quarta-feira, 23 de novembro de 2022

natalina

Fazia um bom tempo que eu não me animava a tirar o pó dos meus enfeites preferidos e montar uma árvore de natal.
Essa época costumava ser uma injeção de ânimo para mim, mesmo que isso tivesse suas limitações práticas e viesse com um prazo de validade. Eu amo coisas coloridas, vibrantes, que piscam. Amo rituais. Gostava muito de montar minhas próprias árvores (uma no quarto e uma na sala) e encher a casa de enfeites. Também adorava ficar sentada num banco de praça, observando as pesssoas passando e sendo também iluminadas pelos pisca-piscas pendurados em árvores reais. As pessoas se tornavam parte da decoração. Eu ficava ali por horas, num universo particular, sentindo o cheiro das árvores piscando, observando suas folhas caindo numa dança sob o reflexo colorido das luzinhas. Sentindo a brisa de natal penetrando minha alma...
Nos últimos anos, nada. Eu fiquei só admirando de relance as luzinhas e enfeites das lojas. Nem os espaços públicos tiveram grandes decorações. Faltou ânimo em todos, até nas luzinhas meio queimadas...
Porém, confesso: não era só das decorações que eu gostava. Eu amava todo o conceito de união, amor, compaixão e magia que essa época costumava trazer nas pessoas, mesmo que isso fosse momentâneo e não se estendesse a mim, que quase sempre passo o natal sozinha. Eu amava o cheiro da comida natalina e de roupa nova. Amava a ideia da troca de presentes.
Gostar de natal é apenas mais uma das minhas contradições: uma ateia anticapitalista apaixonada pela IDEIA do natal! Bem, apesar de todas as ideologias forjadas na base da racionalidade e até certa amargura, eu também cresci numa cultura cheia de filmes natalinos falando da magia dessa noite. Também me sinto inundada por esse conceito, mesmo que seja algo tão distante da minha realidade. Não tenho vergonha de admitir que choro assistindo O Natal Encantado da Bela e a Fera. Que gargalho assistindo Esqueceram de Mim.
Eu não tenho nenhuma expectativa de uma noite de natal encantada... me sinto tão longe dos meus sonhos e ideais. Mas esse ano comecei a sentir cheiro de natal já em agosto, como antigamente, e decidi montar uma árvore. E fazer isso foi como resgatar um pedacinho bom de mim mesma.