sexta-feira, 29 de maio de 2009

chore

"A senhora chorou quando ele morreu?"
"A Cíntia tem cada pergunta..."

Chorar ou não chorar? Eis a questão!

   Pra mim é natural que uma pessoa chore quando outra morre. A primeira pergunta que me vem em mente com as histórias daqueles mais velhos que eu, é: "você chorou quando tal pessoa morreu?"
   Às vezes eu tenho vontade de morrer só pra saber se alguém choraria por mim. Na minha cabeça, a pessoa mostra seu amor ao chorar no leito de outra. É um pensamento errôneo, pois o amor deve ser demonstrado em vida e não na morte! Que espécie de amor é esse, que só surge quando não pode mais ser vivido?
   Falo com conhecimento de causa, pois minha bisavó, em vida foi muito maltratada pelos filhos e quando morreu todos eles foram chorar as pitangas! Em vida ela gostava de balas, mas nenhum deles dava isso a ela. Em morte, em seu caixão, foram depositados pacotes e mais pacotes de balas. Pra quê? Era um prazer carnal, que provavelmente foi inutilizado com a morte daquela senhorinha a quem realmente amei.
   Não perdi muita gente. Quatro pessoas importantes, algumas que deixou-me impactada, mas pelas quais não derramei nenhuma lágrima. Apenas por Steve eu chorei. Steve, a quem nunca conheci "pessoalmente". Foi também a vez em que mais chorei. E foi a coisa mais estúpida do mundo, porque em vida não demonstrei meu carinho, mas quando ele morreu fiz mil homenagens e chorei mais do que pensei que alguém poderia chorar. Ainda acho a morte deveras complexa. Meu medo é esta complexibilidade. Mas viver também é complexo. Talvez ainda mais! Creio que morrer é isso, morreu, acabou, já era. Viver não. Não, sobreviver é pior. Levantar todo dia sentindo o peso do mundo nas costas. Fazer tudo de forma automática.
   Um dia você acorda meio realista e percebe quão fracassado é. Percebe que os sonhos foram apenas isso, sonhos... e que você se tornou alguém totalmente apático, muito diferente do que o esperado. Então, se não há nada o que fazer, talvez o melhor a ser feito seja buscar a morte. Ou não?
   Talvez não, porque, quando não se tem nada a perder, é indiferente viver ou não. E vai que um dia alguma coisa realmente boa acontece? Meu medo é morrer esperando. Então, a morte novamente. Tudo parece me remeter a ela. Mas, tudo bem. Por hoje sobreviverei, até chegar o dia em que sairei da sobrevivência e viverei de fato. Ou não.
   Bem, se for pra me amar, ame agora. Não espere por amanhã. Se for pra me amar, que seja um amor que traga-me coisas boas, porque de coisas ruins estou farta.
   E, sim, se eu digo que te amo, o ideal é que você corresponda. Mas se isso não for possível, então não diga absolutamente nada. Obrigada.