Pisotearam a pequena Mariposa,
vítima do tempo.
Peguei-a do chão,
coloquei-a na mesa:
examinando-a pude ver
suas asas feridas,
esmagadas e inválidas.
Sem poder voar,
seus olhos já não eram tão brilhantes
e sua alma já não era delirante.
Incentivei-a uma, duas, três vezes:
- Voe, pequena Mariposa!
- Você consegue, voe!
- Vamos, minha querida.
Em seu olhar gigantesco
existia tristeza, melancolia.
Ela caia, eu a levantava.
Ela se encolhia,
em seus gestos reinava a apatia.
O gemido mudo a denunciar-lhe a dor.
- Lute, dona Mariposa!
- Você nasceu voando,
sua liberdade é essa!
Dona Mariposa já não escutava
nem nada falava.
Suas asas não seriam amputadas,
então, mortas, ela as arrastava.
Em dor, pouco a pouco se perdia.
Veio então, a primeira heresia:
Pulou, eu a socorri.
Pulou de novo, eu a acudi.
Mais uma vez a loucura,
barrada por mim.
Foi então que percebi
o que era o certo a se fazer:
Quando pulou novamente
deixei a pequena Mariposa morrer.
Terá sido boa sua vida,
mesmo com tanta dor no final?
Não sei, não sei.
Provavelmente nunca saberei.
Descanse em paz, pequena Mariposa.
Aqui sempre terá alguém a te louvar.
Sorte de hoje: A vida é como um livro: não importa que seja longa, contanto que seja boa