segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

vida em Marte

    Levei uma porrada na cara e uma bica no estômago. Alguém deu uma marretada no meu peito. David Bowie partiu
   
    E eu nunca terei oportunidade de vê-lo ao vivo (nutria tal esperança).

    Sempre tentei imaginar como as pessoas se sentiram quando grandes personalidades morreram. Já vi muitas pessoas falarem sobre como se sentiram ao descobrir a morte de Kurt Cobain, John Lennon, Renato Russo (um dia, talvez 10 anos atrás, eu estava deitada ouvindo Legião Urbana, e do nada fui atingida pela noção de que Renato Russo estava morto, que ele nunca mais voltaria e que eu nunca o veria. Foi uma sensação louca e angustiante, principalmente porque ele já estava morto há muito tempo quando eu parei para pensar no que aquilo de fato significava). Mas agora acho que sei exatamente como os fãs da época se sentiram. Sei que chega a ser absurdo falar dessa forma sobre uma pessoa que nunca vi pessoalmente, que nem ao menos soube da minha existência, mas está doendo. Tem um buraco na minha alma, que poderá ser remendado com o tempo, mas no momento deixa entrar toda espécies de sentimento ruim. 

    Primeiro veio a incredulidade, depois a confusão. Então veio o choque, o desespero. Não consigo deixar de imaginá-lo dentro de um caixão, sob sete palmos de terra. Chega a ser claustrofóbico. Eu nem sequer sabia que ele estava doente! Sinto como se fosse surgir a qualquer momento uma notícia dizendo que tudo não passou de uma jogada publicitária ou uma manifestação artística, pois o último single lançado foi justamente Lazarus - que na bíblia foi ressuscitado "por deus" (?).
    Sempre imaginei/vi David Bowie como um ser (não um simples homem) acima de coisas mundanas, até mesmo da Morte. Nunca imaginei, nunca nem me ocorreu que ele fosse morrer, muito menos agora, alguns dias após seu aniversário de 69 anos, alguns dias após lançar um excelente álbum. Na minha cabeça ele era uma criatura imortal, um Doctor da vida real, se regenerando de tempos em tempos, e isso explicava, para mim, seu camaleonismo.
    Ele era mais do que um homem. Mais do que um artista, mais do que um símbolo. Ele simplesmente era. Se eu voltar em diversos momentos da minha vida, ali estará o Bowie, de uma maneira sutil ou numa louca obsessão, e sua partida significa mais do que perder a pessoa David Bowie, ou o rock star David Bowie. Significa perder pedaços de mim mesma.
    Sua partida, tão surreal, desestabiliza todas as noções que construí ao longo do tempo, joga um banho de água fria sobre qualquer possibilidade de mágica no mundo.

    Seu corpo pereceu. Mas sua voz, sua energia, sua influência, todas as coisas que ele impulsionou e os paradigmas que ajudou a quebrar permanecerão, resguardando seu espírito.


    Não sou capaz de escrever nada digno nesse momento. Só consigo sentir essa perda terrível, essa angústia e a solidão. O mundo perdeu um de seus bens mais valiosos.


    Rest in Peace, mr Bowie. Nos vemos em Marte.