terça-feira, 7 de março de 2017

Molhada

  Há uma semana ele estava aqui no meu universo particular: no meu quarto, na minha cama, em mim todinha, mas principalmente dentro ..... da minha cabeça
  Nossos narizes roçavam e nossos lábios traçavam beijos nas pintas um do outro, acariciando, sugando, conhecendo, provando com inesperada doçura as coisas pouco óbvias... olhos, testa, canto da boca, queixo, cérebro
  Os meus  lábios, ao mesmo tempo tímidos e selvagens, desceram um pouco. E, por fim, completamente famintos, mais um pouco. 
  Se eu fechar os olhos consigo sentir o cheiro de sabonete, o cheiro de homem, o cheiro da respiração suave no meu rosto, enquanto ele falava sobre o meu cheiro de sorvete de morango, enquanto elogiava minha mente. ... E o cheiro de dama da noite entrando pela janela do meu quarto após ele partir.
  Sete dias atrás eu recebia de forma intensa a espécie de carícia e intimidade que ansiei a vida inteira... Ansiei, sim, criando personagens e vivendo através deles, mas sem esperar, de fato, que aquilo fosse possível na minha vida fora da ficção. 
  Mas e se for ficção? Eu escrevo e rasgo folhas do meu diário, temendo estar inventando partes, temendo nem ser real — um delírio poético, um sonho de minutos contados.
  E agora eu fico aqui, tentando reproduzir na minha pele a vibração que irradiava de sua pele. Percorro meu corpo com minhas próprias mãos, sentindo brevemente a textura das dele; mãos bonitas e firmes que sabem exatamente o que fazer, dedos perfeitos que eu lambi e chupei e quis engolir. Mas não foram os seus dedos o que eu engoli
  ... Engoli suas palavras aveludadas, engoli borboletas e vestígios de desejo que não soube expressar. Seus pelos e os meus cabelos embolados em uma coisa só
  .......................
  Embolados entre os dedos dele, puxando, puxando; a música certa no momento certo; o jorro posterior, me atingindo de forma muito abrupta, mas tão, tão gratificante, e tão, tão apetitosa.

  A solução para a crise hídrica de São Paulo se encontra entre as minhas pernas quando ele diz o meu nome. 


"Ah, Cíntia... Cíntia... A gente está só começando tudo isso"
   .