguras. 
Minha mãe nunca poupou críticas ao meu corpo, nem quando eu era pré-adolescente, e nem agora. Não faz muito tempo que ela me disse: "você é uma gorda *estranha*. Geralmente gordas têm quadril largo, bundão, peitão. Você não tem peito nem bunda, só barriga". Por muito tempo o meu pensamento foi esse: "sou uma mulher errada, uma gorda errada!". Ela repete este comentário com frequência e naturalidade, e se gaba de ter uma bunda maior do que a minha.
   Quando elogiam minha bunda eu penso no que a minha mãe diz, é inevitável. Me sinto como se estivesse fazendo propaganda enganosa e me vejo reafirmando, automaticamente, que não é tão grande quanto parece. Que é diferente em diferentes ângulos. Que tem marcas, tanto de celulite quanto da cadeira, que tem manchas. 
   Já chega! Nós temos que assimilar o fato de que isso é normal. Ter manchas e celulite é normal. O corpo tem diferentes formas em diferentes ângulos! ISSO é normal! O que não é normal é deixar de transar por medo de alguém ver seu corpo, ou não se olhar no espelho por desprezar a si mesma. O que não é normal é deixar de ir à praia, deixar de se divertir, por medo de ser julgada por características DO CORPO HUMANO. O que não é normal é tentar forçar em si mesma ou em outra mulher a ideia de que só existe felicidade na ponta de um bisturi. 
   Não!
   COM minhas manchas e marcas, eu sou PERFEITA. E você também é!